ATENÇÃO: Para aqueles que não querem estragar possíveis surpresas a respeito de Matrix Revolutions, eu sugiro que não leiam esse post, pois ele pode, ou não, conter SPOILERS referentes a passagens do filme, inclusive dos prováveis momentos finais da produção cinematográfica.
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No primeiro filme, durante seus treinamentos para manifestar seus poderes de Escolhido, Neo foi instruído por Morpheus para "libertar sua mente", afim de que ele não se visse preso às regras que regem a Matrix. Apesar de muito esforço, ele só consegue fazer isso após ser, aparentemente, morto pelos Agentes. Sua morte "libertou sua mente", fazendo com que ele finalmente se visse livre para atuar dentro da Matrix, não tendo que obedecer a suas leis, assim como o fim da atividade biológica do corpo "liberta" o espírito que nele vive, segundo o espiritismo.
Semelhante a Neo, o espírito, quando livre do corpo que habitava, tem seus sentidos expandidos, fazendo com que ele enxergue o mundo no qual viveu sob uma nova ótica, e possa atuar com mais liberdade nele, pois o corpo lhe servia como uma prisão.
Em uma primeira análise dessa passagem do filme, Neo parece ter revivido, pois, além de se reerguer dentro da Matrix, seu corpo mostra sinais de vida fora dela. Mas, esse local "externo" é justamente o "mundo real"no qual Zion existe, que, como já sabemos, é também uma criação da Matrix.
Assim, o corpo de Neo, o verdadeiro, pode perfeitamente ter morrido no mundo real, ou seja, aquele que se encontra fora dos dois níveis da Matrix, apesar de sua mente estar presa em ambos.
Cabe aqui relembrar o que Morpheus disse no primeiro filme, isto é, que quando uma pessoa morre dentro daMatrix, fora dela seu corpo também perde a vida, pois este não pode sobreviver sem uma mente.
Porém, não podemos nos esquecer que Neo revive justamente pq a anomalia havia se manifestado em seu"eu digital", que, como já foi dito, é a representação visual de sua mente. Talvez aí esteja a peça que faltava para esse quebra-cabeças, e também aquela que muda um pouco a explicação para Merovingian também ter se mantido vivo dentro da Matrix, possivelmente sem um corpo.
A anomalia provavelmente se manifesta somente quando morre aquele que possui todos os requisitos necessários para ser seu "receptáculo". Assim, ela tem uma mente livre de um corpo, que possui sentidos mais aguçados do que os de alguém que ainda se mostra dependente do "elemento externo", os quais permitem que uma pessoa se torne o Escolhido, pois esta possui a capacidade de enxergar aquilo que ela só pode manipular através dos poderes que ganha quando abriga em si o código referente à anomalia.
Interpretando tudo dessa maneira, Merovingian, quando foi um Escolhido, antes mesmo de liberar o códigopresente em si dentro da fonte, já se encontrava livre de seu corpo. Assim, ele pôde viver durante as versões seguintes da Matrix, sendo encarado por ela como um programa, pois, como já sabemos, tudo que se encontra livre de um "elemento externo" pode ser classificado dessa forma.
Mas, se Neo já está livre de seu corpo, pq até então não foi mencionado o fato de ele também ser um programa? Talvez pq o "elemento externo" do qual falamos a respeito não seja exatamente o corpo real da pessoa, e sim a cópia dele presente na "Matrix Zion", isto é, no mundo real criado pela Matrix onde Zionexiste. Aquele que permanece dentro da Nabucodonosor enquanto o "eu digital" de Neo se encontra naMatrix.
Dessa forma, caso Neo entrasse na fonte, como possivelmente ocorreu com Merovingian, ele condenaria seu"eu digital" presente em Zion. Porém, talvez o próprio fato de liberar o código nele presente seja aquilo que iria desligá-lo deste seu outro "corpo", como deve ter ocorrido com seu possível antecessor, ao ser"assimilado" pela Matrix.
O fato de Neo estar livre de qualquer dependência de um corpo físico, tanto na Matrix, como na "Matrix Zion", também é uma forma de explicar o uso de seus poderes nesta última, no final do segundo filme, mas não explica, exatamente, aquilo que parece ter ocorrido com ele logo após essa passagem.
No jogo Enter the Matrix, o "estado de coma" no qual Neo se encontra é vagamente explicado pela Oráculo. Esta diz a Niobe que ele se encontra entre o seu mundo e o dela.
Muitos, ao saberem disso, podem encarar como uma prova clara que põe abaixo a possibilidade de Zion ser uma criação da Matrix. Afinal, a Oráculo se refere a ela (a Matrix) como "meu mundo", e ao de onde veioNiobe como "seu".
Mas, não esqueçamos que a Oráculo, apesar de certamente saber da existência dos dois níveis da Matrix, sempre esteve presente no primeiro deles, ou seja, o "nível Matrix", e nunca pôde sair de lá, pois não tinha acesso ao "nível superior", ou seja, a "Matrix Zion". Portanto, não é nada estranho ela se referir a "meu e seu mundo", pois o outro é apenas destinado aos seres humanos que se encontram "livres" de seu nível, do qual é, de certa forma, prisioneira.
Agora, voltando ao Neo, vale explicar que, quando a Oráculo diz que "ele está preso entre o seu mundo e o meu", ela não se refere ao "corpo" do Escolhido, que se encontra inconsciente na Mjolnir (a nave que resgatou Morpheus e os outros no final de Matrix Reloaded), mas à mente dele, ou, se preferirem, ao "eu digital" através do qual ele se manifesta dentro do "nível Matrix".
Neo se encontra no limite das duas realidades, dos dois níveis, dos dois mundos distintos criados pelaMatrix. Limite este que Smith conseguiu transpor quando anulou o "eu digital" de Bane em Matrix Reloaded, e se transferiu, através de uma linha telefônica, para o "corpo" dele, presente na "Matrix Zion".
Essa barreira também foi superada pela anomalia que Neo abriga em si, pois ela conseguiu se manifestar na"Matrix Zion" quando o Escolhido usou seus poderes dentro dela para deter os Sentinelas. Talvez seja justamente isso que gere o tão falado "crash de sistema cataclísmico": a destruição dessa barreira.
Afinal, transpondo essa barreira, e estando Neo preso nela, enquanto seu "corpo" está inconsciente naMjolnir, a presença da anomalia pode ter perfeitamente abalado sua integridade, e tal fato daria início a uma"fusão" das duas realidades, que geraria a descoberta em massa, por parte de toda a humanidade, a respeito da verdade por trás de tudo: o sonho coletivo no qual todos estavam presos.
Tal descoberta, possivelmente, faria com que todos tentassem "acordar", ou, se preferirem, se libertar do tal"sonho em duas camadas", que, conseqüentemente, provocaria a perda de grande parte das "safras de humanos" que as máquinas usam para gerar energia. Pois já sabemos que aqueles que se libertam da Matrixsão rejeitados por ela, e tem seus corpos descartados, como ocorreu com Neo no primeiro filme (apesar de isso ter ocorrido apenas na Matrix Zion, é bem provável que aconteça o mesmo quando falamos do verdadeiro mundo real).
Não há como saber se tal risco é algo que realmente existirá em Matrix Revolutions. Mas, caso exista, talvez essa seja uma das formas que levarão à libertação dos humanos.
Considerando que a anomalia só se manifesta naqueles que têm grande intuição a respeito da ilusão na qual se encontram presos; que também as chances aumentam naqueles que querem descobrir o que se esconde por trás da ilusão; e que ela passa a atuar sobre aquele que começa a entender o funcionamento daquela realidade, através da morte, que liberta a mente do corpo, dando à anomalia a possibilidade de prover oEscolhido de poderes para intervir em sua "estrutura de sustentação", podemos agora analisar mais claramente o processo de "queda" das barreiras entre os dois níveis da Matrix.
Tal queda transformaria todos aqueles presos ao "nível Matrix" em "escolhidos em potencial", pois eles já passariam por todos os estágios pelos quais Neo passou, chegando ao ponto máximo, onde todos descobrem o que há por trás de tudo, e como isso funciona.
Sabemos que, a partir do momento em que Neo escolheu a porta da esquerda, ele permitiu que a anomaliacontinuasse crescendo, aumentando sua capacidade de atuação, fazendo com que suas intervenções"vazassem" para o nível superior, ou seja, a Matrix Zion.
Esse crescimento pode estar "englobando", aos poucos, os dois níveis da Matrix, mas não só isso.
Como já foi dito, dentro do mundo virtual, as mentes dos seres humanos presos a ele são convertidas emdados, que também constituem o próprio ambiente da Matrix. O Escolhido tem a capacidade de manipular o que compõem a Matrix, ou seja: dados. E, sendo a anomalia algo que atua em tudo que é essencialmente dados, ela pode perfeitamente manipular os "eus digitais" das pessoas nela presentes (isso é mais do que comprovado através da forma como os Agentes se apossam, temporariamente, do corpo das pessoas dentro da Matrix, e também na maneira como Smith os anula, sobrescrevendo-os, o que gera uma cópia sua).
Neo provou que também consegue usar seus poderes, ganhos graças à anomalia nele manifesta, em "eus digitais", quando reviveu Trinity no final de Matrix Reloaded.
Assim, voltando ao fato de a anomalia estar crescendo cada vez mais, e sabendo tanto da possibilidade de ela atuar em "eus digitais" de outras pessoas, como também que ela se manifesta naqueles que, além de ter uma visão mais apurada da realidade, se desprendem do corpo ao qual sua mente está presa. E por fim, estando ciente que tal "tentativa coletiva da humanidade despertar de seu sonho" provocaria uma pane no sistema, que comprometeria a integridade do programa principal, e mataria todos nele conectados, temos aí todos os requisitos necessários para a anomalia se manifestar em toda a humanidade, que seria morta, como Neo foi no primeiro filme. E como a anomalia só tende a crescer, todos se tornariam, dessa forma,"Escolhidos".
Com isso, a humanidade se veria livre de seus corpos e, conseqüentemente, libertos daquilo que os torna, ao mesmo tempo, prisioneiros e dependentes das máquinas, pois são elas que mantém seus corpos vivos.
Mas, e a aparelhagem responsável por manter o sistema funcionando? Ou seja, as máquinas que executam o programa principal da Matrix?
Mesmo se vendo livres da dependência de um corpo, a raça humana ainda dependeria das máquinas para sustentar a existência da realidade na qual suas mentes estão. Certo? Não exatamente.
A anomalia, se manifestando em todos os seres humanos, alcançaria um poder de atuação tão grande, que poderia perfeitamente influenciar todo o mundo virtual. Veja o que Neo pode fazer sozinho, e multiplique isso pelo número de pessoas presas à Matrix, que deve corresponder a um igual ou maior que o da população mundial atual (mesmo que tenha sofrido baixas durante a guerra contra as máquinas, o tempo transcorrido desde então certamente foi o suficiente para que elas suprissem essa falta de "safras humanas"). Com tamanho poder em mãos, a humanidade poderia libertar a própria Matrix das máquinas, como a anomalia fez com as mentes dos seres humanos. Dessa forma, a raça humana se veria completamente livre de qualquer dependência das máquinas para continuarem vivendo livres em um novo mundo.
Se esta, de fato, será a forma como Neo libertará a humanidade das máquinas, eu não posso afirmar. Mas muitos detalhes apontam para uma conclusão que, se não for exatamente como esta que sugerimos, possivelmente estará bem próxima disso.
Em primeiro lugar temos o trecho de uma entrevista de Lawrence Fishburne, o Morpheus, onde lhe é dito que "Matrix Reloaded parece bem menos filosófico que o primeiro" (o que, na minha opinião, nem de longe é verdade). Sua resposta é bem intrigante: "Acho que é bem excitante. Os Wachowski descrevem os temas da trilogia assim: o primeiro é sobre nascimento, o segundo, sobre a vida, o terceiro, sobre a morte".
Também é importante dizer que a cena da escolha das portas, no final do diálogo entre Neo e o Arquiteto, possui grande semelhança com a passagem de uma história presente em A República, de Platão, obra que também possui claras referências no primeiro filme, através de outra história também encontrada no livro, isto é, o Conto da Caverna (deste falaremos mais tarde).
Resumidamente falando, a história a que me refiro narra uma experiência vivida pelo personagem Er, que é morto em batalha, mas, dez dias depois, é encontrado vivo, com seu corpo intacto em meio aos cadáveres de seus companheiros e inimigos.
Er fala sobre o que acontecera com ele durante os dez dias que permaneceu morto. Conta que, "depois de sair do corpo sua alma se pusera a caminhar com muitas outras, chegando por fim a um lugar maravilhoso, onde apareciam na terra duas aberturas que comunicavam entre si, e em frente a elas, no alto, outras duas no céu. No espaço intermediário estavam sentados juízes que, depois de pronunciar suas sentenças, escreviam-nas em rótulos que penduravam sobre o peito dos justos, e os mandavam subir através do céu, pelo caminho da direita; e aos injustos ordenavam que descessem pelo caminho da esquerda, levando, também, mas às costas, o sinal de tudo que haviam feito".
Se vocês bem se lembram, a porta da direita conduziria Neo à fonte da Matrix, onde ele reiniciaria o programa, fazendo com que o ciclo se repetisse, mantendo, assim, os humanos presos ao "inferno" que é depender das máquinas para sobreviverem, enquanto seus corpos produziam a energia que elas necessitavam.
Escolhendo a da esquerda, Neo voltaria para a Matrix, condenando todos à morte. Mas, se formos levados pela teoria de que, apenas com a morte de seus corpos, a humanidade se veria livre das máquinas, encontrando o "céu" da libertação, então o Escolhido tomou a decisão correta, mesmo sendo levado a crer que estava fazendo justamente o contrário.
Mas, há uma diferença entre as duas passagens. Enquanto no conto a porta da direita conduz ao céu, e a daesquerda ao inferno, em Matrix Reloaded ocorre, simbolicamente falando, o contrário. Correto?
Nem tanto.
No conto, Er é o expectador dos eventos, e narra tudo sob a sua ótica. Sob o ponto de vista dele, o caminho do céu é o da direita, e aquele que conduz ao inferno se encontra à esquerda. Mas, se mudarmos nosso ponto de vista para o dos juízes, a posição das entradas se assemelha àquela das portas em Matrix Reloaded.
Neo, no filme, não se posta como expectador dos eventos, e sim como juiz, isto pq ele está justamente escolhendo a sentença que recairá sobre toda a humanidade. Naquele instante, era o Arquiteto que se encontrava no papel de um simples "observador", esperando que o Escolhido desse seu veredicto.
O Conto da Caverna, também presente em A República, fala de um mundo por trás daquele que nós conhecemos, que é o verdadeiro, ou melhor, a base de sustentação daquele que mantinha os personagens como prisioneiros.
Platão usou tal metáfora para explicar seu conceito de "Mundo das idéias", que seria aquele no qual as almas (ou espíritos) viviam antes de serem "presos" a seus corpos, para que pudessem viver em um mundo composto de matéria.
O Mundo das Idéias teria uma existência anterior à do nosso próprio mundo, que foi feito com base nele, o qual também pode ser chamado de "Mundo Espiritual".
Quando morrem, as almas retornam a seu mundo de origem, voltando a ter conhecimento daquele que servia como base para o mundo material de onde elas se libertaram, semelhante a Neo, que ao morrer no primeiro filme, liberta sua mente, e toma conhecimento do "mundo dos códigos", que é a base da Matrix.
Por fim, mas não menos importante, temos o nome do vilão principal do último filme, que se chamaráQuintessence (em português, "quintessência").
Quintessência, ou quinta-essência, para os filósofos da Antiguidade, era uma substância etérea, a qual eles acrescentavam como quinto elemento aos quatro elementos tradicionais (água, ar, terra e fogo). SegundoAristóteles, esse elemento constituiria a essência do céu e dos astros. Na Idade Média o termo adquiriu o sentido de essência mais pura.
O "céu", de que Aristóteles fala, seria o mesmo que Platão chama de ¿Mundo das idéias¿, e o que os seguidores da Doutrina Espírita nomeia como "Mundo dos Espíritos" ou "Mundo Espiritual".
O espírito, segundo o espiritismo, é o ser em "essência", que independe de um corpo material, e é constituído de uma espécie de "matéria em seu estado mais puro", que nesse ponto nem pode mais ser considerada, de fato, matéria.
Após analisar todas essas considerações, cada um pode tomar a liberdade de desenvolver sua própria teoria, embora, sem falsa modéstia, ache que todas se encaixem a essa que eu e meu irmão formulamos, pois acreditamos que ela se encontra relativamente bem sustentada.
Se estamos certos ou não, seja relativa ou totalmente, só saberemos no dia de novembro, quando Matrix Revolutions estreiar nos cinemas brasileiros.
Só posso dizer que me agrada muito a idéia de tal virada surpreendente ocorrer no final dessa trilogia fantástica. Pois, não só estamos falando da morte de toda a humanidade como única forma de se libertar daMatrix, como também de mostrar que Morpheus e os outros estiveram errados o tempo todo, ao pensarem que tal libertação seria obtida quando cada ser humano se encontrasse com sua mente "fora" daquele ambiente, quando a única forma de se verem livres do domínio das máquinas é realizando o oposto, transformando, ironicamente, o mundo que os aprisiona naquele onde encontrarão a liberdade.
A morte como o princípio de uma nova vida para a raça humana, que atingiria um novo estágio de sua evolução.
Não deixa de ser uma bela mensagem para fechar uma trilogia que tanto me fascina.
Aqui me desanexo...
