terça-feira, 25 de abril de 2006

[REFLEXÕES] O Mergulho Diário

'Take a Shower' de Stefanie Greuel

"Take a Shower" de Stefanie Greuel

Fim de um longo e cansativo dia de trabalho. Você chega em casa e não vê a hora de ir pro banheiro, se livrar daquelas roupas sujas e suadas, abrir o chuveiro com a água quentinha (quando no inverno), ou gelada (no verão), e se entregar àquela chuva instantânea e particular.

Deseja que cada gota não caia em vão, mas com o único e nobre objetivo de acariciar sua pele cansada e endurecida pelo dia corrido. Relaxá-lo, a fim de que tenha uma tranqüila e prazerosa noite de descanso, que contraste com o novo amanhã que o espera, cheio de atividades a serem feitas.

Mesmo durando apenas alguns minutos, aquele mergulho em gotas tão gentis, dedicadas em seu esforço de nos dar alguns instantes de desligamento total, nos transporta para um mundo distante daquele que abandonamos quando nos despimos de nossa armadura de batalha, e nos livramos de nossas máscaras de atuação. Um mundo a um passo de distância, acessível por meio do simples ato de adentrar o box do chuveiro, e permitir que a água caia sobre nós.

A água é nosso feixe de teletransporte, a porta de entrada para um mundo particular, onde por poucos mas infinitos minutos podemos ser tudo, pensar em tudo, criar tudo, ou simplesmente não ser, nem pensar, e tão pouco criar, mas meramente tirar férias instantâneas de nós mesmos, de nossos problemas, dos outros, e dos problemas deles.

Tiramos férias do mundo naquele simples feixe de água massageadora, férias de tudo, e aproveitamos um nada que nos restaura as energias. Um nada que não nos consome. Mas também corremos o risco de entrar em contato com um tudo que pode vir em turbilhões, ou em pequenos e bem organizados pacotes.

Mundos povoados por seres da imaginação. Idéias que guardam outras idéias. Caminhos ocultos que só se permitem ser enxergados quando nos esquecemos de todos os outros, de tudo e de todos.

E quando desligamos o feixe aquático de transporte dimensional instantâneo, com um simples girar de torneira, e voltamos para o mundo da ação, podemos até trazer conosco muita coisa. Muitas idéias, muitos caminhos, muitos mundos e seres, muitos "eus" e "outros", e até mesmo muitos "nós".

Mas também há a opção de não trazer nada. De nos contentar apenas com o breve cochilo que tiramos durante toda a viagem.

Podemos não apreciar a paisagem, voltando pra casa satisfeitos com mais um raro momento de descanso, de não-agir, neste mundo que nos força a seguir seu fluxo, ou simplesmente nadar até a margem e ficar lá deitado, esperando o rio terminar seu fluir eterno.

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Comentários:

Em que sentido? E, quem é você? A mesma "A" do comentário abaixo?!

Wolv | 16-05-2006 22:45:21
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Gostoso, tu és virg...????

A | Email | Homepage | 16-05-2006 14:41:12
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bom texto meu velho! gostei muito. é real esse negócio q a gente de vez em quando saí com muitas boas idéias do chueiro.. comigo sempre acontece. abraço!

Augusto | Email | Homepage | 14-05-2006 14:52:29
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Vocês dois (irmãos) são interessantes! No entanto prefiro a ti, apesar dele sempre elencar afinidades, identifico-me mais contigo... grande abraço!

A | Email | 13-05-2006 12:16:26

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"É bom,ás vezes se perder, sem ter porquê, sem ter razão, É um dom, saber envaidecer, Por si, saber mudar de TOM"

Maria | 07-05-2006 13:07:11
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Só fico imaginando vc nu... lost

enila | Email | 29-04-2006 11:42:22
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Acho que não é o banho que me deixa realizada depois do trabalho, mas realmente a soneca que eu tiro no ônibus na volta... levo ate uma simples almofadinha heheheh

tab | Email | Homepage | 27-04-2006 12:15:23

sábado, 15 de abril de 2006

[CONTO] Cacos

'Of a Broken Man' de Lucas Exhibit

Tudo começou com uma decepção. Uma grande decepção. Bom, pra ser bastante preciso, uma grande e imperdoável decepção consigo mesmo.

Tinha nojo de sua própria imagem desde que fez aquilo. Era tamanho seu sentimento de repulsa por si mesmo que a primeira atitude tomada após aquele dia foi quebrar todos os espelhos da casa, não com um martelo ou porrete, mas com os próprios punhos. Nem se deu ao trabalho de tratar dos cortes, simplesmente se permitiu pegar todos os cacos espalhados e levá-los para a área ao redor da piscina.

Era muito vaidoso antes do que fez. Embora não parecesse agora, ele gostava de espelhos, ou mais particularmente de seu reflexo neles. Também gostava da piscina, especialmente quando cheia de convidadas, todas completamente nuas, ali só pra ele.

Mas agora dos espelhos só restavam os cacos jogados em um canto da área ao redor da piscina. E esta não estava cheia nem de convidadas nuas, e tão pouco de água. Fez questão de esvaziá-la completamente, tomando o cuidado de entrar pessoalmente naquele enorme buraco arredondado, forrado por enormes placas de mármore esverdeado, e enxugar com uma toalha cada pequena poça, ou uma mera gota que encontrasse ali. O que seria feito naquele lugar não permitia a presença de um elemento cuja natureza era pura.

O passo seguinte durou semanas. Em condições normais duraria tranquilamente meses, mas ele era alguém de muito status, e acima de tudo muito dinheiro. Portanto não foi difícil conseguir as garrafas.

Não eram garrafas normais, o que fazia parte de sua exigência, mas sim aquelas cujo conteúdo foi bebido por seres cheios de arrogância, ganância, ambição desmedida, intolerância e ódio. Ah, como haviam as tocadas por este último! Ódio pelos outros, pela vida, por si mesmo e por Deus. Ódio, ódio, ódio!

Passou dias quebrando todas, uma a uma, como fora instruído, até sobrarem cacos pequenos. Os cortes aumentavam em suas mãos. O sangue escorria até coagular e se secar. As feridas começaram a inflamar depois de um tempo. Mas logo a dor não passou de um incômodo a mais, como sua própria solidão, e sua quase insuportável convivência consigo mesmo, e com o que fez.

Seis dias depois todas estavam quebradas. Passou o dia seguinte inteiro jogando os cacos dentro da piscina. Quando terminou já estava anoitecendo. Olhou, por fim, para o canto da área ao redor da piscina e lá estavam os "restos mortais" dos espelhos que quebrara há semanas atrás.

Pegou cada punhado de cacos espelhados com as mãos nuas, ensangüentadas e feridas, e fez questão de arremessá-los ruidosamente no centro da piscina, sobre os restos das garrafas quebradas.

Olhou para a obra que lhe custou semanas pra concluir. A piscina estava cheia de cacos até a boca. Uma obra monumental, mas não totalmente completa. Faltava o toque final, o elemento principal.

Despojou-se de todas as vestes, olhou para as mãos e braços cortados, cheios de sangue escorrido e seco, e caminhou até a caixa. Trouxera do quarto no terceiro andar, pouco antes de começar o trabalho de despejar os cacos dentro da piscina. Enfim chegara a tão esperada hora de usar seu conteúdo.

Abriu-a, e dentro encontrou seus instrumentos finais: o punhal e o frasco.

O punhal possuía um cabo de metal dourado, muito desgastado pelo tempo. Ele inteiro era ornamentado por gravuras de significado desconhecido, o que era pra ele, naquela altura, um detalhe sem importância.

O frasco era quadrado, como um pote de nanquim. Seu líquido era de um verde escuro, quase negro.

Pegou o frasco e o abriu. Pegou o punhal e o embebeu com todo o líquido verde escuro.

Caminhou calmamente para a beirada da piscina, ergueu o punhal sobre sua cabeça, segurando-o com as duas mãos, e com um estampido baixo e seco, cravou-lhe no coração.

O sangue começou a jorrar quase que no mesmo instante, misturando-se com o líquido verde-escuro. Quando sentiu cada músculo, órgão e osso de seu corpo queimarem, ele sabia que era a hora de executar o ato final, a última pincelada.

Pulou sobre os cacos na piscina, arrastou-se até seu centro, e começou a usar a força renovada que invadiu seu corpo para cavar com as mãos a superfície de vidro, sem se importar com a dor dos cortes que se abriam.

Os cacos entravam nas unhas, nos dedos, alguns perfuravam até o osso. O sangue não parava de jorrar, mas ele continuou cavando, até começar a se enterrar sob a cova de cacos que conseguiu abrir.

Enterrou-se até o pescoço e começou uma dança obscena em meio aos pedaços de vidro, que perfuravam cada centímetro de seu corpo. Sentia-os entrando nos pés, nas coxas, nas nádegas, no pênis e nos testículos. Mas sua vontade de completar a obra era maior.

Uma mancha crescente de sangue começou a se espalhar pelos cacos no centro da piscina, e ao redor de seu corpo. Era a hora.

Gritou: "Que nasça!!!"

E, tomando impulso, arremessou o rosto contra os cacos dos espelhos bem na sua frente, esfregando-o neles.

Não se permitiu nem um gemido de dor quando sentiu os cacos perfurarem seus olhos, e desfigurarem aos poucos seu rosto, que já fora tão admirado pelas mulheres.

Quando finalmente parou, seguiu-se um silêncio, quebrado em seguida por uma explosão. Muitos cacos foram arremessados pra fora da piscina.

De dentro dela surgiu um calombo de restos de vidro, que não demorou muito para se revelar uma cabeça, pois abaixo dela havia ombros. Os braços emergiram logo depois, e quando o ser de cacos finalmente se pôs de pé sobre a superfície de vidro quebrado, a primeira coisa que fez foi arrancar de sua cova cortante, com um só puxão, o corpo do infeliz que o criou.

Segurou pelo pescoço aquele corpo dilacerado e desferiu-lhe um forte soco no rosto com sua enorme mão de cacos, sem soltá-lo.

Seguiu-se uma série de socos no rosto, no abdômen, e chutes nas genitálias, já bastante danificadas. Ao término do espancamento não passava de um pedaço disforme de carne.

O ser de vidros quebrados largou seu criador sobre a superfície de cacos e por fim se desfez, voltando a se espalhar na piscina.

Longos minutos se passaram, até que o pedaço de carne restante começou a pulsar, se remexer, se remontar.

Sob carne rasgada e ensangüentada surgiu uma mão, seguida de um braço, e finalmente uma cabeça. Estava nascendo.

Quando enfim abandonou a carcaça pútrida e surrada, mesmo coberto de sangue, via-se que o corpo era novo, isento de feridas, de marcas do tempo. Renovado.

Pôs-se de pé e deu o primeiro passo, deixando os restos de seu "ovo de carne" pra trás. Cortou o pé com os cacos, sentiu dor, assustou-se com o líquido vermelho que saía do corte, e por fim chorou. Quando notou que chorar não estava ajudando, voltou a andar, encarando o caminho que teria de seguir até atingir a borda da enorme piscina.

Cacos por todo lado. As feridas seriam muitas, mas poderia tratar delas assim que saísse dali. Mal sabia ele que depois da piscina havia um mar, lá fora, lhe esperando.

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Comentários:

Referencias? Parece uma metafora espirita pra mim...

Cilon | 18-04-2006 19:30:03
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Olha, pra esse conto em particular eu não me lembro de ter usado referência nenhuma. Simplesmente foi uma idéia que surgiu, há muito tempo atrás, e que só recentemente eu consegui passar pro papel (já faz alguns meses que eu estava com ele pronto por aqui). E, sim, eu crio imagens mentais das minhas histórias, às vezes chego até a imaginar tomadas, como se estivesse dirigindo, mas isso fica meio complicado de transpôr pro texto.

Wolv | 18-04-2006 06:37:11
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Suas referências obviamente são diferentes das minhas. Mas foi estranho como relacionei seu conto (é um conto?) com VÁRIAS coisas, de Nip/Tuck a Monstro do Pântano, e principalmente uma história do Moebius, só de imagens. Aliás, vc concebe visualmente sua história? É pra se pensar naquilo de "uma câmera na mão, uma idéia na cabeça"...

mariana | Email | 17-04-2006 10:59:21

quinta-feira, 13 de abril de 2006

[NEWS] Agora ele ataca de comentarista

Pois é, agora eu também faço parte do seleto grupo de comentaristas do blog Comentários em Série. Por lá vocês poderão ler textos de minha autoria com comentários a respeito dos filmes mais desconhecidos possíveis, a fim de tentar convencê-los de que precisam assisti-los AGORA.

E como se isto não bastasse, também ficará a meu cargo tecer comentários sobre os episódios da série que todo mundo que me conhece provavelmente sabe que é minha favorita. Isto mesmo, vou fazer críticas aos episódios de Lost, começando a partir do episódio 20 (ontem saiu o 19), que sairá nos States dia 3 de maio.

Portanto, aqueles que já cansaram de ficar aguardando as atualizações esporádicas do Existindo na Inexistência, contam agora com uma outra alternativa pra ler alguns textos de minha autoria (como se muita gente lesse o que eu posto por aqui...).

Já publiquei por lá uma crítica sobre o filme Lady Vingança. Confiram!

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Comentários:

Rodrigo Desculpa-me por entrometer na tua vida! Ontem, logo que te enviei o comentário, arrependi-me. Deve ser pela minha profissão, enxergo de longe uma pessoa especial e fico entusiasmada, querendo de alguma forma interagir com essa pessoa , pois são raras! Meu trabalho exige que eu seja assertiva nas relações interpessoais, detecte as emergências a providenciar para q as pessoas sejam mais ativas, autônomas, seguras emocionalmente, enfim que tenham uma vida com significado. Leio muito, muito mesmo, não só na minha área, gosto de ter uma participação ativa nas minhas relações em todos os âmbitos... gostei da sua resposta, foi humilde, isto evidencia caráter nobre. Eu, por minha vez, fiquei mais envergonhada ainda! Você tem muita bagagem para uma plenitude maior de vida, que bons espíritos te orientem, te intuam e te embalem nos momentos mais frágeis.

Iolanda | 14-04-2006 13:32:00
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Iolanda, eu não "perco meu tempo" só assistindo enlatados. Também leio, também escrevo (mais do que o blog leva vcs a crerem), e também me preocupo com questões mais relevantes do q comentar um filme, ou uma série. Mas escapismo, fatalmente, faz parte da vida de qualquer ser humano. Eu adoro assistir filmes questionadores, q nos faz refletir sobre o mundo em que vivemos, sobre a própria vida em sua essência, sobre "lavagem cerebral" à qual a massa é submetida através da mídia, do cinema, e até de livros! Mas, é o q eu digo, faz parte da natureza do ser humano se refugiar por alguns períodos em mundos diferentes do nosso. Não é a toa q eu gosto de ler quadrinhos, ou literatura fantástica, ou mesmo criar meus próprios mundos e desenvolvê-los em histórias q, quem sabe, um dia pretendo publicar, seja aqui, seja em forma de livros. Às vezes sinto mesmo necessidade de me desligar um pouco da realidade. Há muita riqueza escondida em "outros mundos", e podemos voltar da jornada mais sábios. Basta saber aproveitar.

Wolv | 14-04-2006 07:54:19
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... passei por lá e li, li por alto, pesarosa. Como podem perder tempo assim com enlatados? Vc especialmente tem talento, sensibilidade... porque perder seu tempo vendo e ainda comentando estas bobeiras? que pena, que pena! é só mais uma forma de imperialismo, uma lavagem cerebral. Vc não consegue ter este discernimento? Ideologias são passadas sem que perceba, vira só um débil consumidor que não consegue perceber o contexto ao redor, então entrega seu tempo para vegetar diante da tela, comendo capim, ruminando, ruminando achando gostoso, belo, profundo, achando que isto é reflexão... não é não querido! É alienação, ausência de realidade, fuga. Se perco meu tempo aqui, não é para te ofender, pelo contrário; mas vc precisa ler mais sobre os mecanismos das ideologias dominantes. Você tem talento, precisa potencializá-lo, se prepare com estudos acadêmicos ou não... use seu tempo para crescer que voceh possui estofo para tal. Eu sou sua fã, de verdade. Desenrole sua vida. Um abraço, e delete sem dó.

Iolanda | 13-04-2006 14:28:47

terça-feira, 11 de abril de 2006

[DIÁRIO] Pensamentos desordenados, musicados e amalucados

A essa hora, se alguém ainda estivesse online e me perguntasse o que eu gostaria de estar fazendo nesse exato instante, eu responderia: "Esvaziar minha cabeça de todo e qualquer pensamento que esteja cometendo a ousadia de circular por ela, e preenchê-la com músicas". Na verdade é isso que vim fazendo durante toda essa madrugada.

Comecei com The Pillows, passei por Sheryl Crow, Sixpence None the Richer, e estou finalizando com Natalie Imbruglia. Se eu já me dei por satisfeito? Muito pelo contrário! Se pudesse ficaria aqui por mais alguns punhados de horas. Nem eu imaginava o quanto estava sentindo falta de uma longa madrugada regada de músicas, conversas agradáveis e divertidas no MSN (Bia e Natália que o digam), palhaçadas lidas e postadas no Orkut, cantadas indiretas em scraps alheios, e sites de nú artístico (eu disse NÚ ARTÍSTICO) pra embelezar visualmente a noite.

Tá, agora deixa eu me desconectar logo antes que tenha uma recaída e volte a me acostumar com tudo isso. Foi-se o tempo em que eu podia me permitir passar noites assim. Essa, por enquanto, deu pra matar a vontade (ou pelo menos parte dela).

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Comentários:

Viu como escutar música é ÓTIMO! ¬¬'' Mas ainda falta uma coisa pra vc: continuar conectado.

heluza. | 13-04-2006 01:25:31
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Duas ao mesmo tempo no MSN, heim? Uh galo véio!

Cilon | 11-04-2006 21:33:34
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Se enquanto trabalho não parto melancias, nem rezo ao meu Deus... Se enquanto trabalho não faço nada disso, então só me resta perguntar: PORQUE?

Cilon | 11-04-2006 16:18:02
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Se enquanto trabalho não faço amor; Se enquanto trabalho não escrevo poesias, não tomo sol nem vejo a lua; Se enquanto trabalho não filosofo; Se enquanto trabalho não crio sistemas complexos, nem vejo os olhos do meu amor; Se enquanto trabalho não ando descalço em areias brancas, nem ouço o barulho do mar; Se enquanto trabalho não abraço minha mãe; Se enquanto trabalho não leio Henry Miller nem Joyce; Se enquanto trabalho não mergulho em minha própria alma; Se enquanto trabalho não vejo filmes, nem sinto perfume de flores, nem admiro alguma obra de Michelangelo; Se enquanto trabalho não escalo montanhas, nem salto no escuro, nem tomo vinho; Se enquanto trabalho não medito, não danço, nem ouço Beethoven, nem respiro o sagrado ar da liberdade, nem como doce de abóbora com coco... Se enquanto trabalho não sonho, nem pinto, nem componho, nem desenho, nem esculpo, nem declamo Neruda; Se enquanto trabalho nem me lembro dos vinte poemas de amor e das canções desesperadas;

Cilon | 11-04-2006 16:16:51