sábado, 31 de dezembro de 2011

[LISTA] HQs e Mangás Lidos em 2011

Além de ter concluído a leitura de duas séries que há muito tempo eu queria conferir, Os Invisíveis e Promethea, finalmente li outras duas que considero obrigatórias para qualquer leitor de quadrinhos que aprecie boas histórias, personagens cativantes e, no caso da última, um dos trabalhos de arte mais impressionantes da história dos quadrinhos: Preacher e Akira.

Fora estas, o que se destacou entre as HQs e mangás que li foram: Daytripper, Asterios Polyp, Três Sombras, Os Escapistas, Gotham City Contra o Crime, The Umbrella Academy - Dallas, Os Maiores Clássicos do Poderoso Thor, Ao Coração da Tempestade, Breakdowns - Retrato de um Artista Quando Jovem %@&*!, Fábulas Apresenta - João das Fábulas, Transmetropolitan Volume 2 e o trabalho de Brian Michael Bendis em Ultimate Comics Spider-Man, que continua excelente.

Parei de colecionar Os Novos Vingadores e Avante, Vingadores! com o término da saga O Cerco, e Lanterna Verde, quando foi concluída a saga A Noite Mais Densa, todas elas por meu descontentamento com a mesmice que andava acometendo ambas as séries.

Das HQs mensais, só fiquei com Batman, que só compro quando sai histórias escritas por Grant Morrison, e Vertigo, que continua sendo um dos melhores mixes publicados atualmente. E, claro, continuo minhas coleções de encadernados das séries Fábulas (de longe a melhor de todas), Y - O Último Homem, Ex Machina e Jonah Hex.


Segue abaixo a lista completa:




  • The Invisibles Volume 7: The Invisible Kingdom:
    • The Invisibles v3 #12 a 1
  • Xampu
  • A Torre Negra: Nasce o Pistoleiro #1 a 7
  • A Torre Negra: O Longo Caminho Para Casa #1 a 5
  • A Torre Negra: Traição #1 a 6
  • Buda Volumes 1 a 14
  • Fábulas Volumes 7 a 9:
    • Volume 7:
      • Fables #42 a 47
    • Volume 8:
      • Fables #48 a 51
    • Volume 9:
      • Fables #52 a 59
  • Lanterna Verde #29 e 30:
    • edição 29:
      • Green Lantern (2005) #49 e 50
      • Green Lantern (2006) #4
    • edição 30:
      • Green Lantern (2005) #51 e 52
      • Green Lantern (2006) #45 e 46
  • A Noite Mais Densa #7 e 8:
    • edição 7:
      • Blackest Night #7
      • Phantom Stranger (2010) #42
    • edição 8:
      • Starman (1994) #81
      • Blackest Night #8
  • Reinado Sombrio #13 a 18
    • edição 13:
      • Dark Avengers #12
      • Thunderbolts (1997) #138
      • Secret Warriors #11
    • edição 14:
      • Thunderbolts (1997) #139
      • Secret Warriors #12
      • Dark Avengers Annual #1
    • edição 15:
      • Dark Avengers #13
      • Thunderbolts (1997) #140
      • Secret Warriors #13
    • edição 16:
      • Dark Avengers #14
      • Thunderbolts (1997) #141
      • Secret Warriors #14
    • edição 17:
      • Dark Avengers #15
      • Thunderbolts (1997) #142
      • Secret Warriors #15
    • edição 18:
      • Thunderbolts (1997) #143
      • Secret Warriors #16
      • Dark Avengers #16
  • O Cerco #1 a 4
    • edição 1:
      • Siege (2010) #1
      • Siege: Embedded #1
    • edição 2:
      • Siege (2010) #2
      • Siege: Embedded #2
    • edição 3:
      • Siege (2010) #3
      • Siege: Embedded #3
    • edição 4:
      • Siege (2010) #4
      • Siege: Embedded #4
  • Os Novos Vingadores #84 a 91
    • edição 84:
      • Captain America: Reborn (2009) #6
      • New Avengers (2005) #60
      • Free Comic Book Day 2009 Avengers #1
    • edição 85:
      • Captain America: Who Will Wield The Shield?
      • Iron Man: Titanium! (2010) #1
      • New Avengers Annual (2010) #3
    • edição 86:
      • New Avengers (2005) #61
      • Avengers: The Initiative (2007) #32
      • Captain America (1968) #602
    • edição 87:
      • New Avengers (2005) #62
      • Avengers: The Initiative (2007) #33
      • Captain America (1968) #603
    • edição 88:
      • New Avengers (2005) #63
      • Avengers: The Initiative (2007) #34
      • Captain America (1968) #604
    • edição 89:
      • New Avengers (2005) #64
      • Mighty Avengers (2007) #35
      • Captain America (1968) #604
    • edição 90:
      • Sentry: Fallen Sun #1
      • Mighty Avengers (2007) #36
      • Avengers: The Initiative (2007) #35
    • edição 91:
      • New Avengers Finale (2010) #1
      • The Avengers (2010) #1
  • Avante, Vingadores! #48:
    • Avengers: Prime #1 a 5
  • A Morte de Hércules:
    • Assault On New Olympus Prologue #1
    • Incredible Hercules (2008) #138 a 141
    • Hercules: Fall of An Avenger #1 e 2
  • Universo Marvel Anual #4:
    • Ghost Riders: Heaven´s On Fire #1 a 6
  • Taxi
  • The Umbrella Academy - Dallas:
    • The Umbrella Academy: Dallas #1 a 6
    • Myspace Dark Horse Presents #12
  • Promethea Livros 3 a 5 (em inglês)
    • Livro 3:
      • Promethea #13 a 18
    • Livro 4:
      • Promethea #19 a 25
    • Livro 5:
      • Promethea #26 a 32
  • Superman 70 Anos 1 a 4:
    • volume 1:
      • Superman (1939) #30, 132, 141, 167, 233, 400
      • Superman (1987) #2, 500, 638
    • volume 2:
      • Superman (1939) #76
      • World's Finest Comics (1941) #88, 142, 159, 176, 207
      • The Man of Steel (1986) #3
      • Batman And Superman: World's Finest (1999) #7
      • Superman/Batman Secret Files #1
      • Superman/Batman Annual (2006) #1
    • volume 3:
      • Action Comics #23
      • Superman (1939) #90, 164, 292, 416
      • Adventure Comics (1938) #271, 544
      • Superboy (1949) #86
      • The Man of Steel (1986) #4
      • Superman (1987) #9, 131
      • Superman: Lex 2000
    • volume 4:
      • Superman (1939) #79, 280
      • Action Comics #211, 429, 436, 461
      • Superman's Pal, Jimmy Olsen #42, 44, 124
      • Superman's Girl Friend, Lois Lane #17, 29, 45, 54, 75
      • Superman: Save The Planet #1
      • Superman (1987) #151
  • Batman 70 Anos 1 a 4:
    • volume 1:
      • Secret Origins (1986) #6
      • Batman (1940) #1, 108, 153, 246
      • The Brave And The Bold (1955) #184
      • Detective Comics #526
    • volume 2:
      • Batman (1940) #12, 35, 48, 108, 348
      • World's Finest Comics (1941) #30
      • Detective Comics #158, 168, 186, 205, 223, 235, 244
      • The Brave And The Bold (1955) #182
    • volume 3:
      • Gotham by Gaslight
      • Batgirl and Robin: Thrillkiller #1 a 3
    • volume 4:
      • Detective Comics #347
      • World's Finest Comics (1941) #184, 269
      • The Brave And The Bold (1955) #115
      • Batman (1940) #291 a 294
  • Os Maiores Clássicos do Poderoso Thor - Volumes 1 a 4:
    • volume 1:
      • Thor (1966) # 337 a 348
    • volume 2:
      • Thor (1966) #349 a 355, 357 a 359
    • volume 3:
      • Thor (1966) #360 a 369
    • volume 4:
      • Balder, The Brave #1 a 4
      • Thor (1966) #371 a 374
  • Ultimate Comics Spider-Man #1 a 21 (em inglês)
  • Ultimate Spider-Man #156 a 160 (em inglês)
  • Ultimate Comics Captain America #1 a 4 (em inglês)
  • Ultimate Comics Thor #1 a 3 (em inglês)
  • Ultimate Comics Iron Man: Armor Wars #1 a 4 (em inglês)
  • Ultimate Comics New Ultimates #1 a 5 (em inglês)
  • Ultimate Comics Avengers Volumes 1 a 3 (em inglês)
  • Ultimate Comics Avengers vs. New Ultimates #1 a 6 (em inglês)
  • Biblioteca Histórica Marvel - Quarteto Fantástico - Volume 1:
    • Fantastic Four (1961) #1 a 10
  • Biblioteca Histórica Marvel - Homem-Aranha - Volume 1:
    • Amazing Fantasy (1962) #15
    • The Amazing Spider-Man (1963) #1 a 10
  • Neon Genesis Evangelion #23 e 24
  • Preacher Volumes 1 a 9:
    • Volume 1:
      • Preacher #1 a 7
    • Volume 2:
      • Preacher #8 a 17
    • Volume 3:
      • Preacher #18-26
    • Volume 4:
      • Preacher Special: Saint of Killers #1 a 4
      • Preacher Special: The Story of You-Know-Who
      • Preacher Special: The Good Old Boys
    • Volume 5:
      • Preacher #27 a 33
      • Preacher Special: Cassidy - Blood and Whiskey
    • Volume 6:
      • Preacher #34 a 40
      • Preacher Special: One Man's War
    • Volume 7:
      • Preacher #41 a 50
    • Volume 8:
      • Preacher #51 a 58
      • Preacher Special: Tall in the Saddle
    • Volume 9:
      • Preacher #59 a 66
  • Daytripper
  • Asterios Polyp
  • Três Sombras
  • 10 Pãezinhos: Fanzine
  • 10 Pãezinhos: O Girassol e a Lua
  • 10 Pãezinhos: Crítica
  • 10 Pãezinhos: Mesa Para Dois
  • Coleção Moebius: Arzach
  • Quando Eu Cresci
  • Os Escapistas:
    • The Escapists #1 a 6
  • O Necronauta - Volume 1
    • Necronauta #1 a 6
  • Birds
  • Ao Coração da Tempestade
  • Bando de Dois
  • Lost Girls Livros 1 a 3
  • Grandes Heróis Marvel: Os Surpreendentes Homem Aranha & Wolverine #01 a 03
    • Astonishing Spider-Man & Wolverine #1 a 6
  • Biblioteca Histórica Marvel - Os Vingadores - Volume 1:
    • Avengers (1963) #1 a 10
  • Gotham City Contra o Crime Volumes 1 a 6 (publicados em DC Especial #5, 8, 11, 13, 14 e 16):
    • Gotham Central #1 a 40
  • Powers Volume 1:
    • Powers #1 a 11
    • Powers Activity And Coloring Book
  • Breakdowns: Retrato do Artista Quando Jovem %@&*!
  • The Walking Dead Volumes 14 e 15 (importadas):
    • The Walking Dead #79 a 90
  • Loveless - Terra Sem Lei: O Caminho da Vingança:
    • Loveless #13 a 19
  • Loveless - Terra sem Lei: A Queda de Blackwater
    • Loveless #20 a 24
  • Jonah Hex Volumes 3 e 4:
    • Jonah Hex #13 a 24
  • Lex Luthor - Homem de Aço:
    • Lex Luthor: Man of Steel (2005) #1 a 5
  • Akira #1 a 38 (Ed. Globo)
  • Vertigo (Panini) #16 a 20:
    • edição 16:
      • Hellblazer (1988) #190
      • Northlanders (2008) #16
      • American Vampire #7
      • House of Mystery (2008) #12
      • Scalped (2007) #16
    • edição 17:
      • Hellblazer (1988) #191
      • Northlanders (2008) #17
      • American Vampire #8
      • House of Mystery (2008) #13
      • Scalped (2007) #17
    • edição 18:
      • Hellblazer (1988) #192
      • Northlanders (2008) #18
      • American Vampire #9
      • House of Mystery (2008) #14
      • Scalped (2007) #18
    • edição 19:
      • Hellblazer (1988) #193
      • Northlanders (2008) #19
      • American Vampire #10
      • House of Mystery (2008) #15
      • Scalped (2007) #19
    • edição 20:
      • Hellblazer (1988) #194
      • Northlanders (2008) #20
      • American Vampire #11
      • House of Mystery (2008) #16
      • Scalped (2007) #20
  • Fábulas Apresenta - João das Fábulas #1 e 2:
    • Jack of Fables #1 a 5
  • Tune 8
  • Transmetropolitan Volume 2:
    • Transmetropolitan #7 a 12
  • Duo.Tone
  • Melodia Infernal Volumes 1 e 2
  • MSP Novos 50
  • Na Prisão
  • Gullivera
  • Justine
  • Capitão América: Operação Renascimento:
    • Captain America (1968) #444 a 448, 450 a 454
  • Batman Crônicas Volume 2:
    • Detective Comics #39 a 45
    • Batman (1940) #2 e 3
  • Coleção DC 75 Anos Volumes 1 e 2:
    • volume 1:
      • Action Comics #1
      • Detective Comics #27
      • Flash Comics #1
      • Whiz Comics #2
      • Batman (1940) #1
      • All-Star Comics #3
      • More Fun Comics #73
      • All-Star Comics #8
    • volume 2:
      • Showcase (1956) #4, 22
      • Adventure Comics (1938) #247, 260
      • The Flash (1959) #123
      • Justice League of America (1960) #21
      • The Brave And The Bold (1955) #54
      • Superman's Pal, Jimmy Olsen #134


Total de exemplares: 185
Total de edições avulsas: 699
Total de páginas lidas: 23624

[LISTA] Livros Lidos em 2011


Foi um ano moderado na leitura de livros, mas consegui realizar algumas com que sonhava há alguns anos, como concluir A Torre Negra, finalmente vencer as mais de 1800 páginas dos dois volumes de Musashi, e ler a trilogia Fundação do mestre Isaac Asimov.

Como este também foi o ano em que resolvi estudar mais a fundo uma das minhas maiores paixões, como forma de aquecimento para o curso de Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica que fiz em dezembro, li alguns livros sobre a 7ª arte, que ocuparam boa parte do meu tempo no último semestre.

Confira abaixo a lista completa:

  • A Torre Negra - Volume 5: Lobos de Calla (Stephen King)
  • A Torre Negra - Volume 6: Canção de Susannah  (Stephen King)
  • A Torre Negra - Volume 7: A Torre Negra  (Stephen King)
  • Minority Report - A Nova Lei (Philip K. Dick)
  • O Caçador de Andróides (Philip K. Dick)
  • Valis (Philip K. Dick)
  • A Fantástica Fábrica de Chocolates (Roald Dahl)
  • Fundação (Isaac Asimov)
  • Segunda Fundação (Isaac Asimov)
  • Fundação e Império (Isaac Asimov)
  • Peter Pan (J. M. Barrie)
  • Musashi: Volume 1 (Eiji Yoshikawa)
  • Musashi: Volume 2 (Eiji Yoshikawa)
  • O Tao da Física (Fritjof Capra)
  • The Art of Watching Films (Joseph M. Boggs e Dennis W. Petrie)
  • Esculpir o Tempo (Andrei Tarkovski)
  • Conversas com Scorsese (Richard Schickel)

[LISTA] Séries Assistidas em 2011

Comecei 2011 terminando a maratona de uma das séries que eu mais tinha vontade de assistir do início ao fim, Arquivo X, além de concluir uma das melhores séries policiais (e de qualquer gênero) já produzidas para a TV americana: The Wire.

Feito isto, selecionar entre todas as séries que tinha aqui em casa, aquelas que estavam entre as mais elogiadas, premiadas e aclamadas dos últimos anos.

Será difícil superar um ano em que assisti The Sopranos (acompanhada de Seinfeld), Battlestar Galactica, Six Feet Under, a excepcional 4ª temporada de Breaking Bad, e a escalada de qualidade de Fringe no final de sua 3ª temporada, além de sua reinvenção no início da 4ª.

Ah sim, e finalmente comecei a assistir Dexter, a série que mais recomendações recebi de amigos.

Em suma, um dos anos mais fartos de séries de TV. Depois destas ficou mais difícil me convencerem a assistir qualquer produção mediana, o que infelizmente foi o caso da maior decepção que tive este ano, a 2ª temporada de Boardwalk Empire, que começou muito bem, e depois só foi decaindo.


segunda-feira, 18 de julho de 2011

[CRITICA] Harry Potter e As Relíquias da Morte - Parte 2

ATENÇÃO: há alguns SPOILERS para quem não assistiu o filme.

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Direção: David Yates
Roteiro: Steve Kloves
Elenco: Daniel Radcliffe (Harry Potter), Emma Watson (Hermione Granger), Rupert Grint (Ron Weasley), Ralph Fiennes (Lord Voldemort), Alan Rickman (Severus Snape), Helena Bonham Carter (Bellatrix Lestrange), Matthew Lewis (Neville Longbottom), Evanna Lynch (Luna Lovegood)
Duração: 130 min.
Ano: 2011


Com um começo tumultuado, movido a muita correria, destruição, e mortes off-screen de alguns personagens que tiveram sua importância anteriormente na série, este último capítulo de Harry Potter cumpre bem a tarefa de transpôr para a telona todo o caos e desordem que se instalam no maior conflito de bruxos já retratado na série e, arrisco dizer, na história do cinema.

É quase impossível não relacionar a grande batalha que ocorre em Hogwarts, aos combates épicos que marcaram o capítulo final da trilogia "O Senhor dos Anéis". Tem de tudo, desde grandes massas humanas se chocando, até trolls gigantes tocando o terror na multidão de alunos e professores lutando lado a lado desesperadamente. Tudo impressionante e visualmente impactante, mas é justamente aí que reside a maioria dos problemas.

Na maior parte do filme David Yates dirige a história com certo distanciamento, e em vários momentos pode-se acusá-lo de uma frieza que compromete o choque emocional que diversas cenas tinham o potencial de exibir.

Personagens que conquistaram a simpatia do público ao longo da série se despedem sem ganharem sequer uma morte digna de ser exibida, e não há toda a preocupação que o diretor teve no capítulo anterior em mostrar a maneira como protagonistas e coadjuvantes estão sendo afetados por toda a tragédia que os cerca. Neste ponto a direção de David Yates decepciona por ser quase inteiramente burocrática.

Apesar das falhas, o diretor acerta, creio que especialmente graças ao roteiro de Steve Kloves, na cuidadosa seqüência em que Snape, enfim, alcança sua redenção. É um dos poucos momentos realmente emocionantes deste último filme aquele no qual vemos todas as ações, atitudes e posturas adotadas pelo personagem diante de Harry Potter serem justificados. Sempre considerei Snape um dos personagens mais intrigantes e complexos da saga, e vê-lo finalmente sob uma perspectiva que justifica suas escolhas, e que ainda por cima serve como forma de desmistificar um outro personagem, tido até aqui como a bússola moral da série, é um dos grandes momentos de toda a série.

É inteligente também a variação que a fotografia de Eduardo Serra sofre ao longo do filme. Reparem como ela se torna mais granulada e "suja" quando as cenas de batalha se tornam mais intensas, remetendo diretamente a filmes de guerra como O Resgate do Soldado Ryan e Cartas de Iwo Jima.

Outro acerto de Yates é a forma como ele retrata a passagem em que Harry se encontra em seu "pós-vida pessoal". Aquela dimensão mergulhada em luz funciona perfeitamente como contraponto da floresta escura na qual o personagem "morre" nas mãos de seu nêmesis, que pode ser interpretada simbolicamente como uma extensão da mente corrompida de Voldemort.

Além disto, a decisão de representar o fragmento da alma do vilão que vive dentro de Harry Potter como um bebê abortado, além de ser ousada para uma série que começou de maneira tão inocente e encantadora, é rica em seu simbolismo, e demonstra o respeito do diretor pela inteligência crescente de um público que teve seu gosto amadurecido ao longo de 7 filmes que serviram tão bem a este propósito.

Mas, apesar de toda a qualidade técnica, "Relíquias da Morte 2" é sintético demais, e falho como celebração do grande feito que a série representou para o cinema, e na tarefa de transmitir para o público a sensação de vitória dos personagens diante do maior desafio de suas vidas. Quando a história chega à sua conclusão, ela soa anti-climática, e perde ainda mais sua força quando sede espaço à elipse final.

Quando a última cena é exibida, fica difícil não pensar que Harry Potter merecia um filme com duração maior, que se preocupasse mais em oferecer uma despedida emocionalmente marcante, do que uma seqüência de cenas de ação grandiosas, lotadas de efeitos especiais de primeira linha, mas sem aquele calor humano que esperamos sentir em nossos momentos finais ao lado daqueles personagens com que convivemos por quase 10 anos.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

[TOP 5] Personagens mais machos pra caralho da história dos animes




De volta das trevas mortiferas do mal, vou ser sincero com vcs: eu não assisto anime.
De boa, acho que faz uns anos que não assisto mesmo. Sabe pq? Ora, é claro que sabe. Não olha pro lado ae que é contigo mesmo, roscafroxa.

Eu não assisto anime pq anime é coisa de viado.

Eu sei, vc sabe, todo mundo sabe. Anime não é coisa de quem dá ré no kibe, morde fronha, senta no quiabo, joga pedra com a mão esquerda, dorme de meia, pisa na chapinha, pisa fora da faixa, agasalha o croquete, foi criado pela vó, queima Rosca, peida vento, engole cobra, essa coca é fanta, sóca bosta, jogava com o Andy Bogard, esse chá mate é erva doce, esse mato é grama, esse cavalo é poney, essa tábua leva prego e por aí vai (vou parar antes que fique forçado)

Esse é vc assistindo anime



Sabe, realmente me deixa triste que uma terra que nos deu FUCKING SAMURAIS DO CARALHO e MALDITOS NINJAS FR00M H33LL tenha virado uma terra de viadagem e frescura incapazes de fazer algo minimamente assistivel. Sério amarelos, o que diabos aconteceu com vcs?
Bem, não importa, a pergunta foi apenas retórica. O que eu queria dizer é que eu não assisto anime pq é chato pra caralho com personagens forçados e toscos que nem ser engraçados sabem (te desafio a contar nos dedos quantas vezes vc ja riu assistindo anime, RA!). E se alguém não sabe ser engraçado, que esperança podemos ter que eles vão fazer algo macho pra caralho, ogro, ignorante, masculo e respeitavel?

Pouca gafanhoto, muito pouca
ENTRETANTO TODAVIA CONTUDO, eu, o seu paladino ninja da justiça hermética te trago aqui o raríssimo, inenarrável, ululante e apogéico TOP 5 dos personagens machos pra caralho!!!

E essa foi a terra dos honrados samurais...
(sim, isso é um cara)


Existem muitos personagens do sexo masculino em animes. Desses, poucos são machos. E desses poucos, apenas um punhado são MACHOS, PORRA!

5º - Sanosuke Sagara (Rurouni Kenshin)

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Sério, aquele animezinho fresco que passava na TV Globinho é uma das bostas mais chatas que os amarelos já tiveram a pachorra de inventar. Básicamente é sobre cara que querem parecer mulher (e no original falam com voz de mulher, ao menos a dublagem nacional teve a decencia de fazer uma voz decente de locutor de velório) saltitando de um lado pro outro com espadinhas e dizendo que o shikumuruken no ratobolotosila dele é mais poderoso que o nikifuriussen nu sacumurchumutanti do outro. Repete ad infinitum.
Não obstante, é a chance dos otakus molharem as calças de emoção sobre o quanto o coco verde gelado dos japoneses é melhor que dinamite e a história de um país de vileiros que tomou duas bombas na cabeça. Mas onde eu estava? Ah sim, aquela bichisse chata pra caralho de Rurouni Kenshin. Mas não vou ser muito injusto nem duro com os caras, tinha um personagem macho pra caralho (apenas por sorte, eu acho)

Já dizia o lendário malandro lampião (que tem filha mulher só pra nunca ficar na mão) que macho que é macho de verdade VEM NA MÃO PORRA!
Enquanto TODOS os personagens do anime são gazelas saltitantes se achando a ultima coca-cola do deserto com suas espadinhas bichas, o cara saia NA MÃO contra os malucos armados. Porra, tu não sai na mão nem contra vileiro com cortador de unha, quiça sair na mão contra malucos de espada tio!
Claro, naturalmente ele apanhava mais do que dois e meio de paus em jogo de munchikin - porque o objetivo supremo dos viados é mostrar que a viadagem é o unico caminho certo na vida - mas isso é detalhe. FODA-SE isso.

O cara tinha culhões para resolver as coisas na mão e isso é algo que temos que respeitar.
E acho que ele tentava pegar alguem, mas ai é querer demais da minha memória mascula e viril, então vou fingir que é isso que acontece. Sigamos.

Isso é tudo que se precisa contra gazelinhas frescas amarelhas.
Use em quem te disser o contrário

3º Ikki de Fênix – Cavaleiros do Zodiaco

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Se tem uma coisa que eu aprendi com cavaleiros, foi que machisse não é genética. Veja só a história desse garoto latino-japones sem dinheiro no banco, sem amigos importantes e vindo do interior. O Michael Jackson japones decidiu que era massa fazer rinha de crianças para assistir se masturbando. Bem, quem sou eu para criticar os gostos de um homem...

Mas como não era emocionante o bastante, ele decidiu que precisava mandar os pias aleatóriamente pelo mundo para que eles voltassem gente e não personagens de anime. Infelizmente isso é muito dificil de se conseguir num anime, mas o velho tinha esperança que ao menos um deles vingaria. Acontece então que o piazinho mais pegador de bisnaga do pedaço foi sorteado pra um lugar chamado ILHA DA RAINHA DA MORTE.

Cara, sério, imagina um guri que chora lendo Crepusculo sendo mandado pra um lugar chamado ILHA DA RAINHA DA MORTE. Deixa eu repetir: ILHA. DA. RAINHA. DA. MORTE. Sentiu o tamanho do pepino mermão?
Enquanto o guri chorava se perguntando como faria para seu toba passar pela porta depois de ir pra um antro de macheza desse naipe, o irmão dele se levantou e disse: "E tu é o malandro da Irlanda, dá o cu só pra não colocar guirlanda".

Nesse instante Chuck Norris encostou a bunda na parede, pq o ato foi de uma macheza atróz devoradora de mundos. Porra. ILHA. DA. RAINHA. DA. MORTE. Não era ilha da rainha do samba nem ilha da princesa do amor era ILHA. DA. RAINHA. DA. MORTE.

Mas aí ele foi. E lá a coisa era hardpunkcorefr0mh33ll, mas ele tirou de boa.
E aí que tinha uma cocotinha na ilha. Uma só. E sendo o macho alfa que é, ele deu uns pegas na única mulher da ILHA. DA. RAINHA. DA. MORTE. Porra, tu ae que não pega nem gripe A vestido de porco tem que admitir que é de uma fodonice impar. Pensa só: saca só a única guria da sala? Ou a única guria da festa? Tu sabe que essa figura invariavelmente possui um séquito de machos dispostos a lamber o chão pra ela pisar (isso não é um exagero, se por algum acidente inacreditavel miraculoso da natureza estiver lendo isso, faça o teste). Agora imagina o quão foda é o cara que chega no meio do bolinho e pega ela e créu velocidade 5. Muito foda, né?

Mas aí acontece que o pai dela, que tava de boa com isso, assistiu a nova trilogia de Star Wars e viu o quão estar xonadinho caga um personagem foda. Disposto a evitar que isso acontecesse, ele decidiu matar a cocota só pro cara - que já era o cão - ficar mais mau que um pica-pau malucão azulão do SBT. E o que o nosso herói fez? A UNICA coisa que um macho de responsa faria: arrancou o coração do cara. ARRANCOU. O. CORAÇÃO. DO.CARA. PORRAAAA! Só ele e Kano fazem isso!

De lá pra cá Ikki conseguiu a façanha de nunca ser desmoralizado - isso em um anime que é tipo uma Paixão de Cristo para otakus. Alem de não andar com os moleques fresquinhos e só aparecer pra ser o cara foda e salvar o dia, ele conseguiu várias façanhas incriveis como ser o único cara na história geral do universo a relar a mão no FUCKING AVATAR DE BUDAH. O seu golpe consiste em fazer o adversário chorando em posição fetal como uma menininha atacada pelo Jeremias pé-de-mesa.

Ele é tão foda, mas tão foda que quando ele morre e vai pro inferno ele é chutado de volta pq o cão teme pelo seu toba.

E com isso eu não preciso dizer mais nada.

2º Kenshiro – Hokuto no Ken

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Oh, nem me faça começar. Hokuto no Ken é testosterona prensada. Sua macheza é para os Animes o que Braddock é para os filmes, Duke Nukem para os videogames, Wolverine para os gibis, Conan para a literatura e Manowar para a música. De fato, após ler HnK pela primeira vez, ao desligar o PC eu percebi que meus colhões triplicaram de tamanho, minha barba cresceu de um cavanhaque patético para uma juba que faria Gimli e os anões do Senhor dos Anéis orgulhosos e minha voz engrossou á níveis Vaderescos. Uma transexual que leu o primeiro volume percebeu que o seu pinto cresceu de novo e triplicou de tamanho. Uma mulher que tocou na primeira página ficou grávida de trigêmeos. Esse é o nível de macheza que temos.

nos anos 80, uma dupla de artistas Japas resolveram criar o mangá mais macho e todos os tempos. E conseguiram. E é por isso que existem bichisses como Escaflowne e Gundam, pq Kenshiro gastou toda macheza disponivel naquela metade do mundo. Eu poderia dizer mais sobre Kenshiro, mas a verdade é que tudo que pode ser dito de foda já foi dito pelo Amer

http://blogdohammer.blogspot.com/2009/05/hokuto-no-ken-o-desenho-mais-macho-que.html

WAAAA-TCHAAAAAAAAAAAAA!!!

“Vilões não precisam de túmulos”

1º Sakura

– Sakura Card Captor

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aí você me diz "tá de sacanage comigo né rapa!" Ta achando que berimbau é gaita manolo e por aí vaí né. Ao que responderei oakjslkda e você perguntará "hã?" e eu responderei "crã". Bom, como estou de saco cheio de escrever vamos direto ao ponto: porque sakura é o cabra mais macho do país dos cabras não machos?

Vamos lá, por algum motivo que eu não lembro agora, a guria é a responsavel pelo baralho mágico que sumona demonios do inferno. Sei lá, acho que ela comprou um Sempre Livre e veio de brinde - a julgar pelos comerciais é bem possível. Seja como for, os cramulhão sairam por aí tocando terror como gremilins que comeram pizza de catupiry e a guria tem que caçar eles.

E como ela faz isso? Empurrando eles de volta pra carta de onde eles sairam. Ok, até aí ok. Normal. Super. Tipo.


Mas não é o que se faz, mas não, é COMO se faz.

E como ela faz? Ela MARRETA os bichos de volta para as cartas! POUTA QUE O PAREO! ELA RESOLVE A COISA NA MARRETADA! SABE QUEM MAIS RESOLVE AS COISAS NA MARRETADA? THOR! O MALDITO THOR E A SAKURA BOLUDA! E ELA SENTA A MARRETA USANDO ROLLERS! POUTA MERDA BÁTIMA!


VEM NI MIM QUE EU TE MARRETO CARAIO!


Essa frase tem tanta macheza que eu choraria se fosse fisicamente capaz de faze-lo.


Ela é tão macho, mas tão macho que todo mundo nessa série quer dar desesperadamente. Mas todo mundo mesmo quer provar o vai-vem do seu baculo ensandecido. Desde a pirralha cola-velcro de 9 anos até o ursinho de pelucia falante. Sério, só Chuck Norris tem essa habilidade feromonica!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

[REVIEW] O Prisioneiro (The Prisoner, 1967-1968)

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Um agente secreto pede demissão e vai embora pra casa, onde faz as malas e se prepara para sair de férias. Porém seus planos são frustrados quando é posto inconsciente, seqüestrado e levado para uma vila estranha, habitada por pessoas de diversas nacionalidades que não respondem por nomes, mas números. O lugar lhe é apresentado apenas como A Vila, e é informado de que a partir de então ele será o Número 6. Como se o cenário já não fosse estranho o bastante, ele deve lidar com o Número 2, o responsável pela administração da Vila, que insiste em saber por que motivo o agente pediu demissão, e para tanto não hesita em empregar os mais variados métodos de coerção e extração de informações.

O Prisioneiro é uma das séries mais estilosas já concebidas. A começar pela abertura (que vocês podem conferir no vídeo logo abaixo), que sempre apresenta sua premissa, desde o momento que ele pede demissão, seu seqüestro, e seu despertar na Vila. A montagem dinâmica, acompanhada pela ótima música tema, dá o tom que dominará todos os 17 episódios da série.


Se adequando à arquitetura peculiar do local, que gera estranheza, os habitantes da Vila usam roupas coloridas e espalhafatosas, além de quase todos carregarem guarda-chuvas igualmente coloridos. A direção de arte também merece elogios. Para superar as limitações técnicas da época, e dar mais valor às idéias e conceitos apresentados, foi sabiamente usada uma representação estilizada da alta tecnologia empregada pelos personagens. Os telefones sem fio usados pelo Número 2 para se comunicar com outros setores da Vila, a cadeira esférica de onde ele observa as atividades do Número 6, a sala de vigilância circular, com sua gangorra giratória, são todos elementos que merecem uma atenção especial enquanto acompanhamos o desenrolar de cada episódio.

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A Vila

Mas o aspecto surreal da série não pára por aí. O Número 6 logo descobre que suas tentativas de fugir do local são quase sempre frustradas por uma estranha criatura (?) denominada Rover (Errante, em português), que "nasce" do leito oceânico, tem a aparência de um grande balão branco, e anuncia sua chegada com um rugido semelhante ao de um leão. Além disto suas tentativas de se encontrar com o Número 1, a mente por trás de todo aquele complexo e engenhoso esquema, sempre são recebidas de maneira evasiva pelas várias encarnações do Número 2. E este é outro aspecto curioso da série: cada episódio apresenta uma pessoa diferente ocupando o posto de administrador da Vila, e empregando estratégias variadas para descobrir o segredo por trás da demissão do Número 6. É justamente na variedade de técnicas e estratagemas usados por cada novo Número 2 que os roteiristas da série encontram espaço para experimentações narrativas.

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O ameaçador Rover

Entre episódios tão variados há pérolas como "A. B. and C.", em que usam contra o Número 6 uma tecnologia para manipular seus sonhos, e através deles terem acesso à informação que tanto desejam. Vale mencionar que Christopher Nolan, diretor e roteirista do filme A Origem, já declarou que é fã da série, e manifestou diversas vezes seu desejo de adaptá-la para o cinema. Portanto não é nada difícil que este episódio em especial tenha sido uma das fontes de inspiração de seu último filme.

Outro episódio que merece ser comentado é "The Schizoid Man", no qual o Número 6 é substituído por um sósia idêntico a ele. O excelente roteiro não se contenta em criar apenas este problema, e faz com que o protagonista passe por uma avançada técnica de hipnose que o leva a acreditar que na verdade ele é o sósia, enquanto o sósia alega ser o Número 6 original. O roteiro de Terrence Feely é tão engenhoso que passamos o episódio inteiro partilhando das mesmas dúvidas que atormentam o Número 6, especialmente por já conhecermos o personagem, e sabermos que ele seria capaz de enganar seus inimigos fingindo ser o sósia. A história é conduzida de tal forma, e de maneira tão atordoante, que a dúvida persiste até a última cena, quando tudo é esclarecido.

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Número 6 e seu sósia
(ou seria o contrário?)

A grande liberdade que os roteiristas tiveram ainda gerou episódios ousados como "Many Happy Returns", cuja primeira metade não apresenta nenhum diálogo, e se sustenta unicamente pela excelente montagem e o talento de Patrick McGoohan. Nele o Número 6 acorda em seu quarto na Vila e a encontra totalmente deserta. A partir daí acompanhamos sua solitária tentativa de fugir do local em uma jangada.

Já em "Do Not Forsake Me, Oh My Darling", Patrick McGoohan é substituído por Nigel Stock, que interpreta o Número 6 durante quase todo o episódio. Uma jogada arriscada, pois além de tratar-se do protagonista da história, McGoohan é o único ator recorrente da série. Na época ele estava impossibilitado de gravá-la, mas não queria que a produção fosse interrompida, e sugeriu a idéia de que o novo Número 2 usasse uma tecnologia que permitiria trocar uma mente por outra, uma premissa nada original, mas que na época rendeu um dos episódios mais curiosos da série, e um final que trouxe uma das melhores e mais inusitadas reviravoltas.

O Prisioneiro ainda encontrou espaço para debater temas como o papel da educação na sociedade, e os riscos de ela ser pervertida e usada como instrumento de condicionamento mental ("The General"); as estratégias de manipulação da consciência coletiva em eleições "democráticas" ("Free for All"); e a massificação de comportamentos em detrimento da iniciativa individual ("A Change of Mind").

Por trás de toda a história de um homem lutando contra um sistema que lhe foi imposto, visando a supremacia da individualidade sobre uma sociedade de gados, há ainda uma segunda possível leitura, em que toda a série funciona como uma grande alegoria da luta que todo ser humano trava para aflorar seus verdadeiros valores, seu eu profundo, indo contra a maré do que a sociedade espera de nós. Em diversos episódios seus roteiristas indicaram que a intenção não era apresentar uma história que busca ser apreendida de maneira superficial e objetiva, mas uma obra que permitisse várias leituras, construindo diversas camadas de realidade.

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Número 2 em sua cadeira esférica

Vemos, por exemplo, no episódio "The Woman Who Are Dead" uma história de espionagem fantasiosa, cheia de exageros, e passagens que vão do cômico ao ridículo. Muitos podem considerá-lo um filler, uma enrolação, um desvio da trama principal, quando no final ele se mostra uma grande paródia, uma extrapolação da irrealidade presente na grande maioria dos filmes de espionagem da época. Mas o roteiro vai além, e quase literalmente acena a seu público, sugerindo que a própria série tem sua parcela de irrealidade, e que nada daquilo que foi visto até então pode ser levado ao pé da letra. O mesmo pode ser dito do episódio "Living in Harmony", em que logo na primeira cena somos jogados num cenário de Velho Oeste, algo que deve ter gerado alguma confusão para o público da época, mesmo após identificarem Patrick McGoohan no papel principal. Durante quase todo o episódio não há qualquer menção à Vila, ao Número 2, e o protagonista não é mais chamado de Número 6, mas de Xerife. Sabemos que trata-se da mesma série pelo letreiro no início anunciando seu nome, mas, fora isto, parece tratar-se de uma versão alternativa da história. Toda a farsa é revelada apenas no final, e o episódio acaba funcionando como outra dica para que o público não dê tanta importância para o que é apresentado na superfície, mas para a mensagem que se esconde por trás do que é visto.

Quanto ao final da série, sobre o qual não entrarei em detalhes, ele é o ponto de convergência de todos os temas abordados nos 16 episódios que o antecederam. Há uma densa camada de símbolos, metáforas e alegorias que envolve cada ação de cada personagem em cena. Não é o tipo de conclusão que responde diretamente todas as perguntas que a série gerou na mente de seus espectadores. Muito fica aberto a interpretações, mas não há como negar a genialidade por trás do que foi feito.

A interpretação de Patrick McGoohan como o Número 6 é essencial para que a série cative seu público. Sua atuação é intensa, frenética. Seus diálogos em diversos momentos adquirirem um nervosismo e urgência que são refletidos na montagem excepcionalmente dinâmica, cheia de cortes rápidos e precisos, que inserem o público naquele cabo de guerra disputado entre um homem e todo um sistema.

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Patrick McGoohan e Leo McKern

Merecem destaque também alguns dos atores que interpretaram o Número 2, como Patrick Cargill, que faz uma das encarnações mais cruéis do vilão, levando o Número 6 a armar um engenhoso plano que volta suas estratégias contra ele próprio ("Hammer Into Anvil"). E Leo McKern, cuja participação foi tão marcante no início da série que foi chamado de volta para interpretar seu Número 2 num dos episódios mais fulminantes de O Prisioneiro, "Onde Upon a Time", considerado por muitos o melhor de todos. Nele o Número 6 e o Número 2 ficam presos juntos numa instalação subterrânea, onde entram numa verdadeira guerra psicológica que dura o episódio inteiro. O atrito entre os personagens é palpável, e fica evidente que cada ator está atuando em sua capacidade máxima. É o penúltimo episódio da série, e conduz o público de maneira brilhante ao seu ato final.

Aclamada e objeto de discussões até hoje, O Prisioneiro trás consigo uma enorme carga de criatividade e temas para reflexão que ainda continuam pertinentes. Mais de 40 anos depois de seu lançamento, ela permanece como uma série obrigatória aos admiradores de um ótimo suspense, mas, acima de tudo, àqueles que apreciam uma história bem contada.

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Número 6 em seu Lotus 7

quarta-feira, 25 de maio de 2011

[DESABAFO] Um Pálido Reflexo do que Foi Outrora

Este blog sempre foi um caos. Nunca seguiu uma única linha que orientasse seus posts. No início isto atraiu a atenção de muitos leitores, a maioria amigos meus. Eu escrevia sobre filosofia num post, no próximo postava algum desenho, uma tirinha desenhada toscamente, alguma foto ridícula minha, algum comentário idiota sobre algo que aconteceu, ou um relato sobre como foi meu dia ou minha semana, e assim seguiu por um tempo. Depois veio a fase da série de tirinhas Contos da Inexistência, protagonizada por mim, seguida da saga protagonizada pelos então Catabianos (Suki, Queza, Lolo, Tabi, Sarampo, e Lali), e depois disto vieram Bub e Bobo. Cada uma dessas fases refletindo direta ou indiretamente o que ocorria na minha vida, sejam as amizades que eu mantinha com um grupo de amigos com quem só tinha contato via internet, seja a frustração de estar num emprego onde meu trabalho não era devidamente valorizado, e lidava com um chefe que era um poço de ignorância.

Com o passar do tempo procurei criar um sistema, em que o blog se movia basicamente de tirinhas, alguns contos, e um ou outro post que abordasse minha vida pessoal. Teve uma fase em que eu parei de vez com as tirinhas e resolvi que só escreveria contos, e a partir daí a audiência do blog começou a cair.

A verdade é que o que me motivou a escrever este post foi a viagem no tempo que andei fazendo no último mês enquanto transferia pra esta versão do blog todos os posts, acompanhados de seus comentários, que se encontravam na versão antiga dele. Como bloquearam meu acesso à minha conta no Blogger da Globo, resolvi fazer isto como uma medida preventiva, antes que resolvam apagar meu blog antigo de seus servidores. Além disto, sempre fui um sujeito nostálgico, que procurava constantemente preservar lembranças escritas sobre minha vida. Houve uma época que eu chegava ao ponto de salvar em arquivos com todas as principais conversas que eu tinha com meus amigos no MSN (tenho muitas delas gravadas em CD até hoje). Portanto, não seria muito diferente no caso do meu blog. Já tive um no hoje falecido Weblogger, a primeira versão do Existindo na Inexistência, que apesar de não existir mais online, ainda tenho arquivado num CD. Ainda penso em acrescentar ao arquivo online da versão atual os posts que publiquei lá, pra unificar tudo.

(estou digitando livremente isto aqui, sem muito objetivo mesmo, então perdoem qualquer falta de um)

Acontece que o Existindo na Inexistência é um dos melhores registros do que foi minha vida nos últimos 9 anos. Dia 30 de maio o blog completa esta idade desde sua primeira versão. Não há muito o que comemorar na verdade, e nem penso em fazer nada de especial. Talvez isto aconteça ano que vem, quando o blog completar 10 anos de atividade, mas até lá ainda há de acontecer muita coisa, e nem sei se estarei no clima de fazer algo na ocasião.

Bom, o que estou tentando dizer aqui é que o blog claramente passou por muitas mudanças, que vão desde várias mudanças de postura quanto ao que postar, ao uso de colaboradores, algo que não aconteceu com tanta freqüência até 2009, quando resolvi aumentar o espaço para a participação de alguns amigos meus por aqui. Durou pouco mais de um ano até o gás acabar, e o blog ficar parado por meses.

Infelizmente o que acontece atualmente na internet não é nada animador para blogueiros da primeira geração que escreviam mais textos do que sustentava seus blogs com memes, vídeos do YouTube, ou links para outros blogs mais interessantes, tornando o aumento da audiência seu principal objetivo. Claro que quando nos propomos criar um blog, um do nossos principais objetivos é encontrar nosso público cativo, e esperar dele alguma participação que tanto nos incentive como nos ajude a nos aprimorar como escritores, ou desenhistas, no caso de quem faz tirinhas, como já foi meu caso diversas vezes. No início eu contava com um público razoavelmente fiel, que se deixou atrair pela experiência multifacetada que eu proporcionava. Talvez, apesar de eu ser mais jovem na época, eu era mais esperto, não conscientemente, mas deixava minha criatividade fluir sem muitas amarras, e daí surgia aquele caos todo do início. Se alguém não gostava de ler minhas longas, e muitas delas maçantes, reflexões filosóficas, tinha as tirinhas que eu fazia, ou algum post que abordava um assunto mais trivial de forma bem humorada, ou ainda alguma massagem de ego que eu proporcionava quando postava algo sobre meus amigos, fosse um desenho deles, um post felicitando-os pelo aniversário, ou uma foto comparando um deles com algum ator/atriz ou cantor(a) famoso(a). Coisas bobas, sem muito propósito, mas que agradam as pessoas justamente pela falta de grandes pretensões.

Uma coisa que notei enquanto fazia essa transferência de arquivos do antigo para o novo blog é que eu desaprendi a me divertir com o blog. Lembro que muitas vezes me dava a louca de dizer alguma coisa, ou desenhar, ou escrever, e eu ia lá e escrevia ou desenhava, sem muita razão de ser, e mesmo que saísse de qualquer jeito eu postava. Hoje isto meio que ficou relegado a meus tweets e minhas publicações no Facebook. Alguns aspectos de minha vida online se diluíram também para redes sociais como a Filmow e a Skoob. Às vezes sinto falta do Existindo na Inexistência como centralizador de minhas atividades, mas, é algo que claramente faz parte do passado. A gente tem que se adaptar às mudanças, e talvez uma das maiores foi a dissolução de meu "público-leitor". Na verdade hoje ele praticamente inexiste. Há pessoas que acompanham as notas sobre filmes que escrevo no Filmow, e vez ou outra algumas pessoas elogiam o que escrevo por lá, mas nada como foi um dia aqui. Talvez eu não sirva pra isto, como ficou claro pela pouca atenção e participação que tiveram as críticas que postei por aqui nas últimas semanas.

Eu ando desmotivado de escrever, é isto. Cansei de escrever contos e críticas que são, em sua grande maioria, ignorados. Eu dependo de opiniões e críticas sobre o meu trabalho pra saber se estou fazendo a coisa certa, se estou seguindo o melhor caminho, e a ausência de leitores críticos sempre foi um problema que enfrentei aqui no blog desde o início. Salvo algumas exceções, a maioria me deixava no escuro quanto ao que eu estava fazendo, mas ainda sinto-me agradecido por quem participava do blog ativamente comentando posts, mesmo que de maneira superficial.

Meu blog já não tem mais o mesmo alcance que teve outrora. Muitos dos amigos que apareciam por aqui, me privilegiando com sua atenção e palavras, já não mantém mais contato comigo. Em parte isto é culpa minha, que me afastei de alguns deles por motivos variados, em parte é deles mesmos por perderem o interesse, ou porque estão ocupados cuidando de suas vidas, de seus problemas, dando um rumo pra elas, enquanto eu basicamente continuo girando em falso, sem saber muito bem o que fazer da minha.

Já tentei muita coisa. Tentei tomar muitos caminhos, iniciei muitos projetos solo e coletivos, que no final não deram em nada. Aqui no blog mesmo há uma parcela deles que ficaram incompletos. Alguns ainda devem se lembrar da série de tirinhas da Tartaruga, cuja última prometeu uma continuação que nunca veio. Outros podem se recordar da série de contos Árvores da Memória, que está paralizada há mais de um ano. Deve haver também aqueles que se lembram de Clara, cuja história foi interrompida no 6º capítulo, com a promessa de que se tornaria um livro (tenho escrito até o capítulo 17 num caderno de rascunhos, mas não mexo na história desde 2007). Essa minha mania de começar coisas e não terminá-las sempre me incomodou. Assim foi com a faculdade de publicidade e propaganda, e dois projetos de contos e histórias em quadrinhos direcionados para internet que eu faria com alguns amigos. Cansei disto em 2010, e resolvi que precisava encontrar um meio de reprogramar meu comportamento relativo à forma como eu me comprometia com aquilo que eu propunha fazer, e desde então comecei a elaborar e empregar meios mais eficazes de dividir meu tempo.

De início comecei a fazer isto para dar conta de assistir e ler tudo que vim acumulando nos últimos anos, desde livros a HQs, passando por séries de TV, animes e filmes. Depois comecei a dividir tudo isto em listas de prioridade, e comecei a ler e assistir o que eu julgava mais essencial e importante. E ao longo de 2010 fui me reeducando quanto ao uso de meu tempo livre. É um processo que dura até hoje, em que eu procuro reforçar atitudes e condicioná-las de tal forma que eu possa usar esse mesmo sistema quando finalmente voltar a pôr as mãos em alguns dos projetos que citei acima, além de outros que nem sequer dei início.

Quem me acompanha desde 2003 sabe que foram inúmeras as vezes que cheguei aqui anunciando que estava cheio de planos e idéias para serem postas em prática. No momento não posso dizer o mesmo, embora a vontade de pôr em prática algumas idéias antigas ainda exista, mas não sinto que estou no momento de fazer isto. Minha mente está sintonizada com outras atividades este ano. Muito pra assistir, muito pra ler, e espero tornar tudo que acumulei especialmente no ano passado e neste ano em referências preciosas para meus trabalhos futuros.

Eu ainda me considero um escritor mediano, que se encontra na linha tênue que separa o mediano do medíocre. Tive bons momentos, mas passei por outros tantos lastimáveis, e na viagem no tempo que realizei no último mês eu me peguei diversas vezes constrangido ao ler algo que escrevi alguns anos atrás. Isto é um problema que a maioria dos escritores têm que encarar algumas vezes na vida, sei disto, mas a verdade é que ainda me considero longe de atingir o nível ideal para me considerar um escritor, no mínimo, satisfatório. O mesmo diz respeito a meus desenhos, na verdade no caso deles é ainda pior. Sempre fui um cara que admirou mais as artes visuais do que a escrita, embora eu tenha mais facilidade para escrever. E quando me pego comparando meus trabalhos aos de outras pessoas, tudo que recebo em troca é falta de entusiasmo. Sei que é errado me comparar a caras cujo trabalho está anos-luz de qualidade do que eu produzi até hoje, e que tenho que seguir o meu ritmo, mas muitas vezes é inevitável que isto aconteça.

Meu Deus, acho que este texto não vai terminar nunca se eu não tomar uma atitude!

Bom, eu tinha mais coisas sobre o que falar, mas, pra variar, me perdi no meio do caminho, e agora já não me lembro delas. Que fique aqui registrado que estou ciente do que eu fui, e tenho vergonha de muito do que escrevi e postei por aqui em anos anteriores, mas, ao mesmo tempo, tenho algum orgulho de manter-me coerente com o objetivo deste blog, que é servir de registro sobre quem eu fui e como eu agia e pensava, sobre minhas amizades e atividades criativas um tanto canhestras. Não quero esconder isto de ninguém, mesmo porque tais informações estiveram sempre acessíveis a qualquer um que quisesse ter acesso a momentos de minha vida que não tenha acompanhado de perto.

Não me considero uma pessoa misteriosa, apenas reservada. Apesar disto, tenho alguns segredos e pensamentos que prefiro guardar pra mim, e quando sinto a necessidade de expô-los eu faço isto num diário secreto onde escrevo vez ou outra algo que eu não tenho coragem de dizer pra mais ninguém. Às vezes fico brincando com a idéia de que um dia alguém vai descobrir esse diário e publicá-lo após minha morte. Imagino que até lá eu serei um escritor ou um autor de quadrinhos famoso, e o conteúdo do diário despertará muita curiosidade da parte de meus conhecidos, que terão acesso a revelações jamais imaginadas a respeito de minha pessoa. Mas a verdade é que o que escrevo nele é tão digno de constrangimento que eu espero que jamais venha a tornar-se público.

Até pensei em encerrar o post com um "aqui me desanexo" em nome dos velhos tempos, mas isto aqui já está saturado o suficiente de nostalgia. Digo, então, um "até logo, e obrigado pelos peixes!"

sábado, 21 de maio de 2011

[CRÍTICAS] Possuídos :: O Padrasto :: O Segredo do Lago

Possuídos (Bug, EUA e Alemanha)

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Diretor: William Friedkin
Roteiro: Tracy Letts
Elenco: Ashley Judd (Agnes White), Michael Shannon (Peter Evans), Harry Connick Jr. (Jerry Goss), Lynn Collins (R.C.) , Brian F. O'Byrne (Dr. Sweet)
Ano de lançamento: 2006
Duração: 102 min.

Sinopse: Após escapar de Goss, seu ex-marido abusivo, recentemente solto da prisão, Agnes, uma solitária garçonete com um passado trágico, muda-se para um motel barato de beira de estrada. Um dia R.C., sua colega de trabalho lésbica, apresenta-lhe Peter, um sujeito peculiar e um tanto paranóico, com quem Agnes começa a ter um romance. Porém, as coisas não são como parecem, e Agnes está prestes a experimentar um pesadelo claustrofóbico quando insetos começam a surgir...

Crítica:

Possuídos é daquele tipo de suspense que sustenta-se mais pelas sensações que desperta, do que pelas grandes revelações que reserva ao espectador.

É interessante acompanhar a progressão da história, a começar pela forma gradativa com que é construída. Desde o plano aéreo inicial, em que a câmera se aproxima lentamente do motel em que Agnes vive, rodeado por um deserto que mais tarde mostra-se um reflexo do quadro emocional da personagem; até a longa seqüência de abertura, na qual é perturbada diversas vezes por telefonemas em que a pessoa do outro lado da linha não diz nada. William Friedkin, em poucos minutos, estabelece a atmosfera e apresenta o cenário onde grande parte da história se desenrolará.

Confesso que este é o primeiro filme que assisto com Ashley Judd, mas já fiquei impressionado com o seu talento. Sua interpretação é convincente e cheia de nuances. O desleixo de Agnes nas primeiras cenas gera certa antipatia, mas graças à competência da atriz, e ao ótimo roteiro, logo entendemos os motivos que a levaram a adotar aquela postura, e não demora para que nos simpatizemos com ela, e enxerguemos a beleza que se esconde por trás daquela amargura e baixa auto-estima que vemos no início (claro que ajuda o fato da atriz ser bonita, mesmo com as gordurinhas a mais que a personagem exigia, além de ter um sorriso lindo). Toda insegurança e carência afetiva de Agnes, que não hesita em satisfazê-la com pessoas que lhe dão um pouco mais de atenção, como sua amiga R.C. (Lynn Collins), são bem retratadas por Ashley Judd, assim como a instabilidade de seu humor, que ao primeiro sinal de que está sendo magoada não hesita em deixar sua raiva explodir na cara de quem a fez sofrer.

Mas Possuídos não seria um filme tão magnético sem a outra metade de sua força motriz: Michael Shannon. Seu personagem entra timidamente na história, mas aos poucos toma conta dela e a domina com a mesma eficácia com que estabelecesse um vínculo afetivo-paranóico-obsessivo com Agnes. Shannon é hipnótico em cena, com seus maneirismos, seu olhar perturbador e suas neuroses, tornando Peter imprevisível. É especialmente graças a ele que o filme é tão eficiente na construção de seu suspense.

Paranóia é o que comanda todo o longa e o define. O importante não é entender a origem do que acomete o casal, mas tornar seu público tão obcecado pela verdade quanto Agnes e Peter, a ponto de arrastá-lo pela mesma viagem alucinante a que são submetidos, regada a conspirações governamentais e insetos que só eles enxergam, e cuja presença só eles sentem.

William Fredkin pega o espectador pela mão e o leva até o final sem tropeços, tornando-o a cada passo mais envolvido pela situação kafkaniana de seus protagonistas, e o mantém prisioneiro do quarto de motel de onde Peter e Agnes poucas vezes saem. O desejo do diretor de tornar seu público íntimo de seus personagens evidencia-se especialmente na cena de sexo do casal, em que lampejos da nudez dos atores criam um erotismo minimalista muito eficiente nas sensações que desperta. E aqui cabe elogiar a excelente montagem, que dá ao longa um ritmo compassado e quase hipnótico, que aumenta o interesse do espectador pelo desenrolar dos fatos.

Preservando a natureza incômoda dos eventos, e a incerteza quanto à origem deles, o roteiro é hábil ao oferecer algumas possíveis explicações através da lógica distorcida de seus protagonistas, sem confirmá-las totalmente. Ao encerrar a narrativa sem abrir mão de contar a história apenas do ponto de vista do casal, William Friedkin respeita a lógica interna do longa, concluindo-o no exato momento em que Agnes e Peter chegam a uma resolução para seus conflitos. Para o casal, qualquer explicação que não partisse deles seria insatisfatória e não confiável, tamanho o estado de paranóia em que se encontram no ato final (o visual "alienígena" que o quarto do motel adquire é um indicativo de quão distanciados da realidade exterior eles estão). Uma conclusão corajosa para um suspense imprevisível.

Nota: 4 de 5


O Padrasto (The Stepfather, Reino Unido e EUA)

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Diretor: Joseph Ruben
Roteiro: Carolyn Lefcourt, Brian Garfield e Donald E. Westlake
Elenco: Terry O'Quinn (Jerry Blake), Jill Schoelen (Stephanie), Shelley Heck (Susan), Charles Lanyer (Dr. Bondurant), Stephen Shellen (Jim Ogilvie)
Ano de lançamento: 1987
Duração: 89 min.

Sinopse: Um homem obcecado por valores familiares chamado Jerry Blake casa-se com mães viúvas e divorciadas. Sempre que sua nova família desvia-se dos padrões que ele julga os mais corretos, Jerry mata mãe e filhos, altera sua aparência, assume uma nova identidade, e muda-se para uma nova cidade, onde recomeça seu ritual. Agora é a vez de Susan, e sua filha adolescente Stephanie, mas a garota logo mostra que não será um alvo fácil.

Crítica:

Com uma boa premissa, e um personagem cuja verdadeira natureza é exposta logo na seqüência de abertura, O Padrasto começa promissor, mas infelizmente mostrasse irregular na execução.

Terry O'Quinn é bem sucedido na composição de Jerry Blake, que de início choca, para logo adiante despertar curiosidade ao surgir como um marido carinhoso e um padrasto atencioso. Seus monólogos no porão da casa são bem trabalhados, oferecendo pistas sobre a origem de sua psicopatia, sem entrar em detalhes.

A história ainda conta com outra personagem interessante, a adolescente Stephanie, vivida por Jill Schoelen, que foge dos padrões da época, brigando com socos e pontapés com uma colega de escola que a ofende (no lugar dos clássicos puxões de cabelo); tomando a iniciativa e flertando sem inibições com um garoto; e conduzindo sua própria investigação para descobrir o segredo de Jerry.

Mas, exceto por Charles Lanyer, que torna seu Dr. Bondurant um personagem simpático, o restante do elenco é regular. Susan (Shelley Heck) é insossa e insuportavelmente submissa, e Jim (Stephen Shellen) tem a subtrama mais inútil e tediosa do longa.

O roteiro ousa ao incluir insinuações de que o Dr. Bondurant tem interesses mais platônicos do que profissionais por Stephanie, além de duas cenas rápidas em que a garota aparece nua durante o banho (apesar de Jill Schoelen ter 24 anos na época, vale lembrar que sua personagem tem 16 anos no filme). Na mesma seqüência Joseph Ruben faz uma "meia-homenagem" ao clássico Psicose, levando o espectador a acreditar que verá uma nova reprodução da cena icônica do filme de Hitchcock, apenas para ir contra as expectativas criadas, um detalhe que particularmente me agradou por fugir do óbvio. Infelizmente o filme surpreende apenas nesta cena, pois em nenhum outro momento a história consegue manter o espectador incerto sobre o que virá a seguir.

Previsível e formulaico do início ao fim, O Padrasto vale mais pela curiosidade de assistir Terry O'Quinn, o John Locke da série Lost, interpretando um personagem bem diferente daquele que viveu em seu trabalho mais conhecido.

Nota: 3 de 5


O Silêncio do Lago (Vanishing, Holanda e França)

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Diretor: George Sluizer
Roteiro: Tim Krabbé e George Sluizer
Elenco: Bernard-Pierre Donnadieu (Raymond Lemorne), Gene Bervoets (Rex Hofman), Johanna ter Steege (Saskia Wagter), Gwen Heckhaus (Lieneke)
Ano de lançamento: 1988
Duração: 107 min.

Sinopse: Rex e Saskia, um jovem casal apaixonado, sai de férias. Numa parada em um posto de gasolina Saskia desaparece. Rex passa os próximos três anos tentando encontrá-la, até o dia em que começa a receber cartões postais de alguém que promete revelar o que aconteceu com Saskia.

Crítica:

O que mais chama a atenção em O Silêncio do Lago é sua estrutura narrativa. A história vai e volta no tempo sem rodeios, algumas vezes surpreendendo o espectador ao revelar que determinada cena se passa antes da que acabamos de assistir. Aí reside grande parte da inventividade do longa.

Rex e Saskia surgem como um casal comum, que em questão de minutos se diverte num jogo de adivinhações enquanto viajam, para logo em seguida mergulhar num clima desconfortável quando a gasolina do carro acaba dentro de um túnel escuro, e o rapaz deixa a moça sozinha enquanto parte atrás de combustível. É uma cena importante pela maneira como tal fato afetará Rex mais adiante na história, e por introduzir um elemento simbólico que voltará em diversos momentos do filme: o sonho enigmático de Saskia. Mais sobre ele logo abaixo.

Após fazerem as pazes num posto de gasolina, é a vez de Saskia deixar Rex sozinho para comprar alguns suprimentos para o resto da viagem. Quando o rapaz acha que ela está demorando demais, é inevitável que pensemos que trata-se de uma vingança da garota pelo que seu namorado fez com ela mais cedo. Porém, quando Rex começa a reunir informações sobre os últimos passos de Saskia, os fatos apontam para algo mais aterrador. E esta é apenas a introdução da história.

A grande sacada do roteiro é levar o espectador a acreditar que a trama será totalmente focada nos esforços de Rex para encontrar Saskia, apenas para mudar seu foco para a história de Raymond Lemorne (Bernard-Pierre Donnadieu), o sujeito que a seqüestrou. A partir daí o filme reconstrói toda a cadeia de acontecimentos que o levaram a cometer o crime, e passa a revelar as motivações do personagem, que se torna o grande protagonista do longa.

Raymond guarda semelhanças com o personagem principal do romance Crime e Castigo, de Dostoiévski, encarando o crime como um meio de pôr em prova sua filosofia de vida, mas, ao contrário de Raskólnikov, não permite que a culpa o atormente a ponto de voltar seu plano contra si mesmo, além de ter uma vida social saudável, e uma família que o respeita por ser um pai e um marido exemplar. Bernard-Pierre Donnadieu trabalha com precisão ambos os lados de Raymond, cujo plano é exaustivamente ensaiado, e revelado em detalhes, enquanto procura manter as aparências ao lado da esposa e filhas. É graças ao ator que o filme funciona como um intrigante estudo de personagem, ao mesmo tempo que oferece um suspense envolvente.

Voltando ao sonho de Saskia, a dupla de ovos dourados flutuando num espaço negro ganha várias rimas visuais em diversos pontos da narrativa, como nas cenas noturnas protagonizadas por Rex, onde o brilho amarelado dos faróis de carros remetem diretamente ao túnel escuro onde Saskia se lembra do sonho no início do filme. Uma forma sutil encontrada pelo diretor para ilustrar a culpa que ainda atormenta Rex, além de servir como pistas sobre o destino da garota e a conclusão da história.

Por detalhes como o descrito acima, e a forma como o roteiro trabalha a interação de Rex com Raymond, sem apelar para lugares comuns, aumentando exponencialmente o interesse e a curiosidade do espectador pelo desenrolar dos fatos, O Segredo do Lago é uma aula sobre como fazer um suspense de qualidade sem histrionismo e reviravoltas absurdas.

Nota: 4,5 de 5