terça-feira, 26 de outubro de 2010

[O MÊS DOS MORTOS] The Walking Dead – A Série de TV

ATENÇÃO: o texto abaixo contém alguns SPOILERS!!

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31 de outubro de 2010 já se tornou uma data histórica. 42 anos depois de George Romero nos brindar com um dos maiores e melhores clássicos do terror, o seminal A Noite dos Mortos Vivos, Frank Darabont, o diretor responsável por algumas das melhores adaptações cinematográficas de obras de Stephen King (Um Sonho de Liberdade, O Nevoeiro, entre outras), estréia no visionário canal AMC (da excepcional Breaking Bad, e da aclamada Mad Men), a adaptação de uma das mais elogiadas HQs de terror já escritas, criada por Robert Kirkman e Terry Moore. É um sonho se realizando para uma legião de apreciadores de um dos subgêneros mais populares do terror: o apocalipse zumbi.

Comentário do C: Uma coisa curiosa sobre o Halloween é que ele é um dos poucos acontecimentos da cultura anglo-saxônica que não "pegou" por aqui. Nós temos um feriadinho paia que ninguém dá muita coisa por ele (dia de finados), mas não é nem perto do quanto a véspera do dia de todos os santos é importante na cultura americana. Evidentemente que é o dia que começará o apocalipse zumbi, então, por favor, tenham a decência de não começar nenhum experimento ou ritual nesta data, obrigado.

Agora, sei lá, foi só eu que não sabia que porra de canal é esse AMC? Acidente Molecular Cerebral?


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A verdade é que tal fato já era esperado. A HQ fez sucesso praticamente desde sua estréia em 2003 (a primeira edição foi reimpressa 6 vezes!), e conforme Robert Kirkman ia demonstrando sua capacidade de escrever uma série longa sem perder a mão, e mantendo o leitor sempre ansioso pela próxima edição, não demorou muito pra começarem a achar que era o material perfeito pra ser transformado numa série de TV, desde que houvesse alguém capaz de convencer algum canal de televisão de que uma série de terror focada no drama dos personagens era garantia de sucesso.

Comentário do C: Eu tenho todas as críticas do mundo a Lost, mas tenho que admitir que a série mudou a visão que o mundo tem dos seriados. Depois de Lost se decidiu que dava pra extrair um "drama pessoal" sério de qualquer coisa. Tanto é que tivemos até de Super-Heróis (antes de Heroes cagar no tomate). Então, uma vez provado que dava pra aplicar esse "padrão seriado" de qualidade, era só questão de tempo até alguém perceber o óbvio: Walking Dead.

Tenho fé que um dia expandirão esse padrão de qualidade (focado em tramas pessoais bem feitas) para universos que eu pago pau infinitamente. Quem não daria a orelha da mãe por um seriado foda de Halo?

Adendo do Wolv: Além disto, como bem observou o pessoal do Omelete, Walking Dead é uma série que, se fizer sucesso (e muitos estão apostando nisto), abrirá espaço para que outros quadrinhos de temática mais adulta sejam adaptados pra TV. Já estão falando de uma adaptação de Sandman, e no ano passado surgiu o boato de que adaptariam Fábulas, outra HQ que recomendo muito a leitura.

6 anos depois do lançamento da HQ, eis que surge Frank Darabont com uma proposta de adaptar os quadrinhos para o formato de telefilmes, a qual é aceita e bancada pelo canal AMC. Conforme a produção avançava, os executivos da emissora acreditaram na força do material que tinham em mãos, e aprovou a produção de uma série. A confiança é tanta que já deram sinal verde para a 2ª temporada.

Comentário do C: Ainda podemos ter fé no bom senso da humanidade? E... WTF, canal AMC ainda tô tentando engolir. Chamarei de America Channel doravante, pronto.


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Tanto a história da HQ como a da série gira em torno de Rick Grimes (Andrew Lincoln), um policial de uma cidadezinha de interior que é baleado durante uma operação que dá errado, entra em coma devido à gravidade do ferimento, e só desperta depois que o mundo inteiro virou um caos. Daí pra frente, descobrimos com Rick o estado em que as coisas se encontram.

Comentário do C: Pessoalmente esse não é meu estilo de narrativa favorito, devo dizer. Veja, o "cara novo" no mundo através de quem o espectador conhece o universo (como melhor exemplo, pegue a Arquiteta de Inception, para quem é explicado tudo, e quem são os caras) é uma técnica válida, mas eu prefiro algo mais estilo Zumbilândia - que o cara já conhece o mundo, já tem suas regras, e nós vamos sendo apresentadas a elas sem prévio aviso (em Zumbilândia não tem essa "carona" narrativa com o protagonista).

Adendo do Wolv: Tendo em vista que a HQ foi lançada um ano depois de Extermínio, que representou uma reinvenção do gênero na época, podemos dar um desconto pro Robert Kirkman, que, afinal, estava tentando emplacar o projeto partindo de uma fórmula que deu certo. Felizmente, através do desenrolar da trama, ele se distanciou muito de sua fonte de inspiração inicial.

Muitos vão falar da semelhança entre o começo da série e o do filme Extermínio, de 2002, e alguns até o acusarão de plágio. Na HQ realmente soa como um plágio, porque não há muitas diferenças entre as duas histórias neste ponto, mas na série de TV, Darabont conseguiu realizar um trabalho tão primoroso expandindo essa seqüência (nos quadrinhos dura apenas umas poucas páginas), a ponto de torná-la mais tensa e impactante que a vista no filme de Danny Boyle. É uma seqüência brilhante, que cria uma atmosfera opressiva, gerando estranheza de início, depois ansiedade e por fim puro terror.


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Comentário do C: Hmm, nesse ponto eu discordo. Eu realmente prefiro a cena de Extermínio por mais nada, porque Londres jogada às moscas é muito mais perturbador que uma cidadezinha do interior de merda, que provavelmente estaria às moscas de qualquer jeito. O impacto é totalmente diferente. Eu achei a seqüência arrastada demais, e os primeiros mortos-vivos que aparecem no seriado são jogados sem muito estilo.

Veja, todo mundo sabe que os mortos vencem pela quantidade, e veremos hordas de zilhões deles, é isso que se espera afinal, mas quando aparece o primeiro para dar o clima de "não estamos mais no Kansas, Totó" merece um tratamento especial. E eu achei que faltou esse brilho, que é um dos grandes momentos quando falamos de mortos-vivos. Como o protagonista descobre que os mortos andam é um momento marcante, e eu achei muito "méeeh" nesse episódio.

Adendo do Wolv: Concordo em parte. De fato o primeiro contato do Rick com um morto-vivo deixou a desejar.

E sobre eu achar a seqüência melhor que a de Extermínio, acredito que seja mais por já fazer algum tempo que assisti o filme. O impacto foi maior justamente por esse "distanciamento".

A série conseguiu traçar um panorama geral da tragédia que assolou o mundo ainda mais inquietante, optando por gastar mais tempo apresentando o cenário de desolação e abandono (e demonstrando o quanto o canal está confiante de seu sucesso, a ponto de investir tanto na produção de cenários).

Comentário do C: Ainda considero a possibilidade da série ter sido filmada numa quarta-feira de uma cidadezinha cu do mundo do interior qualquer. Diz aí, Rodrigo, Guaxupé realmente seria muito diferente se acontecesse um apocalipse zumbi ou mal daria pra notar? Pois é.

Adendo do Wolv: Guaxupé seria mais morta do que normalmente já é.

Outro ponto em que a série se sai melhor que os quadrinhos é no desenvolvimento dos personagens.

O diálogo entre Rick e Shane, antes do tiroteio, é uma cena que não existia na HQ, mas que funciona muito bem na série, estabelecendo uma dinâmica entre eles, que mais adiante criará um contraste maior quando os dois se encontrarem no acampamento de sobreviventes, visto rapidamente no final do episódio.

Comentário do C: Eu sou suspeito pra falar, já que eu sou um grande sucker por esse tipo de conversa. Que atire a primeira pedra quem não lembrou dos filmes do Tarantino onde os personagens normalmente têm conversas filosóficas absurdamente fodas sem relação nenhuma com a trama (como por exemplo, qual a moral da música "Like a Virgin"). A conversa desse episódio não é tão infinitamente foda assim, mas é muito bom ver os personagens em vidas normais falando sobre coisas do cotidiano, e não apenas vivendo em função da aventura.

O mesmo pode ser dito sobre o breve período em que Rick fica na casa de Morgan e Duane. Além de servir de guia para Rick, Morgan é quem protagoniza uma das melhores cenas deste piloto, quando procura superar seus sentimentos pela esposa morta e convertida em zumbi, e tenta matá-la. É uma seqüência de forte carga emocional, que tem grande impacto sobre o espectador, em parte graças à ótima atuação de Lennie James, que se destaca neste episódio, e também à edição excepcional, que alterna entre o conflito emocional de Morgan e o conflito moral de Rick, quando este volta ao parque pra dar cabo da zumbi sem pernas.

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Comentário do C: Eu estou com acesso limitado a internet aqui, então me confirma: esse por acaso não é o negão de Jericho? Porque se for o mesmo, tá explicado tudo. Na mão de qualquer ator teria sido uma cena amarrada e chata pra caralho, não adequada para caras fodas que nem eu, mas a coisa é tão bem feita, que eu não só tive saco o bastante para assistir, como fiquei em dúvida sobre o que iria acontecer. E, tipo, eu sou inteligente pra caralho, então eu querer saber o que vai acontecer, e não apenas deduzir, é um grande mérito da série.

Adendo do Wolv: Sim, é ele mesmo.

Claro que a série não fica só por conta de desenvolver e dar maior complexidade psicológica a seus personagens. Como todo bom filme de desmortos, The Walking Dead também tem uma boa dose de gore, e faz questão de exibir isto na ótima cena de abertura, quando Rick é forçado a plantar um tiro na cabeça de uma garotinha zumbi. Eu chamo essa cena de “ou vai ou fica”. É daquele tipo que já deixa bem claro para o espectador o que esperar da série, e já afasta de vez quem não tem estomago pra encarar cenas tão fortes como esta. Daí pra frente, prepare-se pra ver muitos tiros e tacos de baseball explodindo miolos de mortos vivos, sempre mostrados de maneira explícita, e o “banquete” no final, que mostra até onde vai a fome dos zumbis por carne.

Comentário do C: HOLY DANCING CRAP OF AWESOME APOCALIPSENESS! Necessário dizer apenas que a série começa com uma garotinha levando um headshot na cabeça! Isso é infinitos níveis de formidavel fr0m h311!

O que tem de tão incrivel numa série abrir com uma criança sendo baleada na fuça? Você deve estar pesando que eu sou um sado-pedo-necrófilo amalgamo, mas não é isso. Nos tempos politicamente corretos em que vivemos, nos últimos dez anos, qual foi a última vez que você viu alguém dizer um ai para uma criança? Eu lembro do brilhante AVP2 (um dos filmes mais underrated de todos os tempos) e só. Deve ter mais. Mais precisamente, em alguns estados americanos, você pode perder a guarda de seu filho se você elevar a voz com ele. Isso diz a bicharlhadice dos tempos em que vivemos.

Então eu pensei "pfff, eles não têm OS CULHÕES NECESSÁRIOS para fazer um seriado foda sobre mortos-vivos".

E a série me respondeu "ah é, bebé? Então saca só!"


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EU FUI UM HEREGE SEM FÉ! ÓH COMO FUI TOLO, COMO FUI TOLO!

The Walking Dead tem tudo pra agradar quem curte boas histórias de terror e suspense, e dramas de sobrevivência. A ambientação lembra tanto os filmes clássicos de Romero, quanto o romance Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago, cujas as vítimas da epidemia de cegueira que assola o país não são muito diferentes dos mortos-vivos tradicionais (recomendo o livro e a adaptação para o cinema).

Comentário do C: Recomendo só a adaptação para o cinema, mas meu ponto contra o Saramago não é a questão aqui...

A julgar por este início, deu pra notar que Frank Darabont e sua equipe de roteiristas estão dispostos a ser tanto fiéis à obra original, como torná-la ainda melhor em sua transição para a TV, com um cuidado maior no desenvolvimento dos personagens e seus dramas, e numa melhor exploração do mundo que se criou após a praga.

Tendo lido a HQ até a edição 54 (atualmente está na 78 lá fora), posso garantir que a história só tende a melhorar, com muitas reviravoltas, momentos chocantes, e cenas altamente polêmicas. A equipe responsável pela série já mostrou que tem coragem de ousar, e isto é um ótimo sinal. A TV ficou mais interessante com a estréia de Walking Dead, sem dúvida a melhor série da temporada.

Comentário do C: Um último ponto que eu gostaria de ressaltar é a incrivel capacidade de chocar dos caras. Tipo, eu já vi muita coisa, mesmo, e pouca coisa nesse mundo me impressiona. Mas eu fiquei impressionado com a cena do cavalo. Para te convencer a assistir essa série, direi que tripas de cavalo são devoradas com o mesmo ainda se debatendo. Pô, era um bom cavalo, era um cavalo maneiro, e havia empatia com ele, e então... e então... e então... PQ? POR QUEEEEEEEEEEEEE?

O cavalo não! Tudo menos o cavalo!

O que me lembra daquele filme Eu Sou a Lenda, onde 5 bilhões de pessoas morrem, mas a cena mais emocionante do filme é quando um único cachorro morre. Isso não diz tanta coisa sobre a nossa espécie?


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