sábado, 28 de novembro de 2009

As Árvores da Memória - Capítulo 9: "Casa na Árvore"

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Perdeu os primeiros capítulos deste conto? Então clique nos links abaixo para atualizar-se:


Não havia nenhuma boca disponível pra saciar Paula. Diante da Árvore dos Beijos, ela teria que se contentar com lembranças. Necessitava de outro. Precisava sentir o toque íntimo de alguém em seus lábios. Por isto logo estendeu a mão. Quando estava a milímetros de tocar outra folha, os degraus piscaram...

- Que história é esta agora?! Deu pau nessas coisas?

Procurou não dar importância pro fato, e voltou sua atenção para a folha. Daí começaram os sons de teclas de piano, vindos também dos degraus.

- Tá bem, tá bem! Já entendi! - eles piscavam numa seqüência que saía de seus pés e ia até a próxima árvore - Vou fazer o que vocês querem, ok? Pelo jeito vocês entendem mais de onde estou, e pra onde preciso ir, do que eu... (céus, como você conseguiu chegar a uma conclusão tão óbvia, Paula? tô impressionada...)

Caminhou meio emburrada até a próxima árvore. "Hunf! Tanto faz. Não seria de verdade mesmo. Só uma lembrança de algo que já se foi." Diante dela lançou um olhar meio desleixado, distraído... "Mas foi tão real! Foi como se eu estivesse lá! Não tem diferença nenhuma! Hmm?! O que tá escrito ali?"

AMORES

- É, parece que no final das contas foi uma boa idéia seguir vocês - disse Paula ao degrau onde pisava, exibia um sorriso satisfeito no rosto - Vamos ver o que você tem, minha querida - empunhou o degrau solto que ainda carregava consigo e...

CRÁSSSS!!!!

Mais chuva de cacos, mais degraus brotando do ar, mais novos passos dados rumo a velhas recordações.

A primeira folha que viu dizia: CASA NA ÁRVORE

Não precisou tocá-la pra sentir um arrepio quente que percorreu seu corpo da cabeça aos pés. Por impulso levou seu punho até a curva entre os seios. O gesto durou uns poucos segundos, e Paula nem deu importância pra ele. Mas algo dizia que era aquela, e seus dedos curiosos foram até ela. Tocou-a e leu novamente a frase.

Sentiu-se levada por um vento doce e suave. Havia algo diferente naquela nova incursão de sua consciência. Como se o caminho até aquela lembrança fosse feito de uma pavimentação especial. Pareceu demorar-se mais naquela viagem, ao contrário das outras, que se deram de maneira súbita.

Quando finalmente chegou estava concentrada, debruçada numa folha de papel, onde desenhava um jardim muito colorido com giz de cera. Podia ver outros espalhados na mesa. Por ali passava uma brisa. Som de folhas se tocando. Sentia uma grama macia sob a sola dos pés descalços. Era um dia ensolarada, mas não quente. Era um bom dia para...

- Olha! - um borrão multicolorido invadiu seu campo de visão.
- Aaaai!! - seu coração disparou. Olhou pro lado, e viu um menino, segurando uma folha de papel com um desenho pro qual não deu tanta atenção quanto para o rosto de quem a segurava - Vai dar susto na sua avó, Felipe! - ele devia ter uns oito anos.
- Hahahaha! Você é medrosa demais!
- Medrosa nada, seu bobão! Eu tava desenhando! Não tava esperando que você aparecesse!
- Tá desenhando o quê? - e espichou o pescoço na direção da folha sobre a mesa.

Paula pulou sobre o desenho, como se ele fosse uma bomba prestes a explodir, e ela uma heróina tentando impedir que a onda de choque da explosão se espalhasse.

- Não olha! Não gosto que ninguém olhe meus desenhos antes de terminar!
- Ah, que besteira!
- Besteira nada, tá?
- Tá bom. Olha os meus então! Aqui ó! - e estendeu as folhas para Paula.

Antes de pegá-las virou pra baixo a folha com o seu desenho sobre a mesa. Não tinha reparado antes, mas agora podia notar que eram mãos de criança as que pegavam as folhas de Felipe. Pelo tamanho era da mesma idade que o menino.

Olhou com curiosidade para o primeiro desenho:

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- Que casa estranha...
- É uma casa na árvore.
- Casa na árvore? - olhou um tanto descrente para Felipe.
- Aham! Tive a idéia ontem, e desenhei. Esse é só o primeiro. Tem mais nas outras folhas! Olha!

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- Essa é a parte de trás dela.
- Que janela grande! - disse Paula, franzindo a testa com um ar de séria. Passou pra folha seguinte.

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- Essa aí é ela de lado.
- E que escada é essa que vai pro teto?
- Ah, é pra gente subir e tomar sol. Passa pra próxima pra você ver o teto!

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- Nossa..! É um teto solar?
- Aham! - e o sorriso de Felipe ia de orelha a orelha - Legal, né?
- É sim! - e passou pra folha seguinte.

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- O que é isto?!
- É ela vista de baixo!
- Puxa, Felipe! Você desenhou ela de todos os lados!
- Claro que sim! Eu pensei em tudo!
- E esse pontinho cinza aqui é o quê?
- Ué, pensei que você já tinha descoberto. É um daqueles canos de metal que os bombeiros usam pra descer lá de cima, onde eles ficam quando não tem nada pegando fogo, até os caminhões. A gente sobe pela escada e desce por ele!
- Ah tá! Legal! Deve ser divertido fazer isto!
- É sim! Por isto que vai ter! Olha a próxima! Olha a próxima!
- Espera! - e passou a folha pra trás.

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- Essa é a sala de visitas e de jogos.
- Mas só tem uma mesinha no meio... Cadê os jogos?
- Isso aí é um tabuleiro de damas! E os outros jogos depois eu desenho.
- Então tá! - próxima folha.

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- Essa aí é a janelona da parte de trás, só que do lado de dentro.
- E que negócio é esse no chão?
- É uma passagem secreta. Daqui a pouco você descobre pra onde vai.
- Certo.

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- O que é isto?
- Os cofres onde eu vou guardar meu dinheiro!
- Ah, até parece que você vai precisar desse tanto de cofre!
- Vou sim! Eu vou ganhar muito dinheiro quando for grande!
- Ah é? E vai ganhar como?
- Com a minha fábrica de brinquedos! Eu vou fazer um montão de brinquedos, e a minha casa vai ser cheia deles! E com o dinheiro que eu ganhar eu vou comprar mais um monte de revistinhas e doces.
- Sei, sei... Deixa eu ver a próxima.

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- E isto aqui, o que é?
- É pra guardar o montão de doces que vou comprar.
- Você vai é ficar cheio de bichinhos nos dentes.
- Não vou não! Eu escovo eles toda vez que eu como.
- Então você vai ficar gordo que nem o Fábio, de tanto comer doce!
- É só eu correr bastante que eu não fico!
- Então tá, né... - e foi adiante.

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- E aqui?
- É o quarto de visitas.
- Nossa, que casa na árvore grande essa!
- E você ainda nem viu meu quarto! - era notável a empolgação na voz de Felipe.

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- Esse aí é um pedaço dele.
- Essa mesinha com as cadeiras é pra quê?
- Pra eu sentar com meus amigos pra gente fazer desenhos e ler revistinhas.
- E isso aqui do lado é um guarda-roupa?
- Aham!
- E o que é isto dentro da porta?!
- É um banheiro!
- Ah, Felipe! Onde já se viu banheiro dentro do guarda-roupa?
- Ué, o meu vai ser! Já morei numa casa assim! Era bem legal!
- Que coisa mais esquisita!
- É nada, você que é boba!
- Não sou não! Bobo é você!
- Tá, pára de falar e continua olhando.
- Eu paro quando EU quiser, tá?
- Tá bem.
- Hunf..!
- Já parou?
- Já...

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- E isso aqui?
- É a estante onde eu vou guardar minhas revistinhas. Quando eu for grande vou ter um punhado delas!
- Você só sabe falar dessas revistinhas suas.
- É porque elas são muito legais! E tem uns desenhos fera!
- Hmmm...

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- E que lugar é esse?
- Meu laboratório.
- Laboratório, Felipe?! Pra quê?!
- Pra estudar insetos, ué!
- E pra que você vai estudar insetos?! Eles são nojentos! Menos a joaninha.
- São nada! Eles são legais. Teve uma vez que eu joguei um monte de açúcar dentro de um potinho e fiquei esperando até um mosquito entrar. Daí eu fechei correndo com a tampa e fiquei olhando ele lá dentro. Foi divertido!
- Não foi não! Tadinho do mosquito!
- Tadinho nada! Se eu fosse um mosquito eu ia adorar ficar preso num lugar com um montão de açúcar. E ele ficava toda hora lambendo as pedrinhas de açúcar.
- Mas ele fica sem ar lá dentro! Ele morre!
- É por isto que eu fiz uns furinhos na tampa.
- Ah tá! Então não tem problema.
- Viu só? Eu penso em tudo!

Paula não deu nem bola pro orgulho de Felipe e passou pra próxima folha:

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- Que lugar mais maluco!
- É a parede do meu quarto onde eu vou desenhar tudo que eu quiser. Vai ficar bem fera!
- Eu achei muito esquisita. E o que é isto debaixo da cama?!
- Olha a próxima folha que você vai descobrir.

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- Hã?! Isso aqui é um porão?
- Isso mesmo! - e novamente surgiu aquele sorrisão satisfeito.
- Mas Felipe! Onde já se viu casa na árvore com porão?
- Que que tem? A minha vai ter, ué! Ela vai ser a melhor casa na árvore de todas! Um dia a gente vai se casar, e eu vou construir essa casa, e a gente vai morar nela pra sempre!
- Hahaha! Seu bobo! Quem disse que a gente vai se casar?
- Eu, ué!
- E se eu não quiser?
- Você vai querer sim, porque eu sou o menino mais legal do bairro.
- É, isso você é mesmo.
- Viu? E você é a menina mais legal que eu conheço.
- Sou é?
- Aham.
- Hmmm... E esse porão com essa mesa e um monte de cadeiras, vai servir pra quê?
- Pras reuniões do meu clubinho de amigos.
- Mas precisa ser debaixo da sua cama?
- É, porque tem que ser num lugar secreto.
- Por quê?
- Porque a gente não quer que ninguém descubra onde a gente faz reunião.
- Sei... Mas... Espera aí! Se a gente vai se casar, e a casa vai ser nossa, a gente não vai dormir no mesmo quarto, que nem a minha mãe e o meu pai?
- Vai sim.
- Então pra que você vai ter um quarto só pra você?
- Pra guardar meus brinquedos e minhas revistinhas, ué! Se você quiser pode ter um só seu também.
- Hmmm... Vou pensar.
- Agora dá aqui que eu vou fazer o desenho do nosso quarto! - e tomou de sopetão as folhas das mãos de Paula - Só tá faltando ele. Vou desenhar nós dois juntos na janela. - fez uma pausa enquanto botava as folhas em ordem. Depois deu uma olhada rápida para Paula, e logo em seguida pra mesa onde estava - E deixa eu ver esse desenho seu!

Felipe arrancou a folha da mesa e saiu correndo.

- Devolve, Felipe!

Paula levantou num pulo e correu atrás dele pelo jardim afora, sem nem se tocar que ainda estava descalça.

- Devolve aqui, seu chato! Não é pra ver ainda! Você é um chato, tá me ouvindo? Não é o menino mais legal do bairro coisa nenhuma! O Fábio é mais legal que você!
- É nada! - gritou ele lá do poste de luz - O Fábio é um catarrento!
- Vou contar pra sua mãe que você tá falando nome feio!
- E ele também tem um buzanfão desse tamanhão! E deve sair um cocozão enorme de...!
- Ai, que nojo! Boca suja! Vou lavar sua boca com sabão!
- Vai ter que me pegar pri-mei-roooo!! Hahaha! - e balançava a folha com o desenho de Paula no ar.
- Me devolve, Felipe! - gritava Paula de olhos fechados e batendo um pé no chão.
- Vem pegar!
- Aaaaaaah!!! - e disparou até ele, que saiu correndo, mas não tanto quanto Paula.

BUMP! fez Paula quando pulou em cima de Felipe. Folhas voaram pra todos os lados. Felipe não parava de rir, mesmo com Paula caída em cima dele.

- Tá rindo do que, seu bobo?!!
- Hahaha! De você! Tá vermelhinha!
- Eu... - e olhou praquele menino dono de um sorriso com dentes pequenos, espertos olhos castanhos, o cabelo cheio e liso, quase loiro, espalhado sobre a grama - Tô vermelha de raiva de você!
- Tá vermelha de ver-go-nha! Hahaha! - e a barriga dele subia e descia com a risada.
- Bobo! - deu um tapa, bem de leve, na bochecha dele - Não tô achando graça nenhuma!
- Hahaha! Ficou mais vermelha agora! Aqui ó! - e tocou com os indicadores as bochechas de Paula - Bem aqui!
- Bobão! - empurrou as mãos de Felipe pra longe do seu rosto, saiu engatinhando de cima dele - Peguei! - e levantou-se com ar de vitoriosa, erguendo a folha de papel com seu desenho.
- Eu nem ia olhar, sua boba! Tava só brincando! - dizia o garoto enquanto se erguia do chão.
- Hunf!
- A gente continua amigo, né? - perguntou Felipe, enquanto espanava com as mãos os pedacinhos de grama e terra de sua roupa.
- Não sei!
- Ah, pára! Você sabe que eu sou o menino mais legal do bairro!
- Não é não!
- E você é a menina mais bonita do bairro!

E Paula olhou surpresa pra Felipe, as sobrancelhas bastante erguidas, sem dizer uma palavra. E Felipe olhou pra Paula com o sorriso que ficaria gravado em sua memória mais do que qualquer outra lembrança que tinha dele. Foi a primeira vez que Paula o achou lindo. Na verdade ela sempre achou Felipe bonito, mas não lindo, não do jeito que ela via agora, um jeito especial.

- E a gente vai se casar!

CONTINUA...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

[Quick Post] The Rocky Horror Picture Show

Então, como alguns de vocês sabem (ou não), sou um pouco viciado em comprar dvds... Do tipo, ta menos de 20 reais, to levando, quase não importando o filme, logico que dentro de terror/suspense/filmes do coração que nao sao romances, como por exemplo, Labirinto com a Jennifer Connely e o David Bowie... Aquele tipico filme que vc viu quando era criança e fica na cabeça.
Então, ontem chegou o dvd de The Rocky Horror Picture show, que é um musical ambientado em filmes de terror que quase chega a não fazer o menor sentido, mas é engraçado pra caramba de tão non sense! Fora que a abertura do filme é muito foda, com o fundo preto e só uma boca cantando o tema de abertura. Enfim, esse blablabla todo foi pra eu ter motivo pra postar o link com uma das musicas. Com vocês, Time Warp:



Let's do the time warp again!


Curiosidade: Quem fez o papel do vampiro travesti foi o Tim Curry HAHAHAHAHAHAHA
De Pennywise...


a Frank-n-Furter:


E ele morre de vergonha até hoje... pq será? =X

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

[CRÍTICA] Lunar (Moon, 2009)

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Dirigido por: Duncan Jones
História: Duncan Jones
Roteiro: Nathan Parker
Elenco: Sam Rockwell, Kevin Spacey, Dominique McElligott, entre outros
Trilha sonora: Clint Mansell


Escrever uma crítica sobre Lunar é uma tarefa um tanto complicada, pois trata-se de uma ficção científica cheia de pequenas viradas e surpresas que, se descobertas antes de assisti-lo, pode acabar com boa parte da graça. Mas, eu gosto de um desafio, então vamos a ele.

De início descobrimos que a história se passa num futuro próximo, onde a crise energética é um problema mundial ainda mais preocupante, e a humanidade se vê forçada a correr atrás de outras fontes de energia. É então que algum espertinho levanta a mão e pergunta: se a Terra não tem muito a oferecer, por que não apelar pra Lua?

A introdução trata de dar uma aulinha básica de como funciona o processo: montam por lá uma base de extração de rochas lunares, escavadeiras "raspam" a superfície da Lua, as rochas são empacotadas e enviadas pra Terra, onde uma usina extrai a energia solar que se acumulou no interior delas ao longo de milhões de anos. Ou seja, basicamente é o mesmo que fazemos pra extrair a energia armazenada na madeira ao queimá-la.

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Lunar é o nome da empresa responsável pela extração. Ela envia um funcionário que cuidará da manutenção de toda a base sozinho durante 3 anos. Encerrado esse período o contrato firmado entre a Lunar e o operador é cumprido, e o sujeito ganha o direito de voltar pra casa. É neste ponto que encontramos o protagonista, Sam Bell.

Nos primeiros vinte minutos do filme, através de uns poucos flashbacks, e algumas mensagens de vídeo enviadas a ele pela esposa, descobrimos que seu relacionamento com ela não andava bem das pernas e que os dois tiveram uma filha antes de sua ida pra Lua. Assim, seu "exílio" serviu pra eles "darem um tempo", no que ela o incentivou, acreditando que o ajudaria a refletir sobre o rumo que gostaria de dar ao seu casamento quando retornasse. Três anos depois, e disposto a recomeçar da melhor forma possível, Sam não vê a hora de voltar pra casa, para os braços da esposa e da filha.

Chama atenção o cuidado na criação de pequenos detalhes que demonstram a preocupação de Sam em não se deixar abalar pela situação em que se encontra há 3 anos. Por exemplo, a fim de não se perder e nem se deixar perturbar pela monotonia visual da base, ele dá nomes de pessoas às muitas partes de GERTY, o supercomputador que monitora todas as atividades da base, fingindo que são seus companheiros de trabalho.

Além disto, para não deixar que a solidão o afundasse numa depressão severa, Sam começou a bater altos papos com GERTY, que é dotado de inteligência artificial (voz de Kevin Spacey). Ainda arrumou um jeito de ocupar sua cabeça na construção de uma maquete da cidade onde morava, e no cultivo de plantas numa pequena estufa, com as quais também troca umas idéias.

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As conversas triviais com as plantas também são outro indício deste cuidado, soando divertido o momento em que ele tenta ignorar um determinado personagem trocando fofocas sobre o "interesse romântico" de uma delas.

Outro ótimo acerto do filme é a composição visual da principal personificação de GERTY, que exibe a todo momento emoticons básicos (destes de MSN mesmo) correspondentes ao sentimento que deseja imprimir em cada fala no pequeno monitor que traz em seu corpo robótico, dando um toque de ironia até mesmo nos momentos mais dramáticos. E a voz monocórdica usada por Kevin Spacey soou perfeita tanto para o papel em si, como para que o personagem remetesse a outro supercomputador famoso da ficção científica cinematográfica.

Mas o drama de Sam, há poucos dias de completar os 3 anos exigidos por seu contrato com a Lunar, é o foco principal de toda a história do filme. Quando fatos estranhos começam a ocorrer dentro e fora da base onde trabalha, interferindo em sua rotina, e levando-o a questionar até que ponto conseguiu preservar sua sanidade ao longo dos anos, é que a trama de Lunar engrena pra valer.

E é neste ponto que entra outro elemento importantíssimo para a construção do ótimo suspense psicológico que percorre todo o filme: a trilha sonora de Clint Mansell. Responsável pela icônica trilha sonora de Réquiem Para Um Sonho (que considero uma das mais marcantes já compostas), Mansell criou músicas que se integram perfeitamente à trama de Lunar, hora melancólica, hora contemplativa e, quando necessário, perturbadora e inquietante, o trabalho do compositor se mostra em perfeita sintonia com o clima que Duncan Jones visa transmitir ao espectador, sendo um dos grandes destaques de Lunar.

Sam Rockwell faz um ótimo trabalho, que não chega a ser genial e soberbo, como muitos estão dizendo por aí, e duvido muito que ele chegue a concorrer a um Oscar, embora não descarte a possibilidade de levar alguns prêmios de menor e médio porte nos próximos meses. Trata-se de um ator que sabe interpretar muito bem personagens excêntricos, e a situação um tanto insólita na qual se encontra seu "xará" ficcional combina bem com seu estilo de interpretação um tanto imprevisível.

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Merece também elogios a maneira como a história brinca com as convenções do gênero, sugerindo muitas vezes que veremos mais uma idéia batida sendo abordada, apenas para nos surpreender com uma solução que vai muitas vezes totalmente contra a expectativa criada.

Inteligente também é a decisão tomada pelo roteirista, que "diluiu" a solução do mistério ao longo do filme, ao invés de optar por explicá-lo de uma vez só no final, tentando surpreender através do choque. Não há grandes revelações em Lunar, mas sim respostas que chegam a cada passo dado por Sam em busca de uma compreensão maior de sua condição, e um meio de escapar dela. Assim, tudo se constrói aos poucos, não rumo a um final apoteótico e epifânico, mas a uma solução lógica e elegante ao problema enfrentado.

Vale ainda mencionar as muitas referências que Lunar faz a outras obras de ficção científica. Há elementos que remetem ao clássico absoluto do gênero, 2001 - Uma Odisséia no Espaço, outros que lembram Wall-E, e homenagens às obras de Isaac Asimov, especialmente Eu, Robô (o livro, não o filme mediano com Will Smith), entre outras que dá pra encontrar assistindo-o com mais atenção. Deixo por conta de cada um essa tarefa.

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Lunar ainda abre espaço para algumas indagações: Até que ponto nossas memórias definem quem somos? Há um limite a partir do qual a natureza humana pode ser explorada? Cabe a quem decidir se a liberdade de um homem será sacrificada em prol de um "bem maior"? Quando o emprego "extremo" da engenharia genética se torna válido? Entre muitas outras, que caberá a cada espectador extrair do longa.

Concluindo, trata-se de um ótimo filme, modesto em sua execução, sem grandes efeitos especiais, mas competente, e até certo ponto ousado em sua execução, quando comparado à grande maioria do que andam produzindo para o gênero nos últimos anos. Esqueçam Distrito 9! Lunar é o filme para apreciadores de ficção-científica inteligente!

Se ainda restam dúvidas se vale ou não a pena assisti-lo, confira o trailer abaixo:

sábado, 21 de novembro de 2009

[RESENHA] Flashforward s01e08 e 09

SPOILERS A DAR COM PAU

Episódio 8 - "Playing Card with Coyote"

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Depois de sacrificar-se no episódio anterior, o agente Al vira um tipo de mártir do mundo pós-apagão, provando, com sua morte, que ainda é possível mudar o futuro, independente da visão que cada um teve dele.

Logo no início de "Playing Card..." a mãe dos gêmeos, que seria morta pelo agente, recebe sua carta de despedida. Não demora até que ela vá à imprensa revelar o ocorrido, e daí pra frente a notícia se alastra, tornando muitos que temiam pelo que estava por vir mais esperançosos quanto ao futuro.

Mark e Olivia não pensam duas vezes antes de tirar uns dias de folga, se trancar num quarto de motel, e trepar até dizer chega. No meio do bem bom, Mark recebe a notícia de que surgiu uma pista sobre o homem da tatuagem de três estrelas que tentava matá-lo em seu flashforward. Claro que ele não deixa escapar a chance de pegar o sujeito desprevenido antes que ele o pegue dali a 5 meses. Chegou a hora de sujar um pouco mais as mãos pra garantir um futuro menos sombrio.

Ironicamente Mark presenteia Olivia com o jogo de calcinha e sutiã que ela usava em seu flashforward.

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Enquanto isto, Janis, mesmo sabendo das poucas chances que tem de engravidar depois da intervenção cirúrgica pela qual passou a fim de salvar sua vida, começa a pesquisar sobre inseminação artificial. Bateu o instinto materno na nossa lésbica favorita depois de quase morrer.

E o pobre do Aaron ficou dois anos lamentando e culpando-se pela morte de Tracy somente pra descobrir que ela continuava viva, perneta, e com a mentalidade e irritabilidade de uma adolescente.

A garota "ressuscita" contando que viu algo que não devia: descobriu que um grupo de militares privados contratados pelo governo, chamado Jericho, promoveu um massacre em uma vila no Afeganistão. Caiu na besteira de reportar o ocorrido aos seus superiores, e uma semana depois deram um jeito de apagá-la.

A explicação do porquê do DNA dos restos mortais recebidos por Aaron bater com o dela soou um tanto forçada: cataram a perna que a garota perdeu na explosão e mandaram de volta pros States. Mas, ainda assim, faz algum sentido, se considerarmos que a intenção de quem conspirou contra Tracy era que todo mundo pensasse que a moça estava morta.

Duro mesmo foi engolir que ela voltou pra casa do pai por considerar o lugar seguro. Porra, não é o primeiro lugar onde os caras irão procurá-la se descobrirem que ela tá viva?!! Não é a toa que a garota tá se tornando alcóolatra como o Aaron foi um dia. Deve ser difícil encarar o fato de ser tão burra.

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Mi mi mi! Perdi a perna, a maturidade e o que me restava de inteligência...

Enquanto todos andam às voltas de impedir ou não a realização de seus flashforwards, Simon novamente visita Lloyd, que continua se sentindo culpado pela morte de 20 milhões de pessoas, tanto que ameaça contar pra todo mundo que foram eles os responsáveis pelo apagão, no que Simon vira pra ele e diz: "Vamos decidir isto no poker!"

Daí entra outro momento "que dureza", quando somos forçados a aceitar que o Lloyd é mesmo páreo pra enfrentar a arrogância e prepotência de Simon. Os dois ficam trocando farpas durante toda a partida, cheios de insinuações e subtextos, e ignorando os outros jogadores que participam do jogo. Meio difícil algum deles não ter "pescado" sobre o que falavam, mas vá lá.

Mesmo assim, foi até razoável a forma como Lloyd conseguiu baixar a bola do Simon antes que ele se tornasse tão insuportavelmente "eu sou o máximo" a ponto de ninguém poder com o cara. Fez por merecer algum respeito depois desta, e ainda criou um gancho interessante, cujas repercussões estou curioso pra conferir.

O final do episódio é ótimo! Depois de Mark voltar pra casa todo felizinho e contar pra Olivia que deu cabo do sujeito que arruinaria seu futuro:

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Futuro sombrio NO MORE!! PTUAH! (isto foi um cuspe u.u')

Corta pra uma seqüência de cenas que apresenta, pasmem!, uma legião de sujeitos mal-encarados com, adivinhem só:

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A mesma tatuagem das três estrelas!

Só faltou mesmo um deles virar pra câmera e dizer "Hahaha, te pegamos, Mark!"

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E o que são estes 6 anéis?! Tá, eles têm alguma ligação com o Suspeito Zero, mas...
Anéis tão importantes que rendem um balaço num capanga pra encobrir sua existência?

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Seria o Mandarim a mente maligna por trás de tudo? Hmmm... Até que faz sentido. õ.õ

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Episódio 9 - "Believe"

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Depois de um episódio com um final sinistro, nada melhor do que o seguinte ter um clima mais leve, certo? Tá, muita gente vai discordar, mas no caso de "Believe" foi um grande acerto da equipe de produção de Flashforward, especialmente porque este episódio marca a entrada de uma personagem que já chegou prometendo ser uma das mais carismáticas e queridas da série, e prenunciando o surgimento do que pode ser o casal mais "cute" dela.

Provando que uma das grandes especialidades da equipe de roteiristas de Flashforward é criar ótimas aberturas de episódios, este já começa revelando o motivo por trás da depressão aguda enfrentada por Bryce no 1º episódio, a ponto de levá-lo a tentar suicidar-se: câncer renal em estágio 4 (quando outras partes do corpo já foram afetadas). Ou seja, já tava com um pé a cova mesmo.

Através de uma ótima montagem, vemos fatos vividos por Bryce e Keiko, a japonesa com quem estava em seu Flashforward, antes, durante e após o apagão, apresentados alternadamente. Chama a atenção o cuidado com que fizeram as cenas passadas no Japão. Soou bastante fiel à cultura japonesa, baseado no pouco conhecimento que tenho dela, o que não deixa de ser louvável, com o histórico de deslizes que os americanos já cometeram ao retratar outras culturas em filmes e séries (ainda me lembro do portunhol arranhado pelo garotinho que ajuda Sidney Bristow em sua rápida visita ao Brasil na 1ª temporada de Alias, e dos ônibus amarelos, surrados e precários andando por ruas que remetiam às do México; isto pra não mencionar os "brasileiros-lusitanos" do final da 2ª temporada de Lost).

Bacana também, e até certo ponto tocante, são as cenas em que Bryce começa a aprender japonês pra se sair bem quando se encontrar com Keiko pela primeira vez. E todo o drama vivido pelo personagem, que decide encarar o câncer sem contar pra ninguém, tornou-o mais "tridimensional", contrastando com a forma rasa com que vinha sendo tratado nos episódios anteriores, o que já representa um grande avanço.

Outro ótimo momento é aquele em que Bryce hesita em encarar um novo tratamento sugerido por Olivia, após ela descobrir a condição do colega, temendo que o mesmo ameace sua vida e a realização de seu flashforward. Estes conflitos que os personagens enfrentam desde o início da série despertaram meu interesse, e é sempre satisfatório constatar mais um acerto da parte dos roteiristas em abordar a complexidade da construção do futuro de uma pessoa, que depende de muitas variáveis, algumas delas com um papel não muito importante agora, mas que pode tornar-se bastante significativa mais adiante.

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Ai ai... E esse futuro que não chega nunca...

E Keiko realmente parece o tipo de garota por quem vale a pena viver. Gênio da robótica; dona de um carisma que realça ainda mais sua beleza, ainda maior que a vista nos desenhos feitos por Bryce; fã do Hendrix. Mas o ápice mesmo é quando ela fica inconformada ao ser forçada a fazer o papel de garçonete na empresa onde trabalha como engenheira (!), larga mão de tudo, solta o cabelo e decide abraçar seu sonho de ser roqueira! Preciso dizer mais pra te convencer de que não tem como não se apaixonar por alguém assim? Bryce, seu canceroso sortudo! XP

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Não agüento mais te desenhar...

Não é a toa que Bryce, que não vê a hora de encontrar-se com ela, segura na mão de Deus e vai pro Japão depois de descobrir a primeira pista importante sobre o paradeiro da garota. Daí começa uma série de encontros e desencontros, que deixa todo mundo morrendo de raiva hora da mãe da Keiko, que o impede de falar com ela, hora do próprio Bryce, que não se tocou que viajava de volta pra Los Angeles NO MESMO AVIÃO EM QUEM A MOÇA ESTAVA, RAIOS! Sim, este foi o momento "duro de engolir" do episódio. Mas, faz parte da graça.

Outro que tava cheio de graça neste episódio era o Mark. Numa clara tentativa dos roteiristas em tentar torná-lo mais "cool" aos olhos do público, o agente resolve novamente desafiar seu chefe, e ir pra Hong Kong com Demetri sem autorização, atrás de uma pista sobre a mulher misteriosa que informou seu parceiro sobre a data de seu assassinato no episódio 2.

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Eu bebo merrrmo!

Já Aaron se vê forçado a encarar sua maior fraqueza tento que conviver com sua filha alcóolatra, aumentando ainda mais seu complexo de culpa por sentir-se o maior responsável pelo que aconteceu a Tracy no Afeganistão. Isto acaba afetando seu relacionamento com Mark, que pra ajudar ainda mais estava paranóico depois de descobrir que alguém mandou um SMS pro celular da Olivia dizendo que ele voltaria a beber no futuro. Como ele havia contado apenas pro Aaron e pro Stanford... Bom, acho que já deu pra ter uma noção da merda que virou. Mas no final eles fizeram as pazes, e voltaram a ser amiguinhos.

Tá certo que nem neste, nem no episódio anterior, tivemos que aturar o pseudo-triângulo amoroso de Mark, Olivia e Lloyd, mas por que os roteiristas de Flashforward insistem em criar uma versão de Jack, Kate e Sawyer, só que ainda mais insuportável (em Lost pelo menos contamos com o carisma do Sawyer como atenuante)? E é um desperdício o que vêm fazendo com a Sonia Walger, que quando está longe do Joseph Fiennes consegue a proeza de tornar sua personagem ao menos digna de nota. As cenas de Olivia com Bryce conseguiram ser melhores e mais envolventes do que todas as cenas dela com o Mark ou Lloyd até o momento. E eu simplesmente sou fissurado naquele sotaque britânico, e naquele jeitão de baixinha um tanto invocada dela (mea culpa, afinal, tenho uma tara por baixinhas invocadas ;P).

Passamos mais um episódio sem a menor menção a Ganwar. E até agora nada do Lloyd se manifestar, depois da decisão tomada no episódio 7. Mas, isto não chegou a ser um problema num episódio que conseguiu novamente a façanha de jogar com a relatividade dos significados de fatos vividos simultaneamente por dois personagens. Em mais um trabalho de montagem digno de render uma indicação ao Globo de Ouro, descobrimos o porquê do encontro entre Bryce e Keiko não ter acontecido ainda. E apesar de soar como uma solução encontrada pelos roteiristas pra conter gastos na criação de locações emulando outros países, esta foi bem vinda pela ótima surpresa, que tornou a história do futuro casal ainda mais atraente. Taí dois pombinhos pelos quais vou começar a torcer!

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Tem como não torcer por ela?

"Believe" reforçou minha crença sobre o potencial que Flashforward ainda possui de prender nossa atenção, e renovar nosso interesse por sua trama, cada vez mais cheia de conspirações, intrigas e agora, felizmente, com uma história de amor que vale a pena acompanhar.

Dia 3 de dezembro voltamos com os comentários sobre "A561984". E que comecem as especulações sobre o significado do título! (parece código de encomenda dos Correios...)