quarta-feira, 30 de setembro de 2009

[CONTO] As Árvores da Memória - Capítulo 8: "Beijos"

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Kiss de Rashomon707


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A pergunta logo dissolveu-se no ar como vapor d'água saindo de bico de chaleira. O motivo: degraus piscando em sua visão periférica. Voltou-se para eles, que continuavam acendendo e apagando como luzes natalinas. "O que significa isto agora?" Em seguida ouviu o barulho de galhos se retorcendo, e folhas farfalhando. Pareciam empurrados pelo vento numa só direção, para adiante, e para cima, exceto pelo fato de que não sentia nem a mais leve brisa passar por ali. "Ela quer que eu prossiga?"

Paula, naturalmente curiosa diante daquele inesperado tom imperativo, resolveu seguir a ordem da árvore e dos degraus. Andou pouco, na verdade até a árvore seguinte, em cuja placa do cubo de vidro que a envolvia estava escrito BEIJOS. Quebrou-o maquinalmente, avançou dois passos, e sem analisar muito as folhas à frente, arrancou uma. Desta vez, antes de ler a frase da frente, olhou o verso:

10 de outubro, com 15 anos, 3 semanas, 1 dia, 6 horas, 47 minutos, 12 segundos

Virou-a uma vez mais, e leu "Primeiro beijo roubado."

Estava nua. De pé. Seu quarto em semi-escuridão, iluminado apenas pelo abajur no canto ao lado da porta. Ainda sentia seu sexo úmido e quente. Ainda estava muito viva em sua memória a loucura que acabara de fazer.

Esperou todos dormirem, ou seja, seus pais, e sua irmã caçula. Cobriu-se da cabeça aos pés com o lençol. Era primavera, mas fazia uma noite quente. O ventilador ligado não ajudava muito. Resolveu tirar toda a roupa por debaixo do lençol, fez um embrulho com ela, achatou-o e enfiou debaixo do travesseiro. Deu uma sensação gostosa nela, de leveza e... O tecido fino, tocando de leve sua pele... Ondulando sobre seu corpo com a ajuda do vento que vinha do ventilador... Arrepiou-se toda, depois sentiu um calor em seu ventre, um calor que vinha dela, de dentro dela, e não de fora. Lembrou daquelas meninas chatas e implicantes da escola, que ficavam toda hora enchendo a cabeça dela com uma pergunta incômoda. "Você já se tocou?" E elas não se contentavam em apenas dizer, faziam questão de mostrar como, enfiando a mão por dentro da calça, se contorcendo e gemendo.

Sim, ela já havia se tocado, algumas vezes enquanto tomava banho. Era gostoso, mas geralmente não demorava tanto tempo. Mas fazer aquilo a incomodava, porque sentia que estava se tornando como aquelas meninas da escola, mesmo que só por alguns minutos. E Paula achava que elas pareciam todas muito... Ela diria putas hoje, mas naquela época não lhe ocorreu nenhuma palavra que as definisse tão bem.

E naquela noite, de madrugada, debaixo do lençol, a vontade de tocar-se era maior do que em toda as vezes anteriores. E foi o que ela fez, e continuou fazendo isto por muito tempo, até seu corpo tremer, e gotículas de suor brotarem de cada poro, ensopando o lençol, o colchão, e fazendo seu sexo ficar muito úmido... E então... Então veio a verdadeira loucura...

Sua excitação era tamanha que já não sabia mais o que fazer. Continuar naquela espécie de dança estranha com suas mãos não fazia sentido. Ela precisava extravasar aquele desejo todo de outra forma, e por isto, num impulso, jogou o lençol para o lado, levantou-se num pulo, e ficou de pé, descalça e nua sobre o piso frio de ardósia, ofegante, olhando sua irmã, que dormia tranqüilamente na cama ao lado da sua. Na verdade não era bem pra sua irmã que ela olhava, mas para um ponto em especial dela: sua boca. Seus lábios carnudos entreabertos, inspirando e expirando, inspirando e expirando...

Trêmula de ansiedade, medo, desespero, desejo, Paula lambeu seus lábios, agachou-se lentamente ao lado da cama da irmã, mirou aqueles olhos fechados e pacíficos, mergulhados num sono profundo, voltou a olhar aquela boca que parecia convidá-la, e logo depois não viu mais nada. Só sentiu sua boca tocando a da irmã de um jeito totalmente desajeitado, fez menção de abrir e fechar seus lábios e... Não passou disto. Logo em seguida recuou.

Estava confusa agora. Foi uma sensação estranha. Pareceu que tinha beijado uma Geleinha, tamanha era a flacidez daqueles lábios.

E foi assim que Paula descobriu quão brochante era um beijo não correspondido...

Largou a folha branca. Estava novamente diante da árvore de memórias.

"Tem horas que não dá pra acreditar nas coisas que eu já fiz..." Estava excitada. Não demorou muito até pegar outra folha onde leu "Beijo atrapalhado."

Acabara de chegar na casa da tia. Era véspera da reveillon. Os parentes ainda estavam chegando pra festa da virada. Beijo na bochecha de um, beijo na bochecha de outro. Chegou a vez dos filhos adotivos de uma prima de sua mãe.

Sabe, aquele negócio de beijo pra lá, beijo pra cá, pode mesmo atordoar uma pessoa que não está acostumada com esse tipo de coisa todos os dias, de modos que Paula, quando abaixou-se na direção do rosto de um dos meninos, cometeu um erro de cálculo na hora de decidir em qual direção virar sua cabeça e então... Seus lábios se tocaram, suas bochechas ficaram coradas segundos depois, um sorriso nervoso e constrangido abriu-se em sua boca recém-tocada, e tudo que ela conseguia pensar naquela hora era "Não sou mais BV! Não sou mais BV! Que jeito ridículo de deixar de ser!! E eu provavelmente DESVIRGINEI A BOCA DESSE PIRRALHO TAMBÉM!!!"

Paula largou a folha quando desatou a rir de si mesma. Olhando praquele dia agora, tudo parecia ainda mais cômico.

E embalada por aquele divertimento, arrancou outra folha de um jeito meio desleixado, e leu "O primeiro beijo (oficial)."

Estava sentada na cama, sentia um friozinho na barriga, mãos e pés tremendo. Na verdade ela inteira parecia tremer. Sempre fora muito ansiosa, mas aquele com certeza era seu recorde de ansiedade. Já devia fazer quase uma hora desde que começaram a conversa. Agora finalmente havia chegado aquele momento em que ambos não sabiam mais o que dizer ao outro, e tudo que restava era pensar num jeito de preencher aquele silêncio. "Vai, diz! Diz logo, sua idiota!", dizia sua consciência, e ela disse:

- Ro...
- Hm?!
- Me beija!

E dali em diante o mundo inteiro pareceu desacelerar. Sentiu a mão dele afundar no colchão, amassar o lençol enquanto inclinava-se pra ela. Sentiu os dedos de sua mão direita tocando de leve sua bochecha, e os da esquerda mergulhando em seus cabelos. Fechou os olhos pra sentir tudo ainda mais forte, e logo depois sentiu lábios pousando nos seus, caminhando pacientemente sobre eles, acariciando-os, como que medindo cada sulco de cada dobrinha que eles faziam. E quando pareceram satisfeitos, algo úmido entrou leeentamente por sua boca entreaberta, umedecendo-a ainda mais, deslizando sobre ela, e depois dentro, como um patinador dançando no gelo, em movimentos suaves, amplos. Aos poucos foi ousando penetrar mais alguns milímetros, até tocar-lhe o ponto de encontro entre a boca e a gengiva, o que a fez sentir um calor percorrer-lhe a espinha de cima a baixo, concentrando-se no ventre, e descendo aos poucos até seu sexo. Aquela boca parecia beijar-lhe toda. E era uma sensação tão deliciosa, que ela preferia que durasse uma noite inteira, para que não esquecesse daquilo nunca. Mas tudo durou não mais que 2 minutos, 2 inesquecíveis minutos. Foi pouco comparado aos beijos longos que trocaria com Rogério depois daqueles. Beijos que muitas vezes chegavam a quase 10 minutos, tamanha era sua fome pela boca dele.

Ele a ensinou a beijar, e ela não se cansava de tentar aperfeiçoar a técnica.

Largou a folha. Estava sedenta. "O que eu não daria por uma boca agora..."


CONTINUA...

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