terça-feira, 1 de setembro de 2009

[REVIEW] - Southland Tales - O fim do mundo



É assim que o mundo acaba: não com uma explosão, mas com um choramingo”

Esse é o poema de T.S. Eliot. Richard Kelly, no entanto achou por bem inverter a ordem das coisas e dizer em seu filme “não com um choramingo, mas com uma explosão”. Convenhamos: qualquer coisa que troque um choramingo por uma explosão é algo digno de atenção.

Esse é apenas um dos motivos que faz esse filme ser irrestivelmente atraente, do tipo que se vc não ficar nem menos curioso para assistir então vc não tem envergadura moral!

Pq eu digo isso? Ora, alem da coisa da explosão é um filme de Richard Kelly.
Se vc não assistiu Donnie Darko eu poderia parar este texto aqui para ir até aí te empalar com uma colher de piche enferrujada, mas estou de bom humor e vou considerar a possibilidade mais otimista: sua família morreu num trágico acidente de carro no qual apenas vc sobreviveu com 95% queimaduras em do corpo e tem que passar 23 horas por dia em coma para suportar a dor. Melhor assim.

Basta dizer que Donnie Darko é um filme Cult tão bom, mas tão bom que EU gosto. Não, o Rodrigo não editou esse parágrafo, eu realmente disse que gosto de um filme Cult... se bem que se ele tivesse editado ele também poderia ter editado essa justificativa... hm, que seja.

O que importa é que Richard Kelly escreveu e dirigiu a coisa toda.

O QUE? Como assim não é motivo o bastante pra ti levantar essa tua mão gorda do mouse pra baixar assistir o filme? Ok, então realmente vou ter que usar argumento pesado, né? Eu não queria ter que chegar a isso, mas lá vai: o elenco.

O elenco é tão foda, mas tão foda que apenas Predador (com a cena de queda de braço no ar entre o Arnold e o Apollo Creed) consegue superar na escala Herbert Richters de fodice:

- The Rock (como o mega-astro Boxer Santaros)
- Sarah Michelle “Buffy” Gellar (como a atriz pornô/filosofa/apresentadora de TV/ícone Cult Krista Now)
- Christopher Lambert (como o caçador de recompensas do carrinho de sorvete)
- Mandy Moore (como esposa de Boxer Santaros e filha do favorito a presidente dos EUA em 2008)
- Justin Timberlake (como o narrador da história)
- Sean William “Stiffler” Scott
- Kevin “Silent Bob” Smith (como o excêntrico Simon Theory)

Sério, vai dizer que não é o elenco mais épico, mortal e inenarrável que vc já viu em um filme até hoje? Pode admitir... ta, só não começa a chorar de emoção que aí eu vou ter que parar de novo pra ir aí te embulachar... se bem que é provável que vc acabe gostando, então deixa pra lá...

Hm, medo muito em vc sinto eu. Sua fé na força inconstante vejo eu.
Ok, então vc precisa de MAIS motivos? Ora, não por isso amiguinho, não por isso. Fique sabendo que o filme foi apresentado em Cannes e foi sonoramente... VAIADO!!! Isso mesmo, tomou um épico, raro e monumental vaião na lata.

Se vc não respeita um filme que foi vaiado em Cannes, então sinto muito mas eu não tenho mais nada a lhe dizer.

UPDATE: eu estava conversando com o Aelsio e ele deu a definição perfeita: Cannes é o Oscar indie. Então se eles não gostaram, é pq boa coisa há de ser...

Continuando, com este elenco que apenas a expressão “infinitos níveis de formidável” pode chegar perto de descrever, não seria difícil dirigir o maior filme de todos os tempos, certo?
Bem, e se eu te dissesse que o cenário imaginado por Richard Kelly consegue ser do mesmo nível que este monumental elenco?

Imagine o seguinte: em algum ponto dos anos 2000, os terroristas fizeram um novo atentado aos EUA só que dessa vez com fucking nukes, uma onda de atentados nucleares deflagrou a Terceira Guerra mundial contra o Irã, Iraque, Síria e Coréia do Norte. Em represália, esses países cortaram o suprimento de petróleo aos EUA que ficou mais lascado que espiga de milho em arraial de São João. A coisa parecia ter ido pro brejo, quando um cientista louco e obscuro inventa uma nova fonte de energia: o karma fluído. Funciona assim: a geringonça do tamanho de um farol fica dentro do mar e usa a energia moto-perpetua-infinita para criar um campo de energia estática de trocentos quilômetros onde tudo dentro dele funciona.

Dentro dessa bolha de energia limpa, infinita e renovável, o governo americano cria a USAIdent, uma empresa que controla(censura) com mão de ferro a televisão, internet e jornais o que é a deixa para o levante do movimento neo-marxista. E tem muito, muito mais coisa.

Richard Kelly, usou todo tipo de referência possível. E não a referência preguiçosa, estilo cópia, que diretores como Tarantino vivem fazendo. Ele criou um mundo completamente novo a partir de tudo o que viu na vida, de filmes Z a programas do Warner Channel. Sarah Michelle como uma prostituta ultra-bronzeada que tem um programa de debate filosófico, econômico e social na TV a cabo? The Rock como um ator canastrão, ansioso, paranóico, noivo da filha de um republicano? Uma distopia alimentada via jornalismo-show ao estilo Tropas Estelares? Uma penca de atores do Saturday Night Live no papel de guerrilheiros neo-marxistas? Richard Kelly juntou tudo para criar um filme cheio de cenas primorosas, arriscado e diferente.

Há muitas leituras, há muito o que se descobrir no filme. Fala de guerra, imprensa, celebridades, política. Nada explícito. The Rock apresenta nuances de atuação incríveis para alguém com seu passado.

Os personagens do filme são absurdamente bem construídos, cada um tem sua própria história paralela que se cruzam, descruzam e dar nó em nenhum momento. Na história principal, temos Boxer Santaros (The Rock), noivo da filha do favorito na eleição presidencial que subitamente desaparece por três dias. Quando finalmente aparece, está sem memória e disso se aproveita uma célula revolucionária neo-marxista para lhe dar um passado falso e com isso filmar cenas comprometedoras do marido da filha do futuro presidente com uma famosa atriz pornô (Sarah Michelle).

Mas Santaros tem suas próprias idéias, ele está obcecado em gravar o seu filme: uma ficção cientifica/ação de roteiro extremamente ruim (imagine algo como “O Nucleo” encontra “Robocop”) que na verdade não é um roteiro de filme e sim a profecia do que virá nos próximos tempos. Enquanto isso, um grupo revolucionário “neomarxista” tenta acabar com a ditadura através de métodos violentos, e um policial (Seann William Scott) se envolve em uma grande conspiração. Cabe a Abilene (Justin Timberlake), um veterano da guerra do Iraque, narrar de uma perspectiva distante este iminente fim do mundo.

Daí pra frente o filme vai ficando mais confuso conforme se aproxima do final. Idas e voltas no tempo, universos paralelos, futuros alternativos, enfim, essa porra toda que nós conhecemos e amamos

Então recapitulando: o diretor é foda, o elenco é foda e as atuações são fodas, o filme é repleto de detalhes, nuances e pequenas maravilhas narrativas (a minha favorita, de longe, é o esculacho aos queridos esquerdinhas neo-marxistas, mas vc vai encontrar a sua), tudo isso, mas juntando isso... o filme é bom?



"O polícial Roland Taverner era cafetão. E cafetões não cometem suicídio"
Essa é a melhor cena do filme, quando Justin Timberlake chapado até a alma dubla The Killers com coristas de perucas branca. Simplesmente épica. E logo em seguida Kelly caga tudo com uma cena que sai do nada, vai pra lugar nenhum e desemboca em vergolha alheia. Esse é o melhor resumo do filme.

Err... bem...

A impressão final, a coisa de “é bom ou não é” fica mesmo de que a pretensão de fazer uma obra grandiosa subiu a cabeça do diretor, que se perdeu ao tentar reunir todas as idéias que teve. A enorme quantidade de informações confunde e esconde a crítica proposta, e ela passa a ser apenas um pano de fundo para as loucuras bipolares de um megalomaníaco. Alias dá pra sentir o Richard Kelly se homenageando em cada frame. Eu não sei se fazer um filme que é um fracasso de bilheteria mas vira icone cult faz seu penis aumentar 29cm, mas com certeza o diretor dá a entender que faz sim...

Veja, naquela hora que vc pensa que as pontas soltas das histórias paralelas dos personagens vão se juntar ante o apocalipse... bem, é exatamente isso que acontece mas de uma forma preguiçosa, fácil e sem exagerar, constrangedora. Dá pra sentir claramente um "olha, eu sou um genio, então vcs ai que se virem pra arranjar um sentido pra isso e achar cada rabisco de cena genial"

Sério, o final do filme é bobo, infantil e ridículo. Pior que novela da Record. Sério mesmo, eu to falando de um filme que tem no final uma cena de quase meia hora de um carrinho de sorvete voador. Mais uma vez, não tem qualquer exagero aqui.

A conclusão é que o filme tem algumas boas sátiras e piadas, e um ou outro momento genial, frases de impacto (mas que ficam perdidas e parecendo que foram criadas só pra esse fim mesmo), referencias biblicas (assim como em Donnie Darko) mas quando vc vê que sua fé de que uma hora a história ia “fechar” ser traída (como eu disse, o final do filme até amarra as pontas mas amarra igual a minha cara de pois de ser atropelado e atacado por um enxame de abelhas zu-vu-kului), fica apenas uma sensação de perda de tempo e desperdício de ótimas idéias, um elenco maravilhoso em atuações ímpares.

Tudo descarga abaixo, é uma pena mesmo...

Veja Southland tales como quem assiste a uma instalação de arte contemporânea. Ao ter que sugerir algo assim vc pode ver o absurdo que é esse filme, mas o olhar menos preocupado com a lógica te poupará de estuprar uma Barbie em alguma das (muitas) cenas que soam como intermináveis piadas internas. E piada interna, como bem se sabe, só tem graça pra quem conta.
De qualquer forma, Kelly merece algum tipo de prêmio por oscilar tão radicalmente entre o deslumbramento e a lata de lixo.

É assim que o mundo acaba.
É assim que o mundo acaba.
É assim que o mundo acaba.
Não com uma explosão, mas com a masturbação mental de um diretor estrelinha megalomaniaco.

5 comentários:

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  4. Southland Tales recebeu uma avalanche de críticas negativas, porém não estou entre os detratores. Sou admirador do trabalho de Richard Kelly e vou tentar explicar um pouco o enredo.

    ENREDO
    Após a explosão e o início da terceira guerra mundial os cientistas (e neomarxistas) estudam e descobrem uma forma de combustível alternativo, denominado carma fluído. As ondas oceânicas são a força-motriz da geringonça que produz o carma fluído. Porém, seu funcionamento acarreta a desaceleração planetária e o aparecimento de uma fenda na quarta dimensão, ou seja, uma espécie de máquina do tempo no deserto. Os cientistas enviam Boxer Santaros como cobaia da experiência, ou seja, encontrar o seu "eu" passado e futuro. O Boxer Santaros do presente é assassindo por Serpentine (a oriental namorada do Barão) e quem retorna é o Boxer Santaros "eu" do futuro. Todavia, Boxer Santaros foi conduzido ao deserto pelo policial Ronald e este entrou na fenda da quarta dimensão. Então, retornam do deserto, Boxer Santaros (do futuro) Ronald (do presente) e Roland (eu futuro de Ronald), todos com amnésia. Estes dois permanecem sob o domínio dos neomarxistas e Boxer Santaros (do futuro) sob a proteção de Krysta Now. Boxer Santaros (do futuro) escreve um roteiro para o filme denominado "The Power", sendo divulgado pela internet e chegando as mãos dos neomarxistas ("é isto mesmo Senhor Santaros, o mundo termina exatamente como o senhor imaginou") O roteiro descreve os acontecimentos até o fim do mundo. Roland, progressivamente vai se dando conta que é o "eu" futuro de Ronald. Percebe a necessidade em encontrar Ronald e que algo ruim está para acontecer, pois Ronald se sente culpado por desfigurar o piloto Abilene numa manobra desastrosa no Iraque. Surge uma nova droga, o carma fluído sintetizado. Desenvolvida e testada pelo Barão em soldados americanos que retornaram do Iraque e que é capaz de alterar a percepção mental de espaço e tempo. Conecta o usuário aos seus diferentes "eus" e os usuários entre si ("basta seguir o fluxo do sangue") Roland injeta carma fluído em seu pescoço com o propósito de rastrear e encontrar seu "eu" presente, ou seja, Ronald. Enquanto isso, os cientistas revelam à Boxer Santaros, a natureza do corpo incinerado no deserto e que se encontra no Zeppelin do Barão, ou seja, um Boxer Santaros do passado. Boxer Santaros descobre que é o "eu" futuro e que seu roteiro são acontecimentos reais e previstos por ele. É revelado que a quarta dimensão entrará em colapso quando os dois "eus" do policial Ronald se encontrarem e apertarem as mãos. Os neomarxistas usaram o roteiro de Boxer Santaros para dar o golpe final no capitalismo e acabar de vez com a célula republicana. Ele escreveu o futuro e no encontro dos dois "eus" de Ronald, o furgão sobe até o Zeppelin do Barão, surgindo o momento propício para o terrorista neomarxista disparar o foguete e acabar com o capitalismo. ("e é assim que o mundo acaba, não num choro, mas numa explosão) A explosão do Zeppelin que Boxer Santaros tenta evitar no último instante, buscando evacuar o dirigível. Além disso, há um segundo plano, se o roteiro de Boxer Santaros falhasse, os neomarxistas divulgariam o vídeo de Santaros e Krysta transando para desmoralizar os republicanos nas eleições. Porém, o mundo permanece intacto perante o furgão e o aparecimento do vórtice da quarta dimensão. Consuma-se o encontro e o aperto de mão de Ronald e Roland. Os dois "eus" do policial se tornam um só e o mesmo quando o reflexo de Ronald desaparece dos olhos de Roland ("e é assim que o mundo acaba, não com um choro, mas com um aperto de mão") Será que a quarta dimensão entrou em colapso? Será que o mundo acabou?

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  5. CURIOSIDADES
    No início do filme, quando Roland está brincando em frente ao espelho e percebe um atraso na imagem. Dá a entender que se Roland é um "eu" futuro de Ronald, suas ações ultrapassam o presente e o diretor se vale de uma metáfora para instigar o espectador. O "eu" futuro de Ronald antecipa os próprios atos. Além do fato de Boxer Santaros ter permanecido 69 minutos no deserto com seu outro "eu" e surgir uma Proposição 69 que é defendida pelos republicanos e rechaçada pelos neomarxistas. Porém, o enredo falha em não explicar o que pensa Roland ao ver Ronald amarrado e sedado nas mãos dos neomarxistas no início do filme. Pensa ser um irmão gêmeo ou tem consciência que é seu "eu" presente?

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