quarta-feira, 4 de novembro de 2009

[CRÍTICA] 500 dias com ela

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Sim, é uma comédia romântica. Rapaz conhece garota, se apaixona por ela, eles ficam juntos, são muito felizes, o mundo é pura magia... Enfim, todas essas clichezadas às quais nos acostumamos tanto depois de anos e anos da mesma fórmula pasteurizada, a ponto de ficarmos apáticos com relação a qualquer nova produção que receba a classificação de comédia romântica. 500 dias com ela tem tudo isto, mas, fico satisfeito em dizer que o filme vai além.

Acredito que a melhor forma de defini-lo é como um filme perfeito pro sujeito que acabou de levar um pé na bunda da namorada, que ele, até então, acreditava ser o amor de sua vida. É disto que se trata toda a história.

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O casal formado pela bonequinha Zooey Deschanel e o "boa praça" Joseph Gordon-Levitt (que parece o irmão caçula do Heath Ledger, como pode ser comprovado numa rápida googleada) é cativante o bastante pra conquistar nossa simpatia, mas o grande diferencial de 500 dias é a direção de Marc Webb, também responsável pelo roteiro do filme.

A história é contada de maneira não-linear, e cobre os tais 500 dias que o rapaz não exatamente ficou com ela, mas teve de conviver com a presença dela em sua vida, seja ela física ou não, conforme descobrimos no desenrolar da trama (e neste ponto o título brasileiro perde pro original, 500 days of Summer, que traduzindo seria algo como 500 dias de Summer, sendo Summer o nome da garota) .

Indo e voltando no tempo de uma maneira que a princípio soa aleatória, não demora muito pra pescarmos a intenção do diretor, cuja grande sacada é fazer, através da montagem, um balanço de toda a relação entre o rapaz e a garota. Assim, alternadamente, vemos os melhores momentos de Tom com Summer, seguidos pelos piores (com ou sem ela).

A montagem de 500 dias é ótima! Cortes precisos entre uma seqüência correspondente a um dia do casal e outra, sempre criando contrastes claros o bastante pra aproximar o espectador do drama que se passa na mente de Tom.

Mas, acho que já falei demais da estrutura narrativa. Os personagens também são ótimos. Além do colírio para os olhos que é a Summer, que além de linda é apaixonante , 500 dias também conta com Chloe Moretz, interpretando a irmã caçula que qualquer marmanjo gostaria de ter. Uma ninfeta de 15 anos que serve de conselheira amorosa para Tom, e consegue ser mais madura que ele. Uma pena que apareça tão pouco, mas sempre de forma marcante. E Tom faz por merecer nossa simpatia, pois ele realmente nos convence de que sentia ter finalmente tirado a sorte grande, e chega a ser tocante, em certo momento do filme, notar o quanto ele já havia se entregado a Summer, e quantas esperanças depositava nela. Sim, é coisa de marinheiro de primeira viagem, mas, é algo pelo qual boa parte de caras da minha idade já passou (tenho 27), o que reforça a identificação com o personagem.

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Outro grande êxito do roteiro é a maneira como sintetiza perfeitamente todo drama e sofrimento da parte que se ferrou num relacionamento que começou cheio de promessas e foi minguando até terminar com uma das partes tendo que lidar com o fato de que a outra já não a quer mais em sua vida da forma como a primeira deseja. É aquela velha história de que por mais que o sujeito queira esquecer, as lembranças insistem em atormentá-lo (algo que inevitavelmente traz à tona Brilho Eterno de Uma Mente de Lembranças, um verdadeiro divisor de águas no que diz respeito a filmes sobre o amor).

Assim, são muito eficientes as seqüências que funcionam como opostos perfeitos umas das outras. Como a do início do filme, na qual Tom acha o máximo descobrir que Summer também gosta de The Smiths para, mais tarde, quando já não está mais com a garota, ele tomar ódio pelas músicas do grupo porque faziam com que se lembrasse dela. O mesmo valendo pra parte em que ele descreve para o amigo tudo que ama em Summer para, mais adiante, vermos a mesma seqüência de cenas com a diferença de que agora ele enxerga todos aqueles motivos como defeitos.

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Ah, e o passeio de Tom no dia seguinte à sua primeira noite de sexo com Summer, que aos poucos se transforma num musical (!), é daquele tipo de passagem que nos deixa facilmente com um sorriso de satisfação de uma orelha à outra, de tão divertida e exagerada que ela soa.

Mas, acredito que o melhor momento do diretor é mesmo toda a seqüência em que a tela é dividida em duas partes, onde vemos na primeira o que Tom esperava de seu reencontro com Summer, e na segunda o que de fato aconteceu. Pra quem já passou por aquilo não tem como não se identificar, e muito menos não lamentar a capacidade que temos de muitas vezes criarmos altas expectativas com relação a momentos futuros que julgamos importantes em nossas vidas para, mais tarde, nos magoarmos, quando elas ficam longe do que realmente se passou.

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500 dias com ela é um filme que não se esforça, e nem tem a intenção de apresentar um final feliz, ou uma solução forçada. Há, sim, um desfecho positivo, uma tentativa de mostrar que qualquer um pode passar por aquilo, assim como qualquer um pode chegar à mesma conclusão de Tom: tem muita mulher neste mundo (cerca de 52% da população mundial é composta de mulheres), portanto ainda há chances de uma delas ser a felizarda. Talvez seja só uma questão de mudar a estação (sacadinha obrigatória de final de crítica).

Depois de Antes do Pôr-Do-Sol e Antes do Amanhecer, sem dúvida o melhor filme sobre romance que já assisti. Recomendo.

Um comentário:

  1. Pô, quero ver esse filme!Outro que vale a pena conferir é The Hottest State, dirigido por Ethan Hawke. Esse é ótimo também e a história do 500 days lembrou-me dele.

    ''Tom acha o máximo descobrir que Summer também gosta de The Smiths para, mais tarde, quando já não está mais com a garota, ele tomar ódio pelas músicas do grupo porque faziam com que se lembrasse dela''
    - Eu sou assim em relação à pessoas que eu não gosto! Eu não gosto daquilo que uma pessoa que eu não gosto gosta.hahaha

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