quarta-feira, 14 de novembro de 2007

[CONTO] Crescimento

(Texto originalmente escrito em 15/07/2007)



Eu caio na terra fofa e cresço, aprofundando minhas raízes, cresço, brotando pequenos e finos galhos, cresço, anel sobre anel, cresço, ficando maior e mais vistosa, cresço, adensando minha fortaleza, cresço, exibindo minhas novas folhas, cresço, deixando a brisa acariciá-las.

A brisa se torna vento, o vento ventania, e perco algumas delas. Sinto-as planarem, sinto uma delas chocando-se contra a asa de um pássaro em pleno vôo. Sinto o efêmero macio de suas penas, que logo seguem caminho incerto. Sinto-me caindo levemente. Sinto formigas me despedaçando com suas pequenas pinças, carregando meus fragmentos para sua despensa subterrânea. Sinto que sou mastigado e digerido pela rainha. Sinto-me forte e vigorosa. Sinto muitas vidas nascerem de mim. Sinto que eu e minhas pequenas irmãs-larvas somos carregadas para o "berçário". Aqui eu cresço, me torno operária. Daqui eu saio em busca de alimento, e aqui fora eu vejo uma folha seca caída no chão. Vejo o imponente tronco de uma velha árvore, e suas verdes e lustrosas folhas dançando em seus firmes galhos embalados pelo vento. Torço para que uma delas caia, e eu possa retribuir àquela que me deu trouxe à vida este grande favor, a que somos gratas por toda a nossa lamboriosa existência.

Vida de formiga, de larva, de rainha, de folha, de árvore, de semente. Vida que morre, dilacerada pelo bico de um pássaro faminto. Eu vôo. No caminho uma folha bate em minha asa, mas mal noto. Sigo em frente, vivendo, voando, comendo, perpetuando-me.

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Comentários:

Gostei muito disso: "Vida que morre,". Gostei de como você passou a idéia de que somos um organismo vivo, interligados, uma coisa só.

Luciana | 21-11-2007 21:43:39

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