segunda-feira, 24 de maio de 2010

[IMPRESSÕES] Lost - "The End"

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Sei que falei muito pouco de Lost aqui no blog ao longo de toda a sua existência, apesar do tempo que dediquei à série nos últimos seis anos, algo que ia muito além dos 42 minutos que, em média, durava cada episódio. Fosse elaborando teorias, participando de discussões com fãs, escrevendo comentários sobre a série em outro blog, ou mesmo fazendo um apanhado geral de tudo que já sabíamos dela até o momento, e de tudo que ainda não tinha sido revelado, um pedaço da minha vida foi devotado a esta série.

Ontem, quando "The End" foi exibido, acabei não resistindo à tentação de assistir o episódio final ao vivo, num dos vários streamings que foram disponibilizados na net para a transmissão de um dos maiores eventos da cultura pop desta década. Após assisti-lo, falar de Lost por aqui acabou se tornando uma obrigação, uma dívida de gratidão que eu precisava pagar de alguma forma.

Tamanho foi o magnetismo com que o episódio atraiu minha atenção, que o que era pra ser apenas uma olhada nos primeiros minutos do final da série, o qual eu planejava assistir apenas hoje a noite quando chegasse em casa, acabou virando uma experiência plena que vivi ao lado de milhões de outros fãs de Lost naquele momento.

Nunca assisti um episódio de Lost ao vivo, mas assim que comecei a assistir "The End", não pude deixar de pensar que eu queria fazer parte daquilo, daquela comoção mundial, daquele momento único em que milhões estavam com os olhares fixos nas TV's, monitores, visores de celular, iPad's, enfim, fazendo uso de qualquer meio que permitisse acompanhar em tempo real aqueles minutos finais da série que despertou em muitas pessoas uma sede insaciável por respostas e, porque não dizer, de perguntas também.

Não quero, com este texto, cair no lugar comum, e repetir o que muitos já disseram sobre a série. Sim, ela foi um marco na história do entretenimento, ousou em muitos aspectos técnicos e narrativos, explorou seus personagens como poucas séries conseguiram e, apesar de todos os erros, tropeços, e falta de respostas para muitas perguntas, ninguém pode tirar de seus criadores talvez o maior mérito de todos: estimulou, como poucas produções voltadas para um grande público, a imaginação de milhões de pessoas ao redor do mundo.

"The End", desde o momento em que Jack fechou seus olhos pela última vez, numa das cenas mais poéticas de toda a série, já se tornou um divisor de águas entre os admiradores de Lost. Mas isto não é nenhuma surpresa, pois Lost, desde sua primeira temporada, quando deixou grande parte do público revoltado pela total falta de respostas, e pela história lotada de pontas soltas, sempre foi uma série que dividiu opiniões.

No decorrer destes 6 anos, a cada novo episódio, o número de perguntas aumentava, enquanto as respostas vinham em doses homeopáticas. Muitas das questões, é certo, surgiram da cabeça dos fãs, cuja curiosidade superou a capacidade dos roteiristas da série de fornecer respostas para todas elas, e muitos, não sem razão, passaram cada vez mais a duvidar que respondessem a maioria delas.

Por muito tempo fui um daqueles que se interessavam mais pelos mistérios da história, do que pelo drama dos personagens, ou por questões sem muito apelo como "Com quem a Kate vai ficar? Jack ou Sawyer?". Questões referentes aos personagens não me interessavam tanto quando não tinham muita relação com os mistérios que surgiam na Ilha, ela mesma um dos grandes personagens de Lost. E foi com certa frustração que assisti o final se aproximando cada vez mais, e as possibilidades de responderem as muitas perguntas que ainda tinha na cabeça diminuírem.

Esta última temporada, mais uma vez, já começou ousando com uma mudança do formato, e lançando a grande questão que seria elucidada ao longo de seus 17 episódios: Qual é o significado dos flash sideways? Com ela, obviamente, surgiram outras: Qual é a sua origem? Foi a explosão da bomba que o gerou? É uma realidade paralela que sempre existiu, e só estamos tomando ciência dela agora? Como se os roteiristas de Lost já não tivessem perguntas demais pra responder...

Inicialmente eu estranhei a idéia, mas logo ela passou a fazer sentido. Afinal, se os caras estavam afim de agradar a maior parte de seu público, ao invés de tomarem apenas um dos dois possíveis caminhos (a bomba alterou a história / a bomba não fez nada), optaram por seguir os dois paralelamente. Foi uma idéia arriscada, que nos primeiros episódios fez muita gente torcer o nariz achando que era desperdício de tempo acompanhar histórias vividas por versões alternativas daqueles personagens de quem nos sentíamos tão íntimos após 6 longos anos. E demorou um bocado para convencerem da importância que tudo aquilo tinha para o que ocorria na Ilha.

Não vou entrar em detalhes sobre a trama da última temporada. Basta dizer que tivemos mais um episódio marcante de Desmond, que conseguiu mudar a impressão de muitos com relação aos flash sideways; um episódio emocionante dedicado a Ben Linus (um dos meus preferidos desta temporada, mesmo abordando muito pouco da mitologia de Lost); muitos momentos impactantes e mortes um tanto inesperadas; e um número razoável de respostas para muitos dos mistérios mais antigos da série.

Daí veio "Across The Sea", outro dos grandes divisores de água da série, com a resposta para as origens de Jacob e do Monstro de Fumaça, e também sobre o verdadeiro propósito da Ilha, e a origem de seu poder. Foi um episódio tão vago em suas respostas, quanto complexo nas reações que gerou. Confesso que fiquei revoltado após assisti-lo pela explicação que, num primeiro momento, se mostrou superficial e boba demais para a origem do Monstro, e simples demais para a fonte de energia da Ilha. Mas, passado um tempo, ele conseguiu me atingir mais fundo, e foi com ele que eu entendi, finalmente, qual era o grande propósito dos criadores da série.

Lost não passou de uma grande metáfora sobre a história do conhecimento e do espírito humano. Sobre o quanto crescemos, e o quanto ainda podemos crescer. Sobre o que já conquistamos, e o que resta para conquistarmos. Foi uma reafirmação de algo que todos já sabemos: não há respostas pra tudo nesta vida, e sairemos dela com mais mistérios insolúveis do que soluções para eles.

Com Jack, e todos aqueles personagens, ou melhor, com todas as pessoas que foram, das mais variadas formas, atraídas para a Ilha, aprendemos que no final, o que realmente importa não é o número de questões que conseguimos responder, mas o que ganhamos enquanto buscávamos solucioná-las. Quanto conhecimento acumulamos, e como conseguimos usá-lo, seja criando teorias sobre a solução de seus mistérios, ou correndo atrás de mais informações para tentar antecipar algumas respostas? Quantos amigos de verdade fizemos, e quão significativos fomos na vida deles? Como podemos ser pessoas melhores? Como esquecer os erros do passado? E, por fim, como seguir em frente? Estas são as perguntas que, na minha opinião, os verdadeiros admiradores de Lost devem se fazer após seu fim. Um final lindo, reflexivo, emocionante, que só mostrou quão bela é a vida, e o quanto grande parte de sua beleza provém de seus mistérios.

Mesmo que a Luz da Caverna se apagasse definitivamente, não havia mais com que se preocupar, pois Lost passou a chama adiante, acendendo-a dentro do coração e da mente de muitos que souberam apreciar a experiência coletiva que a série proporcionou. Lost foi isto, uma luz que iluminou o caminho de muitos em busca de um "algo mais" neste mundo, um estímulo para que não desistíssemos de correr atrás de respostas, não dentro de uma série que chegou ao fim como tantas outras, mas aqui fora, nesta vida, que no final das contas foi a maior fonte de inspiração, e origem dos grandes mistérios daquela Ilha que tanta curiosidade nos despertou.

No final, todos que realmente aproveitaram a jornada se tornaram iguais a Jacob, cada um protegendo uma luz que não quer se apagar, este canal direto com a fonte maior, a origem de tudo, a resposta para todas as perguntas.

Muito obrigado a toda a equipe de roteiristas, diretores, atores, entre tantos outros por trás desta série magnífica e inesquecível, que tanta diversão, emoção e reflexão me proporcionou. Foi um prazer acompanhá-los durante estes 6 anos.

3 comentários:

  1. Perdi 6 anos da minha vida assistindo :( Que coisa não? Mas cá um cá um. Lost! Obrigada por acabar!

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  2. O texto escrito sob muita emoção e ficou muito bom. Mas devo salientar que ficou uma impressão de "só isso?"
    Uma série como Lost gera muitas expectativas, mas o final quase sempre deixa a desejar. No fim, acho que o que realmente vale é a diversão ao acompanhar, especular sobre mistérios, isso tudo sem esperar muito, pois quem espera, quase sempre se decepciona...

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  3. poxa vida, diante tantas reação com o fim de lost, enfim consegui encontrar alguém que usasse da sua inteligência e "sensibilidade" para entender a verdadeira história de lost. muitas das pessoas que ouvi e li sobre suas opiniões, sempre se revoltavam e deixavam a ignorância para falar mal de uma série que teve muito sentido nas coisas que me cercam. concerteza irei levar para sempre desde a fé que lock levava consigo, até os jogos mentais que os personagens faziam ao longo da trama.

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