domingo, 28 de junho de 2009

[REVIEWS] Quarteto Fantástico e Homem de Ferro: Clássicos Antigos e Contemporâneos

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Os Maiores Clássicos do Quarteto Fantástico - Volume 4

Terminei de ler ontem o 4º encadernado da fase do Quarteto Fantástico escrita e desenhada por John Byrne, e com ele eu finalmente entendi porque o material que ele produziu para o título da família super-heróica na década de 80 até hoje é considerada a melhor dentre as protagonizadas pelos personagens.

Até aqui já havia lido os 3 encadernados anteriores, e apesar de ter curtido muitas histórias, ainda não havia enxergado nada nelas que as tornasse algo inesquecível. Sim, muitas tinham idéias muito criativas, tanto pra época em que foram escritas, como para os dias de hoje. Uma das minhas preferidas, publicada no primeiro volume da coleção, é a do senhor de meia idade de vida pacata que, sem nem sequer desconfiar, ganha poderes de alterar a realidade, transformando qualquer mínimo desejo que passe por sua mente em fato real e palpável. Não demora muito para que o Quarteto se envolva, procurando uma forma de impedir que o cidadão espalhe o caos no mundo.

No segundo encadernado tivemos o deleite de finalmente ver o Galactus sendo enfrentado não apenas pelo Quarteto, como em sua primeira e clássica visita à Terra para um "lanchinho", mas também os Vingadores, o Homem-Aranha, e até o Demolidor, satisfazendo a curiosidade de quem sempre quis ver todos os principais heróis residentes em Nova York enfrentando uma das maiores crises que ela poderia enfrentar. E de quebra ainda tivemos Reed Richards, ironicamente, sendo forçado a salvar a vida do Devorador de Mundos, e Frankie Reye, a namoradinha da vez do Tocha Humana, sendo transformada no mais novo arauto da entidade cósmica.

Sim, tivemos muitas boas histórias nos volumes anteriores, mas até este 4º eu não havia "pescado" qual era o fator que tornava toda a longa fase do Quarteto produzida por John Byrne, o escritor e desenhista sensação dos fins da década de 70, e praticamente toda a década de 80, em uma das mais celebradas pelos fãs da super-equipe.

Este volume começa com o Quarteto retornando de sua missão exploratória à Zona Negativa, mostrada no final do 3º, um universo paralelo composto por antimatéria, onde as leis da física funcionam de forma diferente das existentes no nosso universo. Na Terra o Aniquilador, o vilão da vez, aciona um dispositivo que pode causar a destruição dos dois universos. Tudo isto enquanto o Quarteto Fantástico tenta encontrar um meio de voltar ao seu universo de origem, e os Vingadores procuram lidar como podem com a ameaça em seu mundo sem muito sucesso. Daí começa uma corrida contra o tempo.

Claro que a crise é resolvida, mas há baixas, e conseqüências que repercutirão ao longo das histórias seguintes. Nestas veremos casos tão fantásticos como a famosa, e igualmente clássica, destruição do Mundo Imperial Skrull, cujos efeitos são sentidos até hoje, como, por exemplo, na atual Invasão Secreta; uma cidadezinha interiorana dos Estados Unidos tendo que lidar com uma praga alienígena causada por uma das primeiras aventuras protagonizadas pelo Quarteto; e finalmente a batalha épica entre Tocha Humana, o Coisa, a Mulher Invisível, dois ex-arautos de Galactus, Tyros e o Surfista Prateado, e o Doutor Destino. Ufa! Sim, tudo isto em um só encadernado.

A fase de Byrne atinge seu auge neste volume. Fica claro que sua intenção é escrever histórias cada vez mais épicas, o que acaba culminando na batalha final vista na edição. Seu momento mais inspirado são as descrições feitas na história protagonizada por Galactus e sua atual arauta, Nova, que realçam o tom de grandiosidade cósmica de que a história fará uso em toda a seqüência da destruição do Mundo Imperial Skrull.

Byrne também gosta de explorar idéias mirabolantes, explicações pseudo-científicas elaboradas a fim de imprimir uma lógica aos eventos, por mais estranhos e bizarros que se mostrem. É uma característica do escritor, cujo estilo tem forte influência da linguagem literária. Basta, para concluirmos isto, observar a forma como ele usa o texto, muitas vezes eloqüente e um tanto rebuscado, para suprir a carência de suas imagens na tarefa de transmitir a atmosfera e o clima que deseja construir na mente do leitor, procurando tornar a leitura uma experiência mais completa.

Observando sua trajetória como escritor e desenhista do Quarteto ao longo dos 4 volumes já publicados pela Panini, é notável que a paixão de Byrne pelos personagens foi crescendo ao longo das histórias produzidas. O cuidado na composição das cenas, dos diálogos, dos textos espalhados pelos recordatórios, ainda não havia alcançado tamanho apuro como nesta seqüência de histórias.

Finalmente seu status de clássico se mostra mais do que merecido aos meus olhos, e posso, enfim, aplaudir esse artista dos quadrinhos em um dos melhores momentos de sua carreira.


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Universo Marvel nº44

Meu envolvimento com o Quarteto Fantástico, se bem me lembro, começou em meados da década de 90, quando a Abril Jovem publicou por aqui a mini-série Marvels, um verdadeiro marco das histórias de super-heróis. Fiquei fascinado com a versão escrita por Kurt Busiek, e pintada com o traço fotorealístico de Alex Ross, da primeira história em que a super-família enfrenta pela primeira vez Galactus, o Devorador de Mundos, e o Surfista Prateado, seu arauto.

O tom épico, impresso nas incríveis imagens de Ross e no texto de Busiek, envolvia de tal forma o leitor, que não tinha como não se maravilhar com o que estava impresso naquelas páginas. Desde então procurei ir atrás de outras histórias protagonizadas por aqueles personagens tão fascinantes, quatro seres com super-poderes peitando um ser tão poderoso que podia destruir a Terra numa questão de horas. Não tive muito sucesso nisto pois, na época, a Abril Jovem, responsável pela publicação das histórias dos heróis da Marvel, não lançava muitas republicações de material clássico dos personagens, como a Panini hoje faz com tanta freqüência, de modos que acabei tendo que me contentar com a fase mais atual do Quarteto, que na época vinha sendo publicada numa das revistas mensais do Homem-Aranha, escrita por Tom DeFalco, se bem me lembro.

Era uma fase legalzinha, mas estava longe de apresentar aquele tom de fascinação visto naquela edição de Marvels.

Anos depois, em 2005, a Panini me ofereceu, enfim, a oportunidade de ler a fase mais marcante do Quarteto, criada por John Byrne. Minhas impressões sobre ela vocês podem conferir acima.

No final de 2007 a Marvel anunciou a mais nova equipe criativa responsável pelo título dos personagens, uma das duplas mais aclamadas pelos leitores de quadrinhos década atual, o escritor Mark Millar, e o desenhista Bryan Hitch.

Millar, um artista que adora autopromover-se, soube vender muito bem seu peixe, prometendo, assim que a notícia de sua contratação para o título saiu na mídia especializada, as melhores histórias do Quarteto desde que a dupla de criadores originais, Stan Lee e Jack Kirby, abandonaram os personagens, e John Byrne deixou o título.

Até o momento, aqui no Brasil, foram publicadas 5 histórias de Millar e Hitch, e pode-se dizer, sem dúvidas, que o escritor está cumprindo com o prometido.

A primeira história, publicada em Universo Marvel nº44, já apresenta uma série de boas idéias que certamente serão mais desenvolvidas ao longo das futuras histórias. Susan Storm, a Mulher Invisível, cria um grupo beneficente de super-heroínas; Johnny Storm, o garotão da equipe, seguindo a tendência de muitos "artistas" que enfiam na cabeça que possuem vocação musical, monta uma banda pra protagonizar uma reality show sobre seu dia-a-dia nesta nova empreitada, e ainda por cima inicia um caso amoroso com uma super-vilã; Ben Grimm, o Coisa, começa a se envolver com uma professora de ensino fundamental; e Reed Richards, o Senhor Fantástico, reencontra uma antiga paixão, cientista como ele, envolvida num projeto grandioso e impactante sobre o destino de nosso planeta.

São idéias que Millar, ao longo das 5 histórias, vai desenvolvendo de maneira equilibrada, mantendo o leitor sempre curioso com o desenrolar de cada uma deles. Não há uma subtrama desinteressante, todas soam pertinentes, e o interesse nelas vai crescendo conforme novos lances vão ocorrendo.

O primeiro arco, em 4 partes, já publicado por aqui, termina numa batalha entre força bruta e intelecto, com Reed Richards enfrentando um robô gigante com potencial pra destruir todas as instalações militares, e depósitos de armas, de maior e menor poder destrutivo, do mundo. A forma como a ameaça é eliminada é digna de uma história memorável do Quarteto.

Mas, o melhor momento da dupla de criadores está em outra cena, menos bombástica, mais intimista, protagonizada pelo casal de super-heróis. Reed e Sue comemoram mais um aniversário de casamento num restaurante, trocam impressões sobre a última batalha, sobre a antiga paixão de Reed, e por fim seus presentes. É um dos melhores diálogos já escritos para a dupla de personagens, e como se isto não bastasse, a cena tem um dos desfechos mais memoráveis da história do Quarteto, justamente pela simplicidade da idéia.

Se continuar assim, o que dois anos atrás soou como pura pretensão e autopromoção do Mark Millar, vai se tornar fato, figurando seu trabalho ao lado de Bryan Hitch como a terceira das melhores fases do Quarteto Fantástico. Porque eles vêm demonstrando que sabem o que deu certo no passado, e tem noção do que já não funciona mais atualmente.

A grandiosidade, as idéias mirabolantes, dos melhores momentos de Stan Lee, Jack Kirby e John Byrne, estão todos lá. Mas as características marcantes de Millar também podem ser encontradas nos diálogos com toques de malícia e ironias, e as cenas de ação explosivas desenhadas por Hitch, que apresenta um traço mais solto que o visto em seus trabalhos anteriores, tornando a leitura de suas cenas mais agradável e fluida aos olhos. E a mescla da antiga e da nova escola de quadrinhistas funciona maravilhosamente bem.

É um trabalho que merece toda a atenção dos apreciadores de quadrinhos de super-heróis.


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O Invencível Homem de Ferro: Extremis

O Homem de Ferro é um super-herói que demorou muito pra me atrair. A idéia de um milionário usando uma armadura de alta tecnologia pra combater o crime não me fascinava, e se tem um simples fator que ainda me interessa nos quadrinhos de super-heróis é o fascínio que eles conseguem provocar nos leitores.

Essa minha visão sobre o personagem só mudou quando (olha ele de novo pintando por aqui) Mark Millar, durante a supersaga Guerra Civil, lançou a idéia de super-heróis sendo forçados a registrar suas identidades secretas junto ao governo estaduniense, para que não tornassem suas atividades ilegais. Estava armado o cenário para que heróis contra e a favor do registro entrassem em um conflito físico, ideológico e moral, que jogou amigos contra amigos. No meio dessa crise toda, uma das melhores sacadas de Millar foi pegar o Homem de Ferro e transformá-lo no maior defensor da lei de registro de super-heróis.

Todos os holofotes do Universo Marvel se voltaram para ele, e um personagem que até então não me atraía tanto se tornou pivô de um dos eventos mais revolucionários já ocorridos na editora.

Mas, meses antes da Guerra Civil explodir, Tony Stark, o homem por trás da armadura, havia sofrido um reboot em sua história. Seu título foi zerado, e as seis primeiras edições foram entregues às quatro mãos da dupla Warren Ellis e Adi Granov. Foram os seis primeiros números do renovado título os responsáveis pelo início da revolução ocorrida com o Homem de Ferro que o alçou ao patamar de um personagem que mereceu um pouco mais da minha atenção.

Ellis já começa descontruindo a figura de Tony Stark como um mero playboyzinho metido a gênio, apresentando-o como alguém tão inquieto em seu desejo de fazer algo realmente significativo para a humanidade usando seu intelecto e sua facilidade para criar as mais variadas invenções tecnológicas, que passa boa parte de seu tempo livre isolado do resto do mundo num laboratório.

Algumas páginas depois temos o primeiro grande momento de Ellis, no diálogo ácido e incisivo entre Tony Stark e um diretor de documentários investigativos, bem ao estilo Michael Moore, que adora levantar polêmicas, e confronta-o com a realidade de que boa parte de sua fortuna provém das armas desenvolvidas por suas empresas, embora Tony alegue que os recursos financeiros ganhos nas vendas das mesmas fossem necessários para o desenvolvimento de pesquisas mais importantes ao bem-estar da humanidade. A forma como Tony Stark vira o jogo faz o personagem ganhar mais uns pontos do leitor, tornando-o ainda mais apreciável.

A dupla não apenas aproveita a chance deste reinício na vida do personagem para amadurecê-lo um pouco mais, como também apresenta uma versão mais contemporânea da origem do Homem de Ferro, cuja versão clássica já estava muito datada e pouco palatável ao leitor atual, e mais adequada às idéias defendidas por Ellis a respeito das motivações do personagem (na versão clássica ela ocorria em plena Guerra do Vietnã, tornando difícil a tarefa de engolir que o cara tem quase 70 anos hoje em dia).

O escritor britânico, visando reforçar ainda mais a intenção de confrontar Tony Stark com seus próprios defeitos, introduz Maya Hansen, um antigo caso amoroso do milionário, e responsável por uma pesquisa que ultrapassa Tony em suas pretensões de viabilizar a perfeita integração entre homem e máquina, a grande idéia por trás do que o motivara não só a criar como buscar desenvolver cada vez as tecnologias que integram a armadura do Homem de Ferro. Com isto Tony não apenas é forçado a engolir seu orgulho, como também a admitir que foi superado por alguém do sexo oposto, o que acaba tornando toda a situação uma metáfora (se foi intencional eu não sei) sobre a necessidade de conciliar opostos para uma perfeita integração e progresso tecnológico, psicológico, ideológico.

Outro personagem novo que chama a atenção é Sal Kennedy, que dentro da trama funciona como uma espécie de alterego de Ellis, um xamã moderno, defensor de idéias tão estranhas e fascinantes como o uso de drogas alucinógenas para permitir à mente humana o acesso direto ao "sistema operacional do corpo humano", e o uso de alta tecnologia como aguçadora dos sentidos, entre outras, numa rápida participação que deixa o leitor quase atordoado com tantos conceitos compactados em poucas páginas, e funciona como mais um fator que impulsiona a mudança de postura de Tony Stark, vista mais adiante na história.

A própria idéia do Extremis, um componente bioeletrônico que, quando injetado na corrente sanguínea, atua diretamente no centro de regeneração do cérebro humano, e a partir dele reconstrói todo o corpo de quem o recebeu, transformando-o numa versão mais avançada, resistente e com sentidos mais apurados, é tão boa quanto as melhores idéias de Ellis vistas em Planetary, a verdadeira obra-prima do escritor.

Transformando tudo isto em imagens, Adi Granov produz quadros quase foto-realísticos, mas que não deixam de ser estilizados até certo grau. Falta um pouco mais de movimento nas cenas de ação, mas não é nada que comprometa o produto final, bastante positivo em seu conjunto.

Muitos fãs antigos do personagem criticaram esta fase alegando que, ao término dela, Tony Stark/Homem de Ferro, acaba perdendo sua característica mais tradicional: um homem comum dentro de uma armadura. Particularmente encaro a mudança no status quo do herói como uma evolução natural, condizente com seu ideal, que sempre almejou aperfeiçoar-se como homem, inventor, e bem-feitor da humanidade. Com a fase Extremis o Homem de Ferro dá seu passo mais significativo na tarefa de convergir seus maiores objetivos num mesmo plano de ação.

É Ellis, mais uma vez, em sua figura de xamã moderno, ajudando mais um herói a realizar seu "ritual de passagem", e dando mais uma memorável contribuição ao fascinante universo dos super-heróis dos quadrinhos, já bastante em débito com o escritor britânico, pai, mãe e parteiro de Authority e Planetary, dois dos melhores títulos protagonizados por estes incríveis super-seres que ainda conseguem me maravilhar.

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