quarta-feira, 1 de julho de 2009

[CONTO] As Árvores da Memória - Capítulo 3

"Spiral Stairs L" de nicky2003 (a imagem foi editada)

Se ainda não leu os primeiros capítulos, clique nos links ao lado: 1º capítulo | 2º capítulo

Os degraus formavam uma longa escada que subia em espiral bem aberta. Não havia corrimões nem nada em que pudesse agarrar-se durante a subida. Olhou para baixo e viu uma vastidão branca que se espalhava por todos os lados. Não soube definir se aquilo era melhor ou pior que as piranhas famintas.

O cenário lá no alto era mais animador, embora igualmente incômodo, para não dizer totalmente sem nexo: tufos redondos e brancos envolvidos por cubos de vidro transparente saiam de janelas vermelhas quadradas, dispersos no espaço. De onde estava não soube identificar o que eram os tufos.

O alívio sobreveio quando sentiu mais curiosidade do que medo. Procurou não pensar no que exatamente aconteceria se caísse na direção de toda aquela brancura abaixo e pisou com seu sortudo pé direito no primeiro degrau flutuante. Pareceu-lhe muito firme, mesmo não estando preso a nada sólido. Isto encorajou-a para que desse o passo seguinte. Compensou a falta de corrimões mantendo os braços abertos para equilibrar-se, totalmente atenta a onde pisava.

Sua confiança e segurança aumentavam a casa passo.

Dezenas de degraus depois já podia ver que os tufos eram árvores com galhos lotados de folhas brancas. Havia milhares delas espalhadas pelo espaço, vazando de janelas vermelhas que apontavam para o que parecia uma outra dimensão. Os degraus continuavam subindo por entre aquele verdadeiro arvoredo surrealista, congelado no espaço e no tempo em seu passo de valsa antigravitacional.

Aproximou-se de um dos cubos e notou que em cada um de seus lados trazia pequenas placas vermelhas com letras brancas coladas sobre a superfície. A primeira que conseguiu ler dizia: INACESSÍVEL. Chegando ainda mais perto, reparou que a janela de onde a árvore saia também tinha palavras escritas em branco em todos os quatro lados. Naquela estava escrito: NEGAÇÕES.

Percorreu todo o cubo com os olhos, em busca de algum tipo de entrada, mas logo concluiu que estava hermeticamente lacrado.

Sua intuição alertou-lhe de que ali havia uma pista da qual não podia desistir, algo relativo à sua identidade, e por isto, agindo puramente por impulso, agarrou o degrau acima do seu e, sem saber como, arrancou-o de sua base invisível, segurou-o firme com as duas mãos, com ele traçou um arco para atrás, e por fim acertou-o contra o cubo de vidro, que desfez-se em cacos, caindo como chuva cintilante em direção à brancura sem fim.

Três degraus vermelhos brotaram literalmente do nada no espaço que separava aquele onde mantinha-se de pé e o topo da árvore, que em relação a ela estava deitada. Avançou por eles sem hesitar.

CONTINUA...

Nenhum comentário:

Postar um comentário