domingo, 19 de julho de 2009

[REVIEWS] Kick-Ass e Ultimate Wolverine vs Hulk

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Kick-Ass


Tá, vamos falar de Kick Ass, uma das HQs mais quentes do momento!

Sim, este sou eu falando de outro trabalho do Mark Millar! Sim, eu sei que estou soando um tanto repetitivo agora com mais um post onde falo de mais uma criação do autor! Mas, sinceramente, eu não me importo de que pareça que estou sem idéias, porque acredito que é sempre louvável falar a respeito de bons trabalhos de outras pessoas, e recomendá-los pra quem aprecia o tipo de arte que produzem.

Acho que antes de falar qualquer coisa sobre Kick-Ass, preciso deixar bem claro que não se trata de uma obra-prima dos quadrinhos, o que não a impede de tornar-se um dos trabalhos mais divertidos e empolgantes dos últimos anos, duas características que, felizmente, já se tornaram uma marca registrada da maioria das HQs escritas por Mark Millar.

A premissa é até muito simples. Dave, um garoto vivendo num mundo muito parecido com o nosso, fã de quadrinhos de super-heróis, não se conforma com o fato de até hoje não ter aparecido uma pessoa em todo o planeta que se engajasse na tarefa de se tornar um super-herói, justamente por existir tantas que admiram histórias protagonizadas por homens e mulheres que um dia decidiram vestir uniformes espalhafatosos e lutar pra fazer do mundo um lugar um pouco melhor, o que acaba rendendo a primeira das muitas frases que se tornam antológicas na HQ: "Por que tem tanta gente querendo ser a Paris Hilton, e ninguém querendo ser o Homem-Aranha?"

O inconformismo do rapaz acaba se tornando uma obsessão, quando ele chega à conclusão de que não há nenhuma profissão, nenhuma carreira a ser seguida neste mundo que irá proporcionar a mesma realização que teria se fosse um super-herói. Daí pro dia que resolve comprar pela internet uma roupa de mergulho que ele dá um jeito de transformar em seu traje é um pulo.

A forma realista com que Millar trabalha o conceito é exemplar, sempre reforçando a idéia de que tudo o que vemos através do traço de John Romita Jr., mais competente que nunca em sua segunda parceira com o escritor escocês, poderia perfeitamente acontecer no nosso mundo. Isto rende outra das melhores cenas da série até aqui, vista no final da segunda edição, quando Dave, sob sua identidade super-heróica, é visto atuando pela primeira vez em público, e tem sua luta com bandidos registrada pela câmera do celular de um dos espectadores, que não perde tempo em jogá-la no YouTube, começando, com isto, a ascenção meteórica da carreira de Dave como o precursor do surgimento de super-heróis no seu mundo, e dando a ele seu codinome, que por sua vez é o título da série.

A cada novo trabalho Mark Millar se firma um pouco mais como um dos escritores de quadrinhos mais criativos da atualidade. Seus trabalhos proporcionam ao leitor uma satisfação a cada dia mais difícil de se obter lendo séries regulares de super-heróis.

Achei particularmente genial a forma como o autor trata o surgimento de pessoas que vestem uniformes coloridos pra combater o crime inicialmente como uma "moda" que pega, pra mais tarde se tornar um estilo de vida totalmente novo, que acaba ganhando entre seus admirados um status comparável ao dos astros do rock. Difícil não pensar que, se algo assim acontecesse no nosso mundo, seria justamente dessa maneira que nós, pessoas "normais", lidaríamos com isto.

Mas os melhores momentos da HQ ficam mesmo pra quando Millar volta a se focar na vida de Dave, o protagonista que acaba se vendo no meio de uma revolução cultural pra qual deu início sem o menor controle. Suas reações ao alastramento de super-heróis, a forma como lida com sua identidade secreta diante do pai viúvo, e especialmente a maneira que encontra de falar sobre isto com a garota por quem é apaixonado, e pra quem finge ser gay, só pra ficar perto dela... É Millar se divertindo e ao mesmo tempo ousando cada vez mais.

Dave soa como um Peter Parker sem superpoderes, menos moralista, e mais egoísta. Sua vida, em dado momento, vira um caos de problemas dignos das melhores histórias do Homem-Aranha, e é delicioso ler seus comentários e reflexões a respeito de quão fodida sua existência se torna a cada dia.

Kick-Ass já está em sua 6ª edição nos Estados Unidos, e felizmente ainda não há uma previsão para o seu fim. A cada nova história ela consegue se sustentar não somente como uma extrapolação muito criativa a respeito da influência das histórias de super-heróis sobre a vida de seus admiradores, mas também sobre a maneira como os jovens de hoje assimilam, e muitas vezes abraçam, a violência como uma forma de expressar suas aspirações a uma vida menos conformista diante de um mundo tão cheio de regras, carreiras, e problemas que precisam passar por tanta burocracia e convenções sociais pra se resolverem.

É a rebeldia juvenil elevada a um nível somente permitido dentro dos limites de uma arte dinâmica como os quadrinhos. É a fome de viver no limite em um mundo que a cada dia que passa soa mais monótono e apático a tudo. Um mundo que talvez precise justamente de um visionário como Dave, vestindo uma roupa de mergulho, empunhando seus cacetetes, e mostrando pra todos que não quer seguir a porra das expectativas que a sociedade deposita nele. Também precisamos de um Kick-Ass!




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Ultimate Wolverine vs. Hulk


Damon Lindelof, uma das mentes criativas por trás da série Lost, devia seriamente considerar uma carreira paralela como escritor de quadrinhos. Neste seu primeiro trabalho fora da TV ele se mostra tão a vontade com o formato que não dá pra evitar a vontade de ver do que mais ele é capaz explorando outros personagens.

Graças ao seu papel-chave na condução da intrincada trama de Lost, Damon entregou o roteiro dos dois primeiros números dessa mini-série em seis edições há mais de três anos atrás. Somente em julho de 2008 ele arrumou um tempo em sua agenda pra retomar a história do ponto onde a havia largado. Felizmente toda a espera e espectativa em torno dela valeu a pena.

Ultimate Wolverine vs Hulk é a versão reformulada e contemporânea do primeiro quebra-pau entre dois dos super-heróis mais barra-pesada da Marvel. Como o próprio título indica, ela se passa no Ultiverso, uma versão alternativa do universo da Casa das Idéias onde heróis como os X-Men, Homem-Aranha e Vingadores ganharam uma repaginada em suas origens.

Lindelof já começa a história com uma splash-page pra deixar qualquer leitor ávido pra saber como o baixinho peludo vai se safar da enrascada em que se meteu. Esta eu faço questão de mostrar aqui, só pra deixar quem ainda não leu mais curioso ainda:



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RAAAAAAH!! Vamos ver se o seu fator de cura dá conta disto!


Mas, Lindelof não se permite apenas esta ousadia. Há também uma ótima sacada envolvendo a identidade da Mulher-Hulk, que ganha sua versão Ultimate na mini-série, do tipo que leitores de longa data vão adorar, e cuja implicação culmina na ótima frase: "Eu ainda não estou certo se aquilo era uma luta ou uma foda."

E tem mais! Ao contrário do que pode parecer, a mini não mostra uma longa troca de socos e chutes estrondosos, e garras de adamantium fazendo correr muito sangue verde, embora também mostre um bocado disto. Lindelof sabe o que a maioria dos leitores esperam de uma história envolvendo uma dupla de personagens que já têm um longo histórico de desentendimentos em seu passado no universo tradicional da Marvel, e por isto mesmo tenta fugir da maioria das convenções. E é aí que entra outro dos melhores elementos de sua história: os diálogos entre Logan e o Gigante Esmeralda. É uma troca de sopapos verbais que chega ao ponto de ser mais empolgante e divertida de se ver do que as páginas onde eles saem na mão.

E, como se tudo isto já não bastasse, Lindelof ainda brinca com uma das marcas registradas de seu trabalho em Lost: os flashbacks. É um vai e vem do passado para o presente, e deste para o futuro, que o tempo nas mãos do escritor parece um ioiô. Cenas são revisitadas e mostradas de novas perspectivas diversas vezes, ganhando um significado maior dentro da trama principal. Tudo muito bem conduzido de maneira que o leitor não chega a ficar totalmente perdido, e mesmo quando isto acontece mais adiante se mostra intencional, porque faz parte do show de Lindelof na condução da narrativa.

E, claro, não podia deixar de tecer alguns comentários sobre o lance mais polêmico da história: o tratamento dado ao fator de cura de Wolverine. Pela cena aí de cima vocês já podem ter uma idéia de algumas das extrapolações que ele se permitiu. Eu mesmo, quando a vi, fiquei pensando que já estavam indo longe demais com esse papo de que o baixinho pode se safar de qualquer tipo de ferimento. Mas, Damon também sabe disto, e muito provavelmente sabe dos absurdos que andam fazendo com o Sr. Logan de uns tempos pra cá, como pode ser comprovado na cena abaixo, retirada de Wolverine v3#48:



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Músculos e órgãos brotando de um esqueleto de adamantium?! WTF?!!


Pois bem. Muita gente chiou com a forma como ele interpreta o poder mutante de Wolverine na mini-série. Num primeiro momento realmente soa forçado demais. Porém, na minha opinião, Lindelof soube lidar com isto muito bem quando optou por não se levar tão a sério. Ele sabia que estava escrevendo uma história em quadrinhos de super-heróis onde extrapolações ocorrem praticamente a cada página virada, e sabia quão absurda soaria a "cena da cabeça", e felizmente soube tirar desta, e de outras tantas, algumas das melhores sacadas da mini-série, fazendo os próprios personagens tirarem sarro da situação absurda em que se encontravam, como num dos meus diálogos preferidos:

- Pode coçar pra mim o meu nariz?
- Por quê? Pra você comer meu dedo?
- Pelo menos você o pegaria de volta assim que eu o engolisse! *sorrisinho sarcástico*



Já o desenhista Leinil Francis Yu, apesar de suas limitações na hora de desenhar expressões faciais, se saiu muito bem ao longo de toda a mini-série, mantendo um trabalho competente e eficiente, imprimindo o ritmo certo tanto nas cenas de ação, quanto nos diálogos rápidos e certeiros que percorrem todas as seis edições.

Enfim, um embate muito bem escrito que superou todas as minhas espectativas. Vale a leitura, com certeza!

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