quarta-feira, 22 de julho de 2009

[REFLEXÕES] Eu e Mim: Um Monodiálogo



Me, Myself de Red Eye Loon


Eu: Não sei bem por onde começar...
Mim: Que tal do ponto onde surgiu esta idéia?
Eu: É, pode ser... Acho que foi por causa de Flubber e o Homem Bicentenário.
Mim: Tem certeza?
Eu: Não. Mas podemos começar deste ponto mesmo.
Mim: Ok. Fale-me de Flubber.
Eu: Eu gosto do Robin Williams. Acho ele um dos atores mais simpáticos de Hollywood. Não sei como ele é no dia-a-dia, mas, no meu caso, o que vale é a imagem que ele passa em seus filmes. Ele me parece um sujeito bacana. Do tipo que se a gente parasse na rua todo empolgado e dissesse "Uau! Você é o Robin Williams, cara! Posso apertar sua mão?", ele daria uma paradinha só pra estendê-la pra você, e ainda trocaria uns dois dedos de prosa enquanto você ainda tenta assimilar aquele encontro na sua cabeça falando de todos os filmes dele que você assistiu, e citando até um ou outro onde ele nem sequer deu as caras.
Mim: Então, você pensava no Robin Williams.
Eu: Não, eu pensava no quanto eu gosto do filme Flubber. Aquele das borrachinhas verdes que fazem um número musical, e cientista com o carro que voa naquela rua bonita a noite com a namorada.
Mim: É por isto que você gosta desse filme?
Eu: Não. Os efeitos especiais são legais, e é um filme divertido, como a maioria dos filmes do Robin Williams são. Mas gosto dele especialmente pela declaração de amor que ele faz à namorada dele.
Mim: O que tem de tão especial na declaração de amor?
Eu: Bom, durante todo o filme ele fica a maior parte do tempo distraído tentando inventar mil e uma aplicações pra descoberta que ele fez. E sempre acaba se esquecendo dos encontros que marcou com a namorada. Daí chega num ponto que ela enche, e acho que termina com ele (não me lembro muito bem dessa parte pois já faz tempo que não assisto). Só sei que no final, depois de ele quase perdê-la, ele vira pra ela e diz que o motivo de ele ser tão distraído, a ponto de se esquecer de tantos compromissos que havia marcado com ela, é que ele a amava tanto que isto o fazia sempre se esquecer das coisas, de tanto que ele pensava nela enquanto inventava. Ela era uma espécie de musa inspiradora pra ele. Quem o ajudava a ter tantas idéias. Algo assim.
Mim: Não acha uma explicação meio forçada?
Eu: Pode parecer pra maioria das pessoas, mas eu sei bem como é isto.
Mim: Como?
Eu: Porque eu era assim quando namorávamos. Pensava tanto nas mil e uma coisas que eu gostaria de fazer com ela, que na hora que nos encontrávamos, eu acaba me esquecendo de coisas que a gente havia combinado de fazer, ou acabava me distraindo vendo outra coisa, enquanto ela ficava olhando pra mim esperando um pouco mais de atenção.
Mim: Então, você se acha como o personagem do Robin Williams em Flubber.
Eu: Sim, um pouco. Sabe, eu sou relapso demais. Tenho muitas idéias em questão de minutos. Uma vai puxando a outra, e às vezes eu perco o controle sobre isto. Vou seguindo o fluxo. É tudo um "TUNTZ! TUNTZ! TUNTZ! Mil idéias por minuto! Mil idéias por minuto!", e quando eu não sigo com elas, me sinto meio frustrado.
Mim: E ao mesmo tempo você se sentia frustrado por fazer com que ela se sentisse ignorada.
Eu: Mas eu não a ignorava! Eu só tentava seguir uma idéia minha até onde ela me levava, mas eu nunca deixava de pensar na Tati. Ela sempre fazia parte das minhas preocupações. Me preocupava muito não ter muito o que dizer pra ela em algumas ocasiões, simplesmente porque eu estava seguindo uma idéia minha.
Mim: E por que não falava da idéia pra ela?
Eu: Às vezes eu falava. E às vezes ela gostava, e a gente curtia muito falar sobre isto. Mas às vezes ela não tava muito disposta a falar sobre isto.
Mim: As pessoas são assim mesmo.
Eu: Sim, são.
Mim: E o Homem Bicentenário? Por que pensou nele?
Eu: Sabe, só ontem eu me dei conta de que é um dos melhores filmes já feitos pra nerds como eu.
Mim: Por que diz isto?
Eu: Porque é uma ficção científica de primeira que mesmo assim dá pra assistir com a namorada e, melhor ainda, se emocionar com a história. E o Homem Bicentenário tem uma história poderosa!
Mim: Por qual motivo?
Eu: Pôxa! O cara era um robô, uma inteligência artificial que vai com o tempo aprendendo a se comportar cada vez mais como um humano, até o ponto de se apaixonar por uma garota. Uma máquina que aprende a amar, cara! Tem noção do significado disto? E no final ele, que podia muito bem viver pra sempre, se continuasse com seu corpo robótico movido a um reator positrônico, algo como uma fonte de energia infindável dentro da história, simplesmente desiste disto, pede pro seu criador fazer todas as adaptações possíveis para que ele se transformasse num humano completo. Ele desiste da imortalidade pra ficar com a mulher que ele ama até o fim! E eles morrem juntos! Cara, aquele final é de fazer qualquer um chorar! Os dois lá, velhinhos, deitados na cama, dando o último suspiro juntos! Não tem final mais grandioso que este pra um filme! É uma das melhores histórias já criadas!
Mim: É, deu pra notar que você gosta muito dele.
Eu: Sim, demais! Mas só me dei conta disto agora. É como morrer.
Mim: Morrer?
Eu: Sim. Dizem que antes da morte a gente vê um filme sobre a nossa vida. Eu não acredito muito nesse lance de "filme". Acho que quando estamos prestes a morrer a gente revive tudo, como se estivesse acontecendo naquele momento. Deve ser uma tremenda carga emocional a que sentimos nessa hora. Tipo, uma versão de nossa própria vida sendo revivida na velocidade da luz. Algo assim.
Mim: E o que isto tem a ver com você ter se dado conta de que gostava tanto do Homem Bicentenário?
Eu: Tem que a gente só toma ciência da importância de alguns elementos de nossa vida dentro de um contexto mais amplo. Acho que quando estamos perto de morrer a gente enxerga muita coisa do passado de uma forma bem diferente daquela que enxergamos enquanto vivíamos aquele fato pela primeira vez.
Mim: Tudo parte de um contexto maior.
Eu: Sim. E algumas coisas fazem mais sentido quando as revisitamos, quando olhamos pra elas mais uma vez depois de termos passado por certas experiências.
Mim: Pode citar um exemplo?
Eu: Sim. Eu e a Tati. Ela terminou comigo ano passado, no Natal. Foi a pior coisa que já aconteceu comigo até aqui. A pior, sem a menor dúvida. Foi como morrer, e ao mesmo tempo como perder alguém que amamos muito. Bom, na verdade, em parte, foi isto mesmo que aconteceu. Foi como se ela tivesse morrido. E ter que conviver com a idéia de que não existe mais a possibilidade de voltar a vê-la de perto, tocá-la, beijá-la, fazer um monte de coisas que gostávamos de fazer juntos, e que eu sei que nunca será da mesma forma com o outra pessoa. Enfim, ter que aceitar o fato de que eu perdi tudo isto, foi como se me arrancasse um pedaço muito importante da minha alma. De certa forma foi isto que aconteceu mesmo. A gente se doa muito quando estamos amando alguém. Acredito que deixamos com cada pessoa a quem transmitimos nosso amor uma parte de nós, não importa de que forma seja. E no final, quando terminamos esta vida, a gente olha pra trás e se dá conta de que saiu por aí distribuindo muitos pedaços de nós mesmos pra muita gente. E algumas deram o valor devido à parte que recebeu, e algumas não. É assim que funciona.
Mim: E o que você enxerga de forma diferente agora que pode revisitar o que já passou?
Eu: Que a gente deixou muitas coisas, e muitas pessoas, que não deviam nos afetar ter justamente esse efeito sobre nós. Que a gente permitiu que muitas das nossas limitações fossem motivos pra voltar nossa revolta contra elas um contra o outro. Se bem que isto eu já enxergava mesmo na época em que ainda namorávamos. Nos últimos meses.
Mim: E o que mais?
Eu: Ela voltou pro antigo namorado dela. Ela ainda o ama. Eles estão tentando fazer com que dê certo agora. Mas, por mais que ela tente me convencer disto, ela não me parece feliz. Ela ainda sente muita falta do que nós dois éramos capazes de fazer juntos. Coisas que ela não consegue fazer com o namorado atual. Coisas que ela nem sequer tem esperança de que um dia possa fazer com ele.
Mim: Como o que, por exemplo?
Eu: Fazer com que sua imaginação flua com a mesma facilidade com a qual fluía quando estávamos juntos. A ponto de escrever contos inteiros só de olhar pra uma imagem que eu passava pra ela. A ponto de manter um ritmo diário. A ponto de fazer mil planos pra sonhos que gostaria de realizar. A ponto de inventarmos histórias um pro outro na hora, e contá-las com tanto encanto e paixão, que nos fazia sentir verdadeiros deuses narrando os destinos de um mundo inteiro, deuses bons que só queriam ver um mundo cheio de magia e amor.
Mim: E o que você acha disto tudo?
Eu: Acho que algumas pessoas precisam voltar a sentir o gosto de algumas lembranças a ponto de revivê-las de maneira concreta, palpável, pra ter certeza do que/quem realmente quer. Acho que é isto que acontece agora.
Mim: Ela está com ele só pra ter certeza de que quer ficar com ele mesmo?
Eu: Não é tão simples assim. Dizendo isto você está falando apenas de uma parte da verdade.
Mim: E qual seria a outra?
Eu: Ela ainda o ama, ainda se preocupa com ele. Sei disto porque mesmo enquanto estávamos juntos ela falava muito dele, ela sonhava muito com ele. Ela ama demais as pessoas a ponto de continuar amando uma mesmo estando com outra. A ponto de conseguir amar tão intensamente alguém sem se esquecer que ainda ama um outro alguém. Ela é assim. E eu a admiro por isto, apesar de tudo. Ela é mais uma daquelas pessoas tão lindas e tão especiais, com tanto amor pra distribuir guardado dentro de si, que às vezes não sabe bem como direcioná-lo, como fazer isto sem magoar as pessoas, sem cometer erros que acabem prejudicando todos.
Mim: Você acha que ela cometeu um erro?
Eu: No início eu pensava que sim. Mas agora eu vejo tudo como algo que precisava acontecer. Ela precisava passar pelo que está passando agora. Ela precisa viver isto. Precisava enxergar sua relação com ele dentro de um contexto mais amplo. E o tempo que passamos juntos ano passado ajudou a criar esse quadro maior. Ajudou a criar um termo de comparação.
Mim: E o que você espera disto tudo?
Eu: Só que ela tome a decisão certa quando sentir que deve tomar alguma com relação ao que está vivendo agora. E que ela descubra o que/quem realmente quer pra sua vida.
Mim: E se este "quem" não for você?
Eu: Talvez eu siga em frente, e me esqueça dela de uma vez por todas.
Mim: E qual é a outra possibilidade?
Eu: Ser consumido pelo vazio interior que sinto agora.
Mim: Fale-me sobre isto.
Eu: Esta coisa sempre esteve presente na minha vida, mesmo quando eu estava com ela.
Mim: E que coisa seria esta?
Eu: Já a chamei de meu "monstro interior". Aquela parte sombria que a maioria de nós temos. Talvez algum resto de maldade que ainda sobrou de minhas vidas anteriores, quando eu ainda não era uma pessoa uma pouco menos cheia de má. Aquele lado meu contra o qual ainda luto pelo domínio de meus atos.
Mim: Por que tem medo de ser consumido por ele?
Eu: Porque não consegui domá-lo nem mesmo em alguns dos melhores momentos que tive com ela.
Mim: Por exemplo?
Eu: Tomávamos banho juntos uma vez, depois de fazermos amor. Eu olhei pra ela, e ela... teve medo de mim. Disse que teve uma sensação ruim. Que eu olhei pra ela com um olhar vazio. Algo que transmitia desprezo. Era como se fosse outra pessoa. Como se, por alguns segundos, eu houvesse me transformado diante dela. E não passou de um olhar. Eu não fiz nada com ela, não disse nada. Só estava olhando pra ela, e meu jeito de olhar mudou. E isto bastou pra ela sentir calafrios. Se afastar alguns passos de mim dentro daqueles box apertado. Ficar me olhando como se estivesse diante de um estranho que se materializou do nada naquele espaço limitado, e começasse a acoá-la. Eu não fiz nada, só estava olhando pra ela...
Mim: E como você se sentiu?
Eu: Como eu me sinto quando perco o controle sobre mim por alguns instantes. É algo parecido com se ver sentado na poltrona do carona dentro de seu próprio carro, vendo um estranho conduzi-lo sem a menor chance de impedir que ele faça o que quiser.
Mim: Então você não perde a consciência nestes momentos?
Eu: Não. Eu enxergo e ouço tudo.
Mim: Nunca perdeu?
Eu: Nunca.
Mim: Você acha que foi só por isto que ela teve tanto medo de você naquele dia?
Eu: Acho que ela teve medo de ser consumida por aquele vazio que enxergou dentro dos meus olhos. Nada mais natural. Estávamos com planos de nos casar. De passar o resto da vida juntos. Quando uma pessoa convive muito tempo com outra acaba tendo contato tanto com o melhor como com o pior da outra. E quando a gente olha muito tempo pra uma coisa, se a gente não se cuidar, acaba sendo hipnotizado por ela. Quando olhamos muito tempo pro vazio, a gente se sente tão vazio quanto ele. E se tem uma coisa que nenhum ser humano gosta de sentir-se é vazio.
Mim: Por que esta sua fixação por vazio?
Eu: Acho que tenho mais fixação pelo extremo do vazio. Os buracos negros. Meus olhos, naquele dia, pra ela, devem ter se tornado muito parecidos com dois buracos negros.
Mim: Por que buracos negros?
Eu: Porque eles consomem tudo que os cerca graças à sua gravidade infinita, inclusive a luz. E deve ser aterrizante pra uma pessoa sentir a luz que carrega em si, aquela luz de criatividade, de encanto, de amor pelo ser amado, sendo sugada por dois olhos tão diferentes dos olhos que geralmente encontra naquela pessoa diante dela.
Mim: E como você lidou com a reação dela naquele dia?
Eu: Eu pedi desculpas. Na verdade implorei por elas. Disse que não era minha intenção. Que eu não pude evitar aquilo. Que a coisa simplesmente aconteceu sem o meu controle. Que era algo que existia em mim que vez ou outra aparecia sem aviso. Eu a abracei, e choramos muito juntos debaixo daquele chuveiro que chovia água quente em nossos corpos, que de repente se pareceram mais nus do que de fato estavam.
Mim: E o que mais tem a dizer sobre este vazio?
Eu: Ele se manifesta de outras formas.
Mim: Poderia dar outro exemplo?
Eu: Sim... Eu não me sinto mais tão vivo como me sentia perto dela. Se for comparar a minha vida de agora com a que eu tinha quando tava com ela, dá pra dizer que mesmo nos dias em que conversávamos pela internet tendo que nos contentar apenas com a imagem e o som da voz um do outro, eu me sentia mais vivo do que os dias mais vívidos que tenho hoje. E, por não me sentir mais tão vivo, muitas vezes me desespero. Posso passar vários dias seguidos sem me importar tanto com isto. Simplesmente levando a minha vida do jeito que dá. Indo trabalhar, assistindo algum filme ou série, ou lendo algum livro ou uma história em quadrinhos quando chego em casa. Às vezes escrevendo, outras, mais raras, desenhando. Mas, depois de uns dias assim, chega mais um daqueles dias em que tudo isto não basta. Aquele tipo de dia que nada me satisfaz. O tipo que se torna tão desesperador a ponto de sentir que eu devo apelar pra algo mais forte do que tudo aquilo, a coisa mais forte que eu posso fazer comigo mesmo sem ter ninguém por perto. Sem ter ela... A coisa que me faz sentir ainda vivo, mesmo que por pouco tempo.
(...)
Mim: E que coisa seria esta?
Eu: Masturbação...
(...)
Eu me tranco no banheiro, tiro todas as roupas, e... Bom, eu não vou descrever algo que todo mundo sabe muito bem como funciona.
Mim: E isto te incomoda.
Eu: Sim...
Mim: Por quê?
Eu: Porque eu me sinto sujo ao fazer isto.
Mim: Explique isto.
Eu: Sinto que eu não mereço aquilo. Sinto que aquela é a maior fraqueza que eu poderia manifestar. Que eu não devia apelar pra algo tão depreciativo.
Mim: Por que acha depreciativo?
Eu: É uma medida desesperada. Uma coisa que alguém faz só quando não tem ninguém que proporcione aquilo.
Mim: E isto te faz sentir-se culpado.
Eu: Sinto culpa por não ter sido forte o bastante.
Mim: Já pensou que isto pode ser mais natural do que um sinal de fraqueza? Os seres humanos têm necessidades que não podem ignorar por tanto tempo.
Eu: Sim, eu já pensei. Mas não gosto de sentir que estou retrocedendo. Eu não me sinto bem simulando um amor que eu não possuo.
Mim: Então você não sente amor próprio.
Eu: Acho que não...
Mim: Você precisa sentir-se amado pra conseguir se amar.
Eu: Sim, acho que é isto.
Mim: E porque acha que precisa de alguém pra se amar.
Eu: Porque eu não suporto a solidão! Não suporto a idéia de ter que conviver comigo mesmo por tempo indeterminado!
Mim: Mesmo que muitas vezes isto só aconteça porque você se isola das outras pessoas?
Eu: Eu preciso fazer isto. Não sou capaz de expressar o que eu tenho de bom pra qualquer pessoa.
Mim: Então você acha que somente algumas pessoas merecem ter contato com o que você tem de bom pra oferecer.
Eu: Somente as pessoas que eu sinto que gostam de mim do jeito que eu realmente sou.
Mim: E como você pode ter tanta certeza disto se você se isola de muitas delas?
Eu: Porque a maioria das pessoas deixam muito claro se querem ou não se envolver com a gente. Eu sinto isto nas pessoas. Minha percepção é tão forte quanto a minha imaginação.
Mim: Sua imaginação. Você ainda não falou sobre ela.
Eu: Ela é outra das armadilhas que eu carrego dentro da minha mente.
Mim: Por que diz isto?
Eu: Porque eu sou capaz de imaginar muitas coisas. Ligar muitas idéias umas com as outras de uma forma que, com o passar dos anos, se tornou praticamente instintiva. Encontrar ligações entre idéias inicialmente desconexas. Encontrar meios de casá-las, por mais contraditórias que sejam. Às vezes funciona muito bem, e às vezes não. Mas eu estou sempre fazendo isto, o tempo todo, nos momentos mais inimagináveis.
Mim: O que ainda não explica porque a considera uma armadilha.
Eu: Porque ela muitas vezes atenta contra mim. Cria na minha cabeça coisas que não existem, fatos que não ocorreram, possibilidades que estão longe de serem plausíveis. E eu tenho dificuldade de filtrar tanta informação. Tenho dificuldade de me focar. Sou capaz de imaginar coisas realmente perturbadoras, horripilantes, infernais. Coisas que renderiam noites péssimas de sono pra muitas pessoas, ou mesmo insônias. Coisas que deixariam alguém traumatizado por uma vida inteira, se olhassem bem de perto o que eu guardo aqui dentro. Minha imaginação é o próprio inferno. O meu inferno. E ao mesmo tempo é o mais próximo que eu consigo chegar do paraíso.
Mim: Vamos usar essa metáfora pra um exercício imaginativo. Como você enxerga sua vida agora, depois de passados quase sete meses desde que ela terminou com você? Como um céu, ou como um inferno?
Eu: Apesar de todo o meu empenho, especialmente no último mês, pra transformar boa parte do que eu sofri e vivi até aqui algum tipo de arte, enfim, maneiras de sublimar o pior que eu vivi, e o melhor também, ainda considero minha vida atual um inferno.
Mas eu gosto de um pensamento, não sei de qual autoria, que diz algo como "é preciso que alguém passe pelo seu próprio calvário, e pelas regiões mais profundas, sufocantes, e dolorosas do inferno, pra fazer por merecer sua entrada no paraíso". Acho que é assim que enxergo minha vida agora. Eu preciso viver isto, esse inferno todo, assim como ela precisa passar por todos aqueles problemas que vem enfrentando com ele, pra garantirmos nosso paraíso lá adiante.
Mim: E quando você acha que isto vai terminar?
Eu: Sinceramente não sei, mas quero acelerar o máximo que puder a minha estadia nesse antro de sofrimento e dor. Eu quero encarar meu próprio inferno de frente, meu próprio "monstro interior" e todas as coisas que vierem junto com ele. Sejam elas um vazio devorador de luzes, ou lembranças, boas e ruins, tão cortantes como giletes afiados chovendo na superfície e nas profundezas da minha alma. Enfim, não me importo com o que eu vou encontrar lá dentro daquele quarto escuro, eu quero entrar logo nele, e sair de lá tendo visto e revivido tudo que eu preciso ver e reviver pra encontrar a força que eu preciso reunir pra conviver comigo mesmo, e aprender finalmente a me amar independente de qualquer pessoa. Eu quero renascer.
Mim: E como pretende fazer isto?
Eu: Simples. Eu vou pedir pra minha psicóloga me ajudar no processo. Me ensinar o caminho certo até aquela porta. Até o quarto escuro, a Caixa de Pandora que eu guardo no recanto mais abissal e atemorizante que guardo dentro de mim. E eu quero começar logo. Se não for hoje, que seja na próxima semana, em nossa próxima sessão.
Mim: É isto que você vai dizer pra ela quando se encontrarem amanhã?
Eu: Você ainda não entendeu? Isto aqui não está acontecendo num "ontem", está acontecendo agora. Eu estou conversando contigo ao mesmo tempo em que estou lendo nossa conversa pra ela. E sabe o que vai acontecer agora?
Mim: Acho melhor você responder logo.
Eu: Vou me virar pra ela e dizer: "Márcia, eu quero renascer, e não posso mais adiar isto!"

DEFINITIVAMENTE NÃO É O FIM...

Um comentário:

  1. "Mim: Explique isto.
    Eu: Sinto que eu não mereço aquilo."

    err... eu mereço! HAHAHHAHA =X

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