sexta-feira, 20 de maio de 2011

[CRÍTICAS] Trilogia Samurai

Samurai - O Guerreiro Dominante (Miyamoto Musashi, Japão)

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Diretor: Hiroshi Inagaki
Roteiro: Hideji Hôjô, Hiroshi Inagaki e Takuhei Wakao
Elenco: Toshirô Mifune (Miyamoto Musashi / Takezo), Rentarô Mikuni (Matahachi Honiden), Kuroemon Onoe (Monge Takuan), Kaoru Yashigusa (Otsu), Mariko Okada (Akemi), Mitsuko Mito (Oko, mãe de Akemi),Eiko Miyoshi (Osugi, mãe de Matahachi), Akihiko Hirata (Seijuro Yoshioka), Kusuo Abe (Temma Tsujikaze), Eitarô Ozawa (Terumasa Ikeda), Akira Tani (Kawarano-Gonroku)
Ano de lançamento: 1954
Duração: 93 min.
Sinopse: Ao lado do amigo Matahachi, o jovem órfão Takezo deixa seu vilarejo para se juntar ao exército e enfrentar uma batalha. Vendo-se perdedores, os dois procuram abrigo numa casa isolada onde vive a viúva Oko e sua filha Akemi. Oko acaba seduzindo Matahachi, que cai na tentação da mulher e se esquece de seu noivado com Otsu. Logo Oko, Matahachi e Akemi partem para viver em outro local, enquanto Takezo resolve voltar ao seu vilarejo. Lá ele narra os acontecimentos à família de Matahachi, que além de não aceitar os fatos ainda condena o jovem Takezo por traição. Ele será salvo da morte por um monge que irá ensinar ao rapaz o código dos samurais. O destino acaba colocando Otsu e Takezo no mesmo caminho. Apaixonada, ela promete a ele que irá esperar seu retorno como um cavaleiro errante.

Crítica:

Primeiro filme da trilogia dirigida por Hiroshi Inagaki, que adapta o livro "Musashi", de Eiji Yoshikawa, consegue ser bem fiel à obra original, apresentando várias cenas diretamente retiradas de suas páginas.

Para aqueles que leram o livro, o que de cara chama a atenção é a idade dos atores escolhidos para interpretar Takezo e Matahachi. No livro ambos começam a história com 17 anos, enquanto no filme a dupla é vivida por Toshirô Mifune e Rentarô Mikuni, respectivamente, ambos na casa dos 30. Felizmente eles conseguem conferir jovialidade aos personagens, especialmente Mifune.

O filme foi feito para agradar tanto o público masculino como o feminino, o que fica bem claro pelo quanto a história investe no interesse romântico de Otsu (Kaoru Yashigusa) por Takezo, algo que vez ou outra pesa um pouco no ritmo da história e em seu tom, que torna-se excessivamente melodramático em vários momentos, algo típico de filmes românticos da década de 1950.

Por esta primeira parte focar-se mais na fase arredia e arisca de Takezo, antes de tornar-se efetivamente Miyamoto Musashi, as batalhas de que ele participa parecem todas improvisadas e um tanto desajeitadas, o que acaba combinando com a natureza selvagem do personagem, muito bem representada por Toshirô Mifune.

O roteiro e a direção pecam em dois momentos como adaptação: na cena de abertura, e na passagem responsável por mostrar a mudança moral e psicológica de Takezo.

A cena de abertura do livro, na qual Takezo desperta após a batalha de Sekigahara em meio aos cadáveres do exército derrotado, é uma das seqüências iniciais mais poderosas já concebidas para um livro, e irresistível demais para não ser usada numa adaptação cinematográfica. Ela é forte o bastante para atrair a atenção do espectador logo em seus primeiros minutos. Infelizmente o roteiro co-escrito pelo diretor Hiroshi Inagaki opta por começar a história antes da batalha, mostrando o período em que Takezo e Matahachi viviam juntos na vila Miyamoto, algo que poderia perfeitamente surgir em flashbacks mais adiante na história.

Já o segundo erro da adaptação se encontra no ato final da história, logo após Takezo ser aprisionado no Castelo Himeji. No livro ele passa 3 anos trancado naquela sala cheia de livros estudando-os com afinco, o que acaba modificando sua maneira de enxergar o mundo e seu comportamento, além de aperfeiçoá-lo moralmente, e eliminar grande parte de sua selvageria e impulsividade, tornando-o mais humilde e civilizado. No filme tudo isto é resumido num breve letreiro que mal explica a transformação pela qual passou, e corta logo para uma cena que se passa anos depois, onde ele já assumiu uma nova postura e ganhou o nome pelo qual ficou mais conhecido. Isto poderia ser facilmente resolvido com um clip de alguns minutos, pois trata-se de um ponto importante demais para o desenvolvimento do personagem para ser coberto com um mero texto explicativo.

Apesar das falhas, o filme é feliz ao encenar passagens memoráveis da obra de Yoshikawa, como a captura de Takezo pelo Monge Takuan, e os ensinamentos que este lhe transmite enquanto fica preso na árvore da Vila Miyamoto, ambas muitos fiéis à história original. Além disto o Matahachi de Rentarô Mikuni é tão (ou mais) covarde que o visto no livro. Só senti falta de uma participação maior de Osugi (Eiko Miyoshi) na história, o que traria um pouco mais de humor ao filme, com sua rabugice e determinação cômica características.

Em suma, é uma boa adaptação, mas que poderia ficar melhor através de pequenas mudanças na montagem, e o acréscimo de algumas cenas essenciais para que a filme ganhasse mais solidez.

Nota: 4 de 5


Samurai II - Duelo no Templo Ichijoji (Zoku Miyamoto Musashi: Ichijôji no kettô, Japão)

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Diretor: Hiroshi Inagaki
Roteiro: Hideji Hôjô, Hiroshi Inagaki e Takuhei Wakao
Elenco: Toshirô Mifune (Miyamoto Musashi / Takezo), Koji Tsuruta (Sasaki Kojiro), Kaoru Yashigusa (Otsu), Mariko Okada (Akemi), Michiyo Kogure (Yoshino Dayu), Mitsuko Mito (Oko, mãe de Akemi), Akihiko Hirata (Seijuro Yoshioka), Kuroemon Onoe (Monge Takuan), Sachio Sakai (Matahachi Honiden), Yû Fujiki(Denshichiro Yoshioka), Eiko Miyoshi (Osugi, mãe de Matahachi), Daisuke Katô (Gion Toji)
Ano de lançamento: 1955
Duração: 104 min.
Sinopse: Anos depois de começar sua jornada para tornar-se um grande espadachim, Musashi volta a Kyoto para desafiar o líder da maior escola de esgrima da região. Para provar seu valor e suas habilidades, ele cai de propósito numa emboscada armada pelos seguidores da Escola Yashioka. Enquanto isto, seus feitos são observados atentamente por Sasaki Kojiro, um lutador brilhante e habilidoso, que acredita-se capaz de derrotar Musashi.

Crítica:

Neste filme os problemas encontrados na primeira parte da trilogia se potencializam. Novamente o grande destaque que a história dá para o amor de Otsu por Musashi, e para as investidas de Akemi (Mariko Okada) para conquistá-lo, acabam por prejudicar seu ritmo, e tornar a trama monótona e quase insuportável de acompanhar.

Além disto, o longa tem início com uma batalha entre Musashi e Baiken (Eijirô Tôno) totalmente descontextualizada, que além de mal conduzida, serve para introduzir Jotaro (Kenjin Iida), um personagem importante no livro, que no filme é mal aproveitado. O garoto jamais alcança alguma relevância dentro da trama principal, sendo relegado ao papel de figurante de luxo, o que é realmente uma pena, pois no livro ele é responsável por algumas das passagens mais divertidas, além de ser um dos personagens mais carismáticos da saga de Musashi. Jotaro contribuiria muito para eliminar parte da sisudez e melodrama que impediram a trilogia de entreter um pouco mais o espectador.

Hiroshi Inagaki novamente usa letreiros explicativos como muleta narrativa para cobrir pontos da história que não foram abordados diretamente no filme, chegando ao ponto de usá-los para justificar algumas atitudes tomadas por Musashi, jogando-os na tela como máximas escritas pelo personagem em algum diário, um recurso que poderia funcionar se bem empregado, mas que da forma como foi usado soa apenas como um meio preguiçoso de desenvolvê-lo.

Por fim, o tal duelo citado no subtítulo jamais alcança a maestria e o tom épico daquele descrito na obra de Yoshikawa, além de privar-se de retratar os momentos mais impactantes da batalha (no original ele chega a decaptar um garoto logo no início do embate). Seu desempenho excepcional contra toda a Escola Yoshioka é o que tornou Musashi famoso em todo o Japão, por isto a batalha final merecia um cuidado maior em sua execução, pois é a partir dela que o personagem começa a transformar-se numa figura lendária.

Mediano em sua execução, o que acaba salvando o filme é novamente a interpretação vigorosa e correta de Toshirô Mifune, que consegue passar incólume apesar dos muitos tropeços do roteiro.

Nota: 3 de 5


Samurai III - Duelo na Ilha Ganryu (Miyamoto Musashi kanketsuhen: kettô Ganryûjima, Japão)

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Diretor: Hiroshi Inagaki
Roteiro: Hideji Hôjô, Hiroshi Inagaki e Takuhei Wakao
Elenco: Toshirô Mifune (Miyamoto Musashi / Takezo), Koji Tsuruta (Sasaki Kojiro), Kaoru Yashigusa (Otsu), Michiko Saga (Omitsu), Mariko Okada (Akemi), Takashi Shimura (Nagaoka Sado), Minoru Chiaki (Sasuke, o barqueiro), Takamura Sasaki (pai de Omitsu), Daisuke Katô (Gion Toji), Haruo Tanaka (Kumagoro, o ladrão de cavalos), Kichijirô Ueda (Monge Ogon), Kokuten Kôdô (Velho Monge Nikkan), Ikio Sawamura (estalajadeiro)
Ano de lançamento: 1956
Duração: 105 min.

Sinopse: Musashi decide abandonar sua vida como guerreiro errante, e passa a viver nos arredores de uma vila cultivando vegetais. Não demora até que Otsu e Akemi o encontrem, e passem a disputar seu amor. Paralelamente Musashi é desafiado por Sasaki Kojiro, com quem promete duelar dentro de um ano. Nesse meio tempo, enquanto se prepara para o duelo, o samurai é forçado a enfrentar um grupo de bandidos que ataca a vila que o acolheu, e conforme o dia de seu maior desafio se aproxima, vê-se obrigado a tomar uma resolução que concilie ou não seu amor por Otsu e sua paixão pelo caminho do guerreiro.

Crítica:

Indo contra as expectativas geradas pelo capítulo anterior, a última parte da trilogia sobre a jornada de Miyamoto Musashi consegue sair-se melhor que seu antecessor, embora tenha sua parcela de falhas, o que o impede de superar a primeira parte.

Este é o filme que tomou mais liberdades criativas com relação à história original. Jotaro ganha um pouco mais de destaque na trama, apesar de acabar assumindo o papel que era de outro discípulo de Musashi na obra de Yoshikawa. Ainda assim, o personagem jamais adquire o brilho e o carisma que possui no livro.

A disputa de Otsu e Akemi pelo amor de Musashi toma um rumo completamente oposto ao visto na obra original, sendo seu ápice a tentativa de Akemi assassinar Otsu, pouco antes da vila onde vivem ser ataca por bandidos, os quais contavam com o seu apoio para realizar o ataque. Além de excessivamente melodramática, a disputa entre as personagens torna-se tragicômica, a ponto de prejudicar o impacto que o diretor visava alcançar com a decisão de mudar o destino final de uma delas.

Por outro lado, Inagaki acerta a mão ao adaptar cenas memoráveis do livro, como o divertido confronto entre Musashi e Kumagoro (Haruo Tanaka) na hospedaria; e sua luta final com Sasaki Kojiro (Koji Tsuruta), que é tão bela como a descrita por Yoshikawa, graças ao cuidado com que toda a seqüência foi filmada à beira-mar conforme o sol se erguia no horizonte. Nesta única passagem o filme consegue captar a essência da obra original, algo que grande parte da trilogia foi incapaz de fazer.

Toshirô Mifune fez o que pôde para retratar a força de caráter, a humildade e a habilidade de uma das mais conhecidas figuras históricas do Japão, e saiu-se admiravelmente bem. Uma pena que os roteiros de toda a trilogia sofram de um desequilíbrio narrativo que o "Musashi" de Eiji Yoshikawa não possui. Fosse ela uma adaptação mais fiel à capacidade do escritor em dosar humor, romance, drama, ação e filosofia, certamente seria uma trilogia tão memorável e relevante para a produção cinematográfica japonesa, como O Senhor dos Anéis foi para a Nova Zelândia e os EUA. Infelizmente ela não chega aos pés do virtuosismo de Peter Jackson e da obra-prima de Eiji Yoshikawa.

Nota: 3,5 de 5

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