quarta-feira, 25 de maio de 2011

[DESABAFO] Um Pálido Reflexo do que Foi Outrora

Este blog sempre foi um caos. Nunca seguiu uma única linha que orientasse seus posts. No início isto atraiu a atenção de muitos leitores, a maioria amigos meus. Eu escrevia sobre filosofia num post, no próximo postava algum desenho, uma tirinha desenhada toscamente, alguma foto ridícula minha, algum comentário idiota sobre algo que aconteceu, ou um relato sobre como foi meu dia ou minha semana, e assim seguiu por um tempo. Depois veio a fase da série de tirinhas Contos da Inexistência, protagonizada por mim, seguida da saga protagonizada pelos então Catabianos (Suki, Queza, Lolo, Tabi, Sarampo, e Lali), e depois disto vieram Bub e Bobo. Cada uma dessas fases refletindo direta ou indiretamente o que ocorria na minha vida, sejam as amizades que eu mantinha com um grupo de amigos com quem só tinha contato via internet, seja a frustração de estar num emprego onde meu trabalho não era devidamente valorizado, e lidava com um chefe que era um poço de ignorância.

Com o passar do tempo procurei criar um sistema, em que o blog se movia basicamente de tirinhas, alguns contos, e um ou outro post que abordasse minha vida pessoal. Teve uma fase em que eu parei de vez com as tirinhas e resolvi que só escreveria contos, e a partir daí a audiência do blog começou a cair.

A verdade é que o que me motivou a escrever este post foi a viagem no tempo que andei fazendo no último mês enquanto transferia pra esta versão do blog todos os posts, acompanhados de seus comentários, que se encontravam na versão antiga dele. Como bloquearam meu acesso à minha conta no Blogger da Globo, resolvi fazer isto como uma medida preventiva, antes que resolvam apagar meu blog antigo de seus servidores. Além disto, sempre fui um sujeito nostálgico, que procurava constantemente preservar lembranças escritas sobre minha vida. Houve uma época que eu chegava ao ponto de salvar em arquivos com todas as principais conversas que eu tinha com meus amigos no MSN (tenho muitas delas gravadas em CD até hoje). Portanto, não seria muito diferente no caso do meu blog. Já tive um no hoje falecido Weblogger, a primeira versão do Existindo na Inexistência, que apesar de não existir mais online, ainda tenho arquivado num CD. Ainda penso em acrescentar ao arquivo online da versão atual os posts que publiquei lá, pra unificar tudo.

(estou digitando livremente isto aqui, sem muito objetivo mesmo, então perdoem qualquer falta de um)

Acontece que o Existindo na Inexistência é um dos melhores registros do que foi minha vida nos últimos 9 anos. Dia 30 de maio o blog completa esta idade desde sua primeira versão. Não há muito o que comemorar na verdade, e nem penso em fazer nada de especial. Talvez isto aconteça ano que vem, quando o blog completar 10 anos de atividade, mas até lá ainda há de acontecer muita coisa, e nem sei se estarei no clima de fazer algo na ocasião.

Bom, o que estou tentando dizer aqui é que o blog claramente passou por muitas mudanças, que vão desde várias mudanças de postura quanto ao que postar, ao uso de colaboradores, algo que não aconteceu com tanta freqüência até 2009, quando resolvi aumentar o espaço para a participação de alguns amigos meus por aqui. Durou pouco mais de um ano até o gás acabar, e o blog ficar parado por meses.

Infelizmente o que acontece atualmente na internet não é nada animador para blogueiros da primeira geração que escreviam mais textos do que sustentava seus blogs com memes, vídeos do YouTube, ou links para outros blogs mais interessantes, tornando o aumento da audiência seu principal objetivo. Claro que quando nos propomos criar um blog, um do nossos principais objetivos é encontrar nosso público cativo, e esperar dele alguma participação que tanto nos incentive como nos ajude a nos aprimorar como escritores, ou desenhistas, no caso de quem faz tirinhas, como já foi meu caso diversas vezes. No início eu contava com um público razoavelmente fiel, que se deixou atrair pela experiência multifacetada que eu proporcionava. Talvez, apesar de eu ser mais jovem na época, eu era mais esperto, não conscientemente, mas deixava minha criatividade fluir sem muitas amarras, e daí surgia aquele caos todo do início. Se alguém não gostava de ler minhas longas, e muitas delas maçantes, reflexões filosóficas, tinha as tirinhas que eu fazia, ou algum post que abordava um assunto mais trivial de forma bem humorada, ou ainda alguma massagem de ego que eu proporcionava quando postava algo sobre meus amigos, fosse um desenho deles, um post felicitando-os pelo aniversário, ou uma foto comparando um deles com algum ator/atriz ou cantor(a) famoso(a). Coisas bobas, sem muito propósito, mas que agradam as pessoas justamente pela falta de grandes pretensões.

Uma coisa que notei enquanto fazia essa transferência de arquivos do antigo para o novo blog é que eu desaprendi a me divertir com o blog. Lembro que muitas vezes me dava a louca de dizer alguma coisa, ou desenhar, ou escrever, e eu ia lá e escrevia ou desenhava, sem muita razão de ser, e mesmo que saísse de qualquer jeito eu postava. Hoje isto meio que ficou relegado a meus tweets e minhas publicações no Facebook. Alguns aspectos de minha vida online se diluíram também para redes sociais como a Filmow e a Skoob. Às vezes sinto falta do Existindo na Inexistência como centralizador de minhas atividades, mas, é algo que claramente faz parte do passado. A gente tem que se adaptar às mudanças, e talvez uma das maiores foi a dissolução de meu "público-leitor". Na verdade hoje ele praticamente inexiste. Há pessoas que acompanham as notas sobre filmes que escrevo no Filmow, e vez ou outra algumas pessoas elogiam o que escrevo por lá, mas nada como foi um dia aqui. Talvez eu não sirva pra isto, como ficou claro pela pouca atenção e participação que tiveram as críticas que postei por aqui nas últimas semanas.

Eu ando desmotivado de escrever, é isto. Cansei de escrever contos e críticas que são, em sua grande maioria, ignorados. Eu dependo de opiniões e críticas sobre o meu trabalho pra saber se estou fazendo a coisa certa, se estou seguindo o melhor caminho, e a ausência de leitores críticos sempre foi um problema que enfrentei aqui no blog desde o início. Salvo algumas exceções, a maioria me deixava no escuro quanto ao que eu estava fazendo, mas ainda sinto-me agradecido por quem participava do blog ativamente comentando posts, mesmo que de maneira superficial.

Meu blog já não tem mais o mesmo alcance que teve outrora. Muitos dos amigos que apareciam por aqui, me privilegiando com sua atenção e palavras, já não mantém mais contato comigo. Em parte isto é culpa minha, que me afastei de alguns deles por motivos variados, em parte é deles mesmos por perderem o interesse, ou porque estão ocupados cuidando de suas vidas, de seus problemas, dando um rumo pra elas, enquanto eu basicamente continuo girando em falso, sem saber muito bem o que fazer da minha.

Já tentei muita coisa. Tentei tomar muitos caminhos, iniciei muitos projetos solo e coletivos, que no final não deram em nada. Aqui no blog mesmo há uma parcela deles que ficaram incompletos. Alguns ainda devem se lembrar da série de tirinhas da Tartaruga, cuja última prometeu uma continuação que nunca veio. Outros podem se recordar da série de contos Árvores da Memória, que está paralizada há mais de um ano. Deve haver também aqueles que se lembram de Clara, cuja história foi interrompida no 6º capítulo, com a promessa de que se tornaria um livro (tenho escrito até o capítulo 17 num caderno de rascunhos, mas não mexo na história desde 2007). Essa minha mania de começar coisas e não terminá-las sempre me incomodou. Assim foi com a faculdade de publicidade e propaganda, e dois projetos de contos e histórias em quadrinhos direcionados para internet que eu faria com alguns amigos. Cansei disto em 2010, e resolvi que precisava encontrar um meio de reprogramar meu comportamento relativo à forma como eu me comprometia com aquilo que eu propunha fazer, e desde então comecei a elaborar e empregar meios mais eficazes de dividir meu tempo.

De início comecei a fazer isto para dar conta de assistir e ler tudo que vim acumulando nos últimos anos, desde livros a HQs, passando por séries de TV, animes e filmes. Depois comecei a dividir tudo isto em listas de prioridade, e comecei a ler e assistir o que eu julgava mais essencial e importante. E ao longo de 2010 fui me reeducando quanto ao uso de meu tempo livre. É um processo que dura até hoje, em que eu procuro reforçar atitudes e condicioná-las de tal forma que eu possa usar esse mesmo sistema quando finalmente voltar a pôr as mãos em alguns dos projetos que citei acima, além de outros que nem sequer dei início.

Quem me acompanha desde 2003 sabe que foram inúmeras as vezes que cheguei aqui anunciando que estava cheio de planos e idéias para serem postas em prática. No momento não posso dizer o mesmo, embora a vontade de pôr em prática algumas idéias antigas ainda exista, mas não sinto que estou no momento de fazer isto. Minha mente está sintonizada com outras atividades este ano. Muito pra assistir, muito pra ler, e espero tornar tudo que acumulei especialmente no ano passado e neste ano em referências preciosas para meus trabalhos futuros.

Eu ainda me considero um escritor mediano, que se encontra na linha tênue que separa o mediano do medíocre. Tive bons momentos, mas passei por outros tantos lastimáveis, e na viagem no tempo que realizei no último mês eu me peguei diversas vezes constrangido ao ler algo que escrevi alguns anos atrás. Isto é um problema que a maioria dos escritores têm que encarar algumas vezes na vida, sei disto, mas a verdade é que ainda me considero longe de atingir o nível ideal para me considerar um escritor, no mínimo, satisfatório. O mesmo diz respeito a meus desenhos, na verdade no caso deles é ainda pior. Sempre fui um cara que admirou mais as artes visuais do que a escrita, embora eu tenha mais facilidade para escrever. E quando me pego comparando meus trabalhos aos de outras pessoas, tudo que recebo em troca é falta de entusiasmo. Sei que é errado me comparar a caras cujo trabalho está anos-luz de qualidade do que eu produzi até hoje, e que tenho que seguir o meu ritmo, mas muitas vezes é inevitável que isto aconteça.

Meu Deus, acho que este texto não vai terminar nunca se eu não tomar uma atitude!

Bom, eu tinha mais coisas sobre o que falar, mas, pra variar, me perdi no meio do caminho, e agora já não me lembro delas. Que fique aqui registrado que estou ciente do que eu fui, e tenho vergonha de muito do que escrevi e postei por aqui em anos anteriores, mas, ao mesmo tempo, tenho algum orgulho de manter-me coerente com o objetivo deste blog, que é servir de registro sobre quem eu fui e como eu agia e pensava, sobre minhas amizades e atividades criativas um tanto canhestras. Não quero esconder isto de ninguém, mesmo porque tais informações estiveram sempre acessíveis a qualquer um que quisesse ter acesso a momentos de minha vida que não tenha acompanhado de perto.

Não me considero uma pessoa misteriosa, apenas reservada. Apesar disto, tenho alguns segredos e pensamentos que prefiro guardar pra mim, e quando sinto a necessidade de expô-los eu faço isto num diário secreto onde escrevo vez ou outra algo que eu não tenho coragem de dizer pra mais ninguém. Às vezes fico brincando com a idéia de que um dia alguém vai descobrir esse diário e publicá-lo após minha morte. Imagino que até lá eu serei um escritor ou um autor de quadrinhos famoso, e o conteúdo do diário despertará muita curiosidade da parte de meus conhecidos, que terão acesso a revelações jamais imaginadas a respeito de minha pessoa. Mas a verdade é que o que escrevo nele é tão digno de constrangimento que eu espero que jamais venha a tornar-se público.

Até pensei em encerrar o post com um "aqui me desanexo" em nome dos velhos tempos, mas isto aqui já está saturado o suficiente de nostalgia. Digo, então, um "até logo, e obrigado pelos peixes!"

2 comentários:

  1. Tanto já se passou.
    Muito pouco é novidade.

    Mas não há o que temer.
    Sempre haverá um caminho.

    Há sempre um observador.
    Há sempre, desse modo, a existência.

    ResponderExcluir
  2. Muito sincero esse desabafo. Acho que, particularidades à parte, todos nós passamos por isso em certo período da vida. Nos reavaliamos, comparamos o que fizemos com o que fazemos agora, mudamos prioridades, etc.
    Particularmente tô num desses momentos. Com tantas dúvidas, tantas reavaliações, medos, mudanças. Não é fácil porém deve ser natural.
    Conheci o blog nessa semana, através do post sobre The Sopranos, e aos poucos tô lendo alguma coisa aqui. Tomara que continue.
    Abraço de um novo leitor.

    ResponderExcluir