sábado, 7 de maio de 2011

[REVIEW] Fringe - 3ª temporada

Photobucket

Fringe é daquelas séries que deviam ser exibidas sem pausas durante as 22 semanas correspondentes ao número de episódios da temporada, por um motivo simples: a complexidade da trama principal, e as ramificações da mesma ao longo dos episódios.

O grande problema de uma série como Fringe é que muitos episódios, vistos isoladamente, correm o risco de soarem insignificantes para a evolução da história, ganhando força e importância apenas quando encarados sob o contexto maior construído ao longo da temporada.

Neste 3º ano a cuidadosa ligação entre os diferentes elementos da trama tornou-se mais evidente, com suas idas e vindas entre os dois universos, máquinas capazes de criar e destruir mundos, Peter se transformando no "gatilho humano" da pior arma de destruição em massa já concebida, e em meio a tudo isto mais casos isolados explorando a "ciência de borda." Portanto não é nada absurda a idéia de, ao término da temporada, realizar uma maratona para revê-la do início ao fim sem interrupções, algo que torna-se quase uma necessidade caso você queira aproveitá-la ao máximo.

A 3ª temporada de Fringe pode ser dividida em 4 arcos principais:

1º) a troca das Olivias entre os dois universos, e a forma como cada uma se adaptou a eles;
2º) a volta de Olivia ao "nosso" universo, e as conseqüências disto em seu relacionamento com Peter;
3º) a "possessão" de Olivia pela "alma/mente" de William Bell;
4º) o "nosso" universo entrando em colapso como conseqüência do enfraquecimento da barreira entre os dois mundos.

O primeiro arco de histórias apresentou alguns dos melhores momentos da temporada, a começar pela própria dinâmica estabelecida pelos roteiristas, que optaram por alternar a trama entre o "nosso" universo é o do "outro lado". Além disto, surpreendeu pela forma como o Walternativo lidou com a troca entre as duas Olivias, convertendo a "nossa" numa cópia da (B)Olivia, através da substituição de suas memórias pelas de sua versão alternativa. A idéia rendeu uma das melhores fases da personagem em toda a série, tornando a agente mais relevante para a trama do que jamais fora.

Este ano também superou as anteriores no trato que deu ao desenvolvimento dos personagens e o relacionamento entre eles. Tivemos Walter em seu esforço penitente para evitar que Peter se sacrificasse para salvar o "nosso" universo. Peter dividido entre as duas Olivias, além de ter que encarar seu papel fundamental para a existência um dos universos (ou ambos). Olivia lidando com o fato de Peter ter se apaixonado por sua versão alternativa, que mostrou-se mais descontraída e menos complexada que ela. E ainda uma maior interação entre Walter e William Bell, mesmo que de uma maneira completamente inusitada.

Photobucket

Peter foi o personagem que ganhou mais força na 3ª temporada, deixando definitivamente de ser um mero intérprete das idéias e teorias malucas de Walt, para ganhar um arco dramático mais relevante, algo que já vinha ocorrendo na temporada anterior, mas que nesta repercutiu significativamente na trama principal.

Já as reviravoltas no arco dramático de Olivia permitu que Anna Torv explorasse sua versatilidade como atriz, interpretando duas versões de uma mesma personagem, a ponto de criar linguagens corporais, expressões e entonação de vozes distintas, que ilustrassem a personalidade expansiva e vivaz de uma, e as atitudes racionais e reservadas da outra. Além disto encarou um dos maiores desafios de seu trabalho em Fringe até agora: emular a voz e os gestos característicos de William Bell, o que rendeu alguns dos melhores e mais divertidos momentos da série.

Merece elogios também a forma como os roteiristas integraram todos os episódios da temporada à trama principal. Mesmo os episódios fechados não deixavam de citá-la de alguma forma, ou mostrar seus efeitos sobre as decisões e atitudes dos personagens.

Os casos fechados da temporada conseguiram superar os da 2ª, fazendo com que o aspecto científico das histórias, apesar de presente e intrigante, cedesse mais espaço para o drama dos personagens envolvidos. Entre tantos, vale menções: o caso dos dois irmãos gêmeos separados pelo âmbar do universo alternativo (03x05 - Amber 31422); o homem que buscava reviver a mulher que amava numa versão poética e romântica de Frankenstein (03x09 - Marionette); ou o dramático episódio do serial killer que comia parte dos cérebros de crianças para rejuvenescer (03x07 - The Abducted). Além disto, muitos apresentaram paralelos com os problemas enfrentados por Olivia, Peter e Walter, tornando as tramas mais envolventes.

Paralelos também podem ser traçados entre a trama envolvendo as Primeiras Pessoas, e a máquina construída por elas, cujas peças foram enterradas milhares de anos antes da humanidade surgir na Terra. Sua origem e os misteriosos manuscritos e pergaminhos remeteram diretamente às profecias de Milo Rambaldi, vistas na série Alias, outra das criações de J. J. Abrams, criador e atualmente produtor executivo de Fringe. A idéia de uma máquina que pode tanto destruir como criar universos ampliou as possibilidades criativas da série, abrindo caminhos a serem explorados nas próximas temporadas.

Tendo em vista as restrições orçamentárias de uma produção pra TV, a direção de arte da série se saiu muito bem ao estabelecer as diferenças entre os dois universos, apresentando pequenas alterações nos cenários, e o uso de objetos cênicos e aparelhos que sugeriam uma tecnologia mais avançada que a nossa, tudo de maneira muito econômica mas eficiente.

Foi interessante também a forma como trabalharam os personagens do "outro lado", desfazendo aos poucos nossa impressão de que se tratavam de meras versões más dos personagens que já conhecíamos, seja através da dinâmica estabelecida entre os agentes da Divisão Fringe, que não demoraram para despertar simpatia pela forma amigável e descontraída com que se tratam; ou estabelecendo um passado trágico para o Coronel Broyles (no já citado The Abducted). Tivemos até mesmo um episódio que abordou com mais profundidade a vida de um transmorfo infiltrado no nosso universo em Do Shapeshifters Dream of Electric Sheep? (03x04).

Photobucket

A solução encontrada para a subtrama envolvendo a gravidez de (B)Olivia foi outra grande idéia. Tinha tudo pra ser daquele tipo que corria o risco de arrastar-se por muito tempo, e no fim acabou se resolvendo de maneira inusitada, dramática (permitindo um momento tocante entre (B)Olivia e o Agente Lee), e muito bem integrada à trama principal, com o bebê assumindo um papel relevante dentro da história na reta final da temporada.

E não podemos esquecer de Lysergic Acid Diethylamide (03x19), que apresentou uma resolução inesperada para o destino final (?) de William Bell, através de uma ousada mudança de formato, e inúmeras referências, que foram desde o filme A Origem, passando por Waking Life e Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças.

Por outro lado, a 3ª temporada contou com sua parcela de idéias que não foram devidamente exploradas, como o fato de Walter ter herdado de Bell a Massive Dynamics. Apesar de ganhar um verdadeiro parque de diversões para extravazar sua genialidade, seus recursos foram pouco utilizados, e ele acabou recorrendo ao velho laboratório na Universidade de Harvard para resolver a maioria dos casos.

Os poderes de Olivia também receberam pouca atenção dos roteiristas de Fringe, sendo mencionados apenas no início da temporada, quando o Walternativo procurava um meio de viajar para o "nosso" universo de maneira segura, e no final dela, quando se mostraram necessários para desativar a máquina do apocalipse, permitindo que Peter se aproximasse dela. Este é mais um elemento da intrincada trama de Fringe que vem sendo pincelado desde a 1ª temporada; ganhou um pouco mais de força no final da 2ª, quando Olivia foi a principal responsável por cruzar a barreira entre os universos com Walter e Peter; mas foi pouco usado na 3ª. Não sei até que ponto os roteiristas pretendem explorar esta peculiaridade da personagem nas próximas temporadas.

Também senti falta de abordarem mais casos de crianças que ganharam poderes devido aos experimentos de Walter e William Bell em Jacksonville, algo que na 2ª temporada pareceu que ganharia força nesta, e acabou sendo esquecido, exceto pelo rapaz que lia mentes no episódio Concentrate and Ask (03x12).

Talvez o elo mais fraco deste 3º ano de Fringe tenha sido a trama envolvendo a crise do relacionamento entre Peter e Olivia, após esta voltar do "outro lado". Os desentendimentos e desconfortos de ambos com a situação ficaram desinteressantes em certa altura, e em alguns momentos tornaram as histórias arrastadas no meio da temporada. Apesar disto, os roteiristas conseguiram se redimir em episódios como 6B (03x14), em que um casal de velhinhos começa a enfraquecer as barreiras entre os universos na tentativa de entrarem em contato com o que julgavam ser a alma de seu companheiro falecido no "outro mundo". Foi uma forma tocante de estabelecer um paralelo entre a situação deles e a de Peter e Olivia, que buscavam uma reaproximação, sem apelar para situações chatas e cansativas.

Subjetc 13 (03x15), o segundo episódio da série focado na infância de Peter, também me incomodou. Apesar de trazer novas revelações sobre a origem da crise entre os universos, não apresentou nenhuma explicação plausível para o fato de Peter e Olivia não se lembrarem que já se conheciam desde pequenos. Algo que pode ou não ser esclarecido nas próximas temporadas, mas que permanecerá como um furo gritante no roteiro até que isto aconteça .

Photobucket

Apesar das poucas escorregadas, Fringe continua se mostrando uma série revigorante, exibindo uma enorme força criativa, e uma vontade de arriscar-se por caminhos e soluções inesperadas, que muito lembraram as reinvenções de formato vistas em Lost. Prova disto é o desfecho apresentado ontem, que parecia nos levar por um caminho (a história seria ambientada no futuro a partir de agora), apenas para voltar atrás e nos jogar em outra direção (a fusão dos universos) que cumpriu com enorme eficácia a função de um episódio final de temporada: nos deixar ávidos pelo desenrolar da trama a partir de um novo indicativo de que tudo irá mudar a seguir (com Peter apagado da existência).

Fringe, nesta 3ª temporada, a melhor até agora na minha opinião, livrou-se de uma vez por todas da idéia de que ela não passava de uma sucessora de Arquivo X. As pretensões dos roteiristas da série se mostraram maiores do que isto, abordando idéias mais abrangentes como mundos alternativos, e máquinas criadoras e destruidoras de universos, mas jamais se esquecendo de trazer para o primeiro plano o drama humano envolvido com tais elementos grandiosos e histórias fantásticas.


Nota: 4,5 de 5

3 comentários:

  1. Tá, acabei vendo spoiler do último episódio...
    Deveria ter assistido antes de ler, hehehe.
    Mas resumiu muito bem a temporada. E que venha logo a próxima.

    ResponderExcluir
  2. Amigo, gostei da sua analise. mas agora veja este final de 3a temporada pelo ângulo da Bíblia (não que eu seja um fanático), mas veja: Walter entrega seu filho (Peter) para salvar o mundo e esse se entrega a sua missão, mesmo achando que iria morrer, mas no final desaparece da vida das pessoas (será que ele irá ressuscitar??) já a Olivia-B, no outro universo, teve um filho com o homem que salvou o mundo, porém isso no universo "paralelo" assim como hoje temos os evangelhos "paralelos" que tb apresentam esta tese (visto que Dawn Brown em Código Da Vince já nos remete à mesma historia). E ainda tem mais....O observador, Bell e outros que podemo traduzir para a historia mais antiga até hoje!
    Um abraço
    Rodrigo Defanti

    ResponderExcluir
  3. adoro spoilers, tava pra ter um troço pra saber se a olivia voltava pro nosso universo, e a bolivia gravida??? OMG preciso ver isso... mas PÁRA tudo!!! o peter morre???? :((
    se isso for verdade nao vou mais ver fringe...

    ResponderExcluir