segunda-feira, 16 de maio de 2011

[REVIEW] The Sopranos - A Série Completa

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Ser um mafioso em Nova Jersey não é tarefa das mais fáceis, e Tony Soprano sabe muito bem disto. Pior, além de ser um criminoso, Tony sofre constantes ataques de pânico; convive com uma mãe que não lhe demonstra o menor afeto, e não hesita em desprezá-lo; e tem um tio que inveja o poder e o prestígio conquistados pelo sobrinho dentro da máfia local. Como se tudo isto não fosse ruim o bastante, o chefe de Tony enfrenta um câncer terminal, e ele é o principal candidato para assumir a liderança da organização criminosa.

Com tantos problemas, Tony se vê forçado a tomar uma atitude drástica antes que sofra um colapso nervoso: passa a fazer terapia com uma psiquiatra, sem o conhecimento da família e de seus parceiros de crime, o que acaba se tornando mais uma na lista de preocupações de nosso protagonista.

Esta é a premissa básica de The Sopranos (Família Soprano, no Brasil), uma das séries mais premiadas e aclamadas da história da TV americana, considerada por alguns como a melhor série dramática já produzida. E após assistir todas as suas 6 temporadas, fica difícil discordar dos que pensam assim.

Confiram abaixo minhas críticas sobre cada temporada. Obviamente elas contém SPOILERS, portanto é recomendável que já tenham assistido toda a série antes de lê-las.

1ª temporada

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A primeira temporada trata da ascenção de Tony à posição de chefe da família de mafiosos de Nova Jersey, suas dificuldades de relacionamento com sua mãe idosa, e sua disputa de poder com seu tio Corrado "Junior" Soprano. Em seus 13 episódios ela apresenta uma notável composição e desenvolvimento de personagens, partindo desde o elenco principal aos coadjuvantes.

John Gandolfini é um excelente ator, e mostra-se à vontade interpretando Tony Soprano, um personagem complexo, que de um lado é terno e carinhoso com sua esposa e seus filhos, e até mesmo com alguns de seus companheiros de máfia, especialmente seu sobrinho/primo Christopher; ao mesmo tempo que é capaz de agir com frieza, impulsividade e violência, quando é forçado a eliminar alguém que ameaça seus negócios e a segurança de sua família.

A Carmela Soprano de Edie Falco ganha autenticidade conforme a temporada se desenvolve, e a atriz começa a demonstrar um talento que se evidenciará cada vez mais conforme a série avança.

Nancy Marchand, como Livia Soprano, é dona de uma presença poderosa em tela, e concebe aquela que é a maior antagonista de Tony na temporada de estréia, escondendo em sua rabugice e dissimulação um desejo de vingança que é executada com requintes de crueldade ao longo dos 13 episódios iniciais.

Dominic Chianese dá o tom cômico e ameaçador necessário para tornar Corrado Soprano um dos personagens mais marcantes e divertidos de toda a série. Seus diálogos com Livia estão entre os melhores da temporada, cheios de sutilezas que escondem as reais intenções de ambos para com Tony. A dupla é responsável por algumas das maiores enrascadas que Tony enfrenta no decorrer da temporada.

Michael Imperioli começa interpretando Christopher Moltisanti como um sujeito cuja arrogância inicialmente torna-o um personagem antipático, mas que no decorrer da temporada consegue conquistar a simpatia do público graças ao talento do ator, e ao bom trabalho feito pelos roteiristas, que acertam o passo e o tema central de seu arco dramático.

Surpreende também o talento do elenco de apoio. Tony Sirico e Steve Van Zandt, em seus primeiros minutos de tela, são talentosos o bastante para tornar seus personagens inconfundíveis desde o início. A simpatia que Paulie e Silvio despertam no espectador, ainda sem contar com o apoio de um background, apenas comprovam a qualidade de suas interpretações. O mesmo valendo para Artie Bucco (John Ventimiglia), Adriana la Cerva (Drea de Matteo) e Pussy Bonpensiero (Vincent Pastore), que nas temporadas seguintes ganham maior destaque.

Demonstrando inteligência ao antecipar as comparações que fariam entre a série e a trilogia O Poderoso Chefão, David Chase e sua equipe de roteiristas espalharam por toda a primeira temporada citações e homenagens a ela, ao mesmo tempo em que jamais confere à história de Tony e os demais o mesmo glamour encontrado no clássico de Francis Ford Coppola. A série ainda abre espaço para referir-se a outros grandes clássicos do gênero, especialmente Os Bons Companheiros, do qual tomou emprestado vários atores (Lorraine Bracco, Michael Imperioli, Tony Sirico, Vincent Pastore, entre outros).

Além disto, os roteiristas também conseguiram se livrar com eficácia da impressão de que a série não seria nada mais do que uma abordagem mais séria da premissa usada no filme Máfia no Divã. As terapias de Tony com a Dra. Melfi (Lorraine Bracco) ganham um papel fundamental na história, e um maior embasamento, além de funcionar como um ótimo recurso para oferecer ao espectador acesso a elementos e fatos essenciais do passado do personagem, que conferem ao mesmo a tridimensionalidade e complexidade necessárias para nos envolvermos com sua história, e uma base sobre a qual futuros conflitos serão construídos, e novos insights sobre Tony que surgirão nas temporadas seguintes. Neste ponto Lorraine Bracco, apesar de uma interpretação mais contida que o restante do elenco, usa a abordagem ideal para conduzir sua personagem, que diverte em vários momentos em que dirige a Tony apenas um olhar analítico e quase inexpressivo, que contrasta com os relatos mais enérgicos e gesticulados do mafioso.

Oferecendo uma história que em nenhum momento perde o ritmo, trazendo várias reviravoltas, e explosões de violência que pegam o espectador de surpresa, além de um uso equilibrado do grande elenco de personagens, a 1ª temporada de The Sopranos mostra-se vigorosa do início ao fim, jamais tornando-se desinteressante. Seus personagens, apesar de moralmente reprováveis, em sua maioria são carismáticos e interessantes o bastante para nos importarmos com suas histórias. Em suma, trata-se de uma verdadeira aula sobre como fazer uma temporada de estréia excepcional para uma série, sem oscilar na qualidade dos roteiros e da direção. É raro encontrar uma série que consiga manter uma qualidade tão elevada ao longo de 13 episódios sem recorrer a tramas que prejudicam o desenvolvimento da história, e The Sopranos faz isto com louvor.

Nota: 5 de 5


2ª temporada

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Nesta o novo status de Tony é muito bem explorado com o mesmo brilhantismo que marcou a temporada de estréia, em episódios que se concentram tanto em suas estratégias para preservar o poder conquistado, como também na maneira com que tamanha pressão influi diretamente na saúde física e mental do protagonista.

A série mostra-se sem medo de ousar. Nesta temporada há dois excelentes episódios centrados em Christopher ("Big Girls Don't Cry" e "From Where to Eternity", o primeiro roteirizado por Michael Imperioli), que definitivamente firma-se aqui como um dos coadjuvantes mais interessantes da série; outro quase inteiramente dedicado a David Scatino (Robert Patrick, excelente!), que ganhou grande destaque logo em seu episódio de estréia; e ainda se deram ao luxo de desenvolver mais a história dos dois capangas de Christopher, Matt e Sean, em "Full Leather Jacket", um dos episódios-chave desta temporada. Isto sem mencionar "Funhouse", que fez uso de um formato inusitado, mudando o foco da história, gerando estranheza de início, apenas para finalizar uma das subtramas mais importantes da série até então.

Não podemos esquecer também da adição de Janice Soprano (Aida Torturro) e Richie Aprile (David Proval), que tornaram a vida de Tony ainda mais difícil, com maior destaque para o último, que foi seu grande rival nesta temporada. A atuação visceral de Proval fez toda a diferença, tornando o personagem totalmente imprevisível em sua impulsividade, e desta forma aumentando o suspense e a tensão em todas as suas aparições.

Livia e Tio Junior infelizmente não estiveram tão presentes nesta temporada como na anterior, mas continuaram divertidos e brilhantes em suas poucas aparições.

Também fez falta um papel mais atuante das terapias de Tony com a Dra. Melfi na trama principal. Em compensação, tivemos a chance de saber um pouco mais sobre como suas sessões com o mafioso afetam a vida pessoal e profissional da doutora. Suas terapias com o Dr. Elliot (Peter Bogdanovich, engraçado em seu cinismo sutil) renderam momentos impagáveis.

Uma excelente temporada, que por muito pouco não supera a primeira.


3ª temporada

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Uma temporada cheia de episódios memoráveis.

As atuações continuam naquele nível que certamente despertou inveja em muitos produtores de séries durante as temporadas anteriores. Infelizmente nesta não temos mais a presença de Nancy Marchand (a eterna Livia Soprano), já que a atriz faleceu entre uma temporada e outra. Em compensação, a série continuou com ótimos roteiros e novas adições poderosas ao elenco.

Joe Pantoliano como Ralph Cifaretto foi o grande antagonista de Tony, e roubou a cena diversas vezes, além de nos chocar num dos episódios mais "amargos" da série, mas nem por isto menos excepcional (sim, estou falando de "University").

O namoro de Meadow (Jamie-Lynn Sigler) com Jackie Jr. (Jason Cerbone) foi uma subtrama que cresceu muito ao longo da temporada, e tornou-se uma de suas grandes forças motrizes, chegando a uma conclusão que repercute na temporada seguinte.

"Employee of the Month", um dos episódios mais chocantes da série, mostrou o quanto a equipe de roteiristas e produtores continuam corajosos na escolha dos temas abordados (neste caso o estupro), e sua cena final é uma daquelas que ecoam por muito tempo na mente do espectador.

E, claro, tivemos "Pine Barrens", o primeiro dos quatro episódios que Steve Buscemi dirigiu para a série, apresentando uma história divertida, recheada de humor negro, e momentos memoráveis. A dinâmica entre Christopher e Paulie jamais foi tão bem explorada como neste episódio, que é considero por muitos um dos melhores de toda a série

Foi uma grande temporada, cheia de problemas para Tony, conflitos inesquecíveis, tramas e subtramas bem exploradas, sempre conduzindo muito bem a narrativa, e instigando o espectador a assistir o episódio seguinte, e o próximo, e o próximo...

Nota: 4,5 de 5



4ª temporada

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Só nesta temporada tivemos Adriana se metendo numa enrascada com o FBI; Chris perdendo o controle de seu vício em heroína; Carmela flertando com Furio (Federico Castelluccio), nos fazendo temer por ambos; e Ralph fazendo uma piada sobre a esposa de Johnny Sack (Vincent Curatola) que acaba tomando proporções imprevistas. Claro que houve mais, porém é melhor pararmos por aqui pra não estragar surpresas.

A 4ª temporada de Sopranos segue com o trabalho exemplar de desenvolvimento de personagens, embora relegue a meras participações especiais alguns que se tornaram queridos nas temporadas anteriores, como a Dra. Melfi e Junior Soprano. Em compensação foi bem vinda a "promoção" de Bobby Bacala, que deixou de ser mero alívio cômico para ganhar um arco dramático que fizesse jus ao talento de Steve Schirripa.

Quanto ao resto do elenco, James Gandolfini continua cumprindo com enorme competência a tarefa de nos apresentar novas camadas de Tony Soprano; Edie Falco segue brilhante, em especial nos episódios finais da temporada; e Joe Pantoliano deixa sua marca, e transforma seu Ralph num dos personagens mais antológicos da série, além de protagonizar uma das seqüências mais poderosas já vistas até aqui (em "Whoever Did This"). Pra ficar na lembrança mesmo.

Novamente fica nítido o impressionante cuidado que os roteiristas da série têm ao definir toda estrutura que sustentará a temporada inteira. Cada sutileza, cada pequeno fato que culminará em outro, o qual se ramificará em outros mais, e assim sucessivamente. O planejamento primoroso, as tramas bem amarradas, garantem uma qualidade praticamente impecável, e ainda soam como novidade, o que de fato são.

Nota: 4,5 de 5


5ª temporada

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Um dos destaques desta temporada foi a adição de Steve Buscemi ao elenco, interpretando Tony Blundetto, primo de Tony Soprano, recém-saído da prisão. Demonstrando sua competência habitual, sua participação na temporada é menor do que o esperado (pelo menos pra mim), porém as ações de seu personagem desencadeiam uma série de eventos que tumultuam a segunda metade da temporada, contribuindo tanto para o desenvolvimento da trama, como para torná-lo mais um dos muitos personagens memoráveis da série.

Além da tensão crescente gerada pela disputa entre Johnny Sack e Little Carmine (Ray Abruzzo) pela liderança da máfia de Nova York, esta também foi uma temporada explosiva do ponto de vista emocional. Tony, mais do que nas temporadas anteriores, foi obrigado a lidar com a solidão inerente ao seu papel líder, e as conseqüências de suas decisões sobre as vidas daqueles com quem se relaciona. Neste ponto o episódio "The Test Dream" é o que melhor ilustra o peso da culpa que sente pelas tragédias que causou. Cheio de simbolismos, ele foi um prato cheio para os que apreciam os famosos sonhos que sempre tiveram um papel importante dentro da série.

Em paralelo, vimos de que maneira separar-se de Tony repercutiu na vida de Carmela, em especial no episódio "Sentimental Education", onde ficou bem claro o quanto é difícil para a esposa de um mafioso dar um novo começo à sua vida amorosa, depois de mais de 20 anos de casamento, enquanto nos episódios seguintes foi explorada a dificuldade de consumar o divórcio tão desejado inicialmente. E, apesar de previsível, a conclusão de sua trama foi bem trabalhada, de forma a apontar naturalmente para a resolução que alcançou.

Finalmente, não podemos falar desta 5ª temporada sem mencionar todo arco dramático vivido por Adriana, de longe uma das personagens mais sofredoras da série. Drea de Matteo ganhou a merecida oportunidade de brilhar, ao interpretar tantas cenas carregadas de uma dramaticidade palpável, graças à engenhosidade dos roteiristas, que vieram construindo toda a situação na qual se encontrava desde o final da 3ª temporada. "Irregular Around the Margins", o primeiro episódio desta temporada focado em Adriana, é tão cheio de intensidade e suspense que funciona quase como um irmão gêmeo de "The Weight", da temporada anterior, em que o destino dos personagens se torna mais imprevisível do que nunca. Enquanto "Long Term Parking" é daquela categoria de episódios que ficam gravados na memória em seus mínimos detalhes, tamanho é o impacto de suas cenas.

Nota: 4,5 de 5


6ª temporada

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Esta foi a temporada dos coadjuvantes. O episódio de estréia adota uma opção inusitada, focando boa parte da história nas tentativas de Gene Pontecorvo (Robert Funaro) em convencer Tony a permitir que ele abandone sua carreira criminosa para mudar-se com a família para outra cidade, a fim de recomeçar sua vida. Provando mais uma vez a habilidade de retirar ótimas histórias de personagens que pouco destaque tiveram anteriormente na série, Terence Winter faz um excelente trabalho, criando um início de temporada que foge dos padrões estabelecidos (se é que The Sopranos seguiu algum padrão nas temporadas anteriores).

Vito Stapafore (Joseph F. Gannastafori) foi outro coadjuvante que ganhou muito destaque na temporada final. O personagem esteve presente na série desde a 2ª temporada, mas só chamou atenção na 5ª temporada, quando foi sugerido que ele era gay. Nesta sua inclinação sexual é abordada de maneira direta, e ganha muita importância no desenvolvimento da 1ª parte da 6ª temporada, especialmente em sua reta final.

Paulie também foi outro coadjuvante que ganhou mais atenção dos roteiristas, muito merecida, por sinal, pois Tony Sirico tornou-o um dos personagens mais carismáticos e divertidos de toda a série, com seus inconfundíveis “hehe”, sua fala assobiada, e seus maneirismos peculiares. Lidando com uma revelação impactante sobre sua origem, e um câncer de próstata, Tony Sirico ganha a chance de explorar mais a fundo o lado dramático de Paulie, que estabelece-se de vez como uma figura tragicômica no episódio "Remember When", em que seu apego ao passado rende alguns dos momentos mais tocantes do personagem em toda a série.

Christopher desta vez tem que conviver com a culpa por sua participação na morte de Adriana, e encontrar um meio de lidar com os sentimentos conflituosos que vinha nutrindo pelo tio desde que surgiu a suspeita de que Tony teve um caso com sua ex-namorada. Seu empreendimento na indústria do cinema, algo que vinha sendo preparado desde a primeira temporada, não poderia encontrar momento melhor para alcançar sua culminância, funcionando como um meio criativo de expôr toda raiva que escondia do tio. Além disto, seu problema com as drogas volta à tona, acentuando a natureza trágica do personagem, e preparando-o para o encerramento de seu arco dramático.

Mas é óbvio que o grande destaque da temporada foi a trajetória de Tony, que logo no primeiro episódio é baleado por seu tio, e fica entre a vida e a morte nos 3 episódios seguintes.

Os episódios 2, 3 e 4 compõem praticamente uma trilogia, cuja história gira em torno de Tony adquirindo uma nova visão de sua própria vida, algo que terá repercussões em toda a temporada. A forma escolhida pelos roteiristas para representar o estado de coma de Tony é brilhante. Antecipando um recurso narrativo que seria fartamente usado pelos roteiristas de Lost, também em sua última temporada, David Chase e Mattew Weiner inovaram, ao lançar Tony Soprano numa versão alternativa de sua própria vida, em um mundo paralelo lotado de simbolismos, encontrados tanto nas situações em que vive (a perda da identidade, e o fato de ser forçado a assumir um novo papel; a escolha de participar ou não da festa para qual foi convidado), como nos elementos visuais (o recorrente farol que ele enxerga distante no horizonte; o helicóptero que vez ou outra joga um facho de luz sobre ele, confundindo-se, por segundos, com a lanterna do médico que examina sua retina no hospital). Estes três episódios são de uma riqueza poética e filosófica poucas vezes alcançada em toda a série.

Após este primeiro arco dramático, é notável a atitude mais amena que Tony assume com relação a vários problemas que lhe surgem, que vão desde o enfermeiro que roubou dinheiro de sua carteira quando foi socorrê-lo após ser baleado, até a maneira como lida com a revelação de que Vito é gay. Mas, não demora muito pra este “novo” Tony entrar em conflito com as inclinações do “velho”. O antagonismo entre o velho e o novo se intensificam, e culminam em algumas das cenas mais chocantes e violentas protagonizadas pelo personagem, como aquela em que espanca quase até a morte um capanga da família rival "só" porque ele assediou Meadow; e a surpreendente morte de um dos personagens mais antigos da série, que encontra seu fim nas mãos de Tony.

O início da 2ª parte da temporada chama atenção pela forma como, em apenas três episódios, os roteiristas apontaram três personagens antigos e queridos do público como possíveis vítimas de Tony, algo que acaba se mostrando parcialmente verdadeiro para dois deles.

Já no núcleo familiar de Tony tivemos Carmela, que ganhou algumas ótimas cenas dramáticas no início da temporada, à altura do enorme talento de Eddie Falco. Porém, após o período em que Tony ficou entre a vida e a morte no hospital, houve pouco destaque para a personagem, diferente do que ocorreu nas temporadas anteriores.

Meadow também teve participações pequenas nesta temporada, agindo mais como uma conselheira para os pais, que tentavam encontrar a melhor forma de lidar com os problemas de A.J. (Robert Iler). Este, sim, teve um cuidado maior por parte dos roteiristas, que em pouco tempo ganhou uma namorada com filho, foi abandonado por ela, e entrou numa fase depressiva/reflexiva que explorou mais profundamente a psique do personagem. Embora vez ou outra seu arco dramático tenha soado como uma tentativa forçada de desenvolver A.J., que durante 5 temporadas pouco amadureceu, sendo quase sempre um rebelde sem causa mimadinho. A consciência que subitamente ganha de que não é o centro do universo, e do desperdício que vinha sendo sua vida até então, rendeu momentos interessantes e importantes para que o personagem atingisse alguma maturidade. Porém, mais tarde, ele volta praticamente à estaca zero, quando demonstra que ainda não estava pronto para ser um adulto responsável.

Outro tema muito bem trabalhado na 2ª parte da temporada foi o fim de uma geração de mafiosos, e o futuro incerto de seu legado. Phil Leotardo (Frank Vincent), após sofrer um ataque cardíaco, decide abandonar a liderança da família de Nova York, e seguir o conselho que Tony lhe dá no final da 1ª parte: aproveitar a vida ao lado da família enquanto pode. Porém, tudo parece conspirar para que a velha geração continue na ativa, quando seus sucessores são eliminados por um rival, obrigando-o a voltar à ativa.

Fato semelhante ocorre com Tony, que foi forçado a lidar com a deterioração da nova geração, algo que fica claro quando constata que Christopher não se encontra à altura de sucedê-lo após sua aposentadoria. Sua frustração é tanta que o leva a sacrificar o sobrinho/primo.

Um dos melhores episódios a lidar com a questão do envelhecimento da "velha guarda" é Remember When (6x15), em que Tony e Paulie tiram “férias forçadas”, e passam um tempo juntos, hospetados no hotel de Beansie (Paul Herman). Tony tem que conviver com o saudosismo de Paulie, que não pára de evocar episódios de seu passado como gângster, trocando lembranças com Beansie, outro velho criminoso, cuja velhice cobrou seu preço, tendo agora que depender da esposa até para cuidar de suas necessidades básicas. E é irônico que Paulie sobreviva até o final da série, reforçando um argumento que parece permear toda a segunda metade da temporada: "já não se fazem mais mafiosos como antigamente".

Dominic Chianese infelizmente ganha pouco tempo de tela nesta temporada, mas tem participações memoráveis. Sua última cena como Tio Junior é uma dos mais comoventes de toda a série, funcionando como um contraste perfeito para antológica seqüência final.

A reunião no restaurante, que marca o derradeiro final da série, é brilhante ao sintetizá-la. Nela vemos a preocupação de Tony com a segurança da família, seu desejo de tê-la sempre por perto, reunida, sob sua proteção, e de fazer com que os bons momentos valham por todos os ruins. Além disto, a ambigüidade do corte final é uma das decisões mais geniais de David Chase, que joga o espectador num abismo de incerteza semelhante ao do gato de Schrödinger, deixando aqueles personagens presos num estado de indefinição, entre a vida e a morte, criando uma rima perfeita com o início da temporada, e simultaneamente com o início da série.

Nota: 4,5 de 5


The Sopranos fez por merecer cada menção que hoje fazem da série em livros e discussões sobre a história da TV americana e mundial. Suas 6 temporadas, mesmo com pequenas imperfeições, e leves quedas de qualidades, jamais deixaram de apresentar um competente desenvolvimento de personagens, uma condução segura de tramas e subtramas, e um elenco extremamente talentoso. Sua equipe de atores, diretores e roteiristas levaram as séries de TV a um novo patamar. Se não foi com The Sopranos que tudo isto começou, foi nela que a TV americana atingiu seu auge.

Depois de assistir Sopranos ficamos mal acostumados, pois torna-se cada vez mais difícil tolerar qualquer produção mediana, seja ela feita pra TV ou pro cinema.

3 comentários:

  1. Adorei.
    Tirando alguns erros de digitação e/ou português (Infermeiro, Rodrigo??hahahaha) vc sintetizou muito bem todas as temporadas.

    Tony Soprano é o mafioso mais humano que eu já vi. E seu papel é muito bem elaborado: você o ama e o odeia em questões de minutos.

    The Sopranos marcou o mundo das séries com suas reviravoltas e a grande variedade de questionamentos morais até então nunca utilizados em séries de TV. Foi um verdadeiro divisor de águas, e até hoje vemos sinais de sua influência (Mad Men, The Boardwalk Empire e até mesmo em sátiras como a do episódio final de Everybody Hates Chris).

    Faço parte daqueles que detestaram o final da série. Aquele gostinho de "quero ver mais" vai sempre me acompanhar.

    Agora quero ver você fazer o mesmo com Mad Men, ok?

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  2. Fiz uma nova revisão, e os erros que encontrei foram corrigidos.

    Obrigado pelos comentários e sugestões.

    Mad Men vai demorar um pouco até que eu assista, mas pretendo sempre escrever sobre as séries que assistir.

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  3. Acabei de assistir última temporada e ao contrário da outra pessoa que postou, gostei do final.
    Sinceramente, como você disse no comentário final, The Sopranos nos deixa mal acostumados. Série quase perfeita nos aspectos técnicos mas principalmente uma série que faz pensar, que leva a pessoa a refletir. Na minha opinião é genial.
    Outra série que assisti e chega perto de The Sopranos é Six Feet Under, indico ela aos órfãos hehe.
    Sempre ouvi falar muito bem também de The Wire.
    Blog bacana. Abraço.

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