domingo, 4 de julho de 2004

[CONTO] Exaustão

Why did you leave me?

Não sei quanto tempo eu estou aqui.. caído...

Viro minha cabeça para a direita, e acabo molhando minha bochecha com a pequena poça d'água misturada com fuligem e óleo de motor. Logo à frente, um mato rasteiro, e mais adiante uma árvore seca que parece mais morta do que eu me sinto agora...

Posso sentir os cortes espalhados por todo o corpo, vários raspões, e pelo menos umas três costelas quebradas. Apesar disso, não sinto dor alguma...

A visão do olho esquerdo está turva. Tingida pelo vermelho de meu sangue, que não pára de escorrer do corte profundo na testa.

Minha respiração se mantém fraca, e a dificuldade para mantê-la é tanta que logo vem a sensação de que meus pulmões parecem estar cheios de areia, como dois sacos lotados por ela.

Não tendo mais forças para virar a cabeça, tento olhar o restante do cenário com a pouca área coberta pela visão de meu olho direito, que, pelo menos, ainda não tem sangue escorrido sobre ele...

Olho pra baixo e vejo a carne de minhas pernas rasgadas profundamente, permitindo que o sangue de meu corpo o abandone sem exitar.

Olho para meu braço direito, estendido no chão, e noto a ausência de uma mão que deveria estar lá. No lugar, encontro apenas um corte mal feito, e uma novo manancial de sangue...

Olho pra cima, e acho a mão que me falta, já sendo rodeada pelas moscas.

Não me lembro como cheguei a esse ponto. Não me lembro quem eu sou, nem qual foi a vida que eu tive antes de me encontrar aqui, estendido nesse chão imundo de terra seca sendo tingida de vermelho, sem uma das mãos, e o gosto de óleo e fuligem na boca.

Mas, agradeço por não me lembrar de nada. De não ter nada por que se arrepender.

Olho para o céu e vejo a luz do Sol, que me cega...

A última luz que irei ver nesta minha vida sem passado... Nesta existência do agora...

A escuridão me envolve, me acolhe, me recebe com um carinho que eu não consigo me lembrar se tive algum dia. Mas, não me esforço para isso...

Me sinto como se estivesse no primeiro e último dia da minha vida. É uma sensação boa...

Posso me sentir o ser mais puro que já existiu, mesmo estando em um lugar tão imundo em meu fim.

Não penso em quem eu fui, o que eu fiz, nem quais problemas eu provavelmente tive antes de estar aqui. Esse momento final se torna o único que eu tive nesta minha breve vida, e agradeço por ele.

Que eu possa voltar para o lar de onde vim, tão puro quanto saí dele...

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Comentários:

o.o.... wow.... Isso foi algo do tipo... vc bateu o olho nessa imagem e vc imaginou todo o contexto que o cara tava vivendo? x_x E ainda encaixou isso o que vc tava sentindo? o___o wow y.y

Lolo | 16-07-2004 01:07:43

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