domingo, 9 de agosto de 2009

[CONTO] Sunday Blood Sunday

O vento gelado arrepiou suas mãos e pernas nuas enquanto ela tentava se aquecer no meio da noite. Por mais de uma vez ela pensou em procurar alguém para sentir um ultimo calor. O pensamento de ter algum calor evocou um profundo sentimento dentro dela e Fez seus olhos brilharem, mas por mais que ela quisesse ficar aquecida, ela não iria descer aquelas escadas

HOW LONG, HOW LONG MUST WE SING THIS SONG?
HOW LONG? TONIGHT WE CAN BE AS ONE

O frio da noite acariciou seu corpo e enviou outro calafrio espinha abaixo o que a fez se encolher em posição fetal, lutando para reter seu próprio calor corporal. Isso não era novidade pra ela, já havia enfrentado noites piores mas essa noite ela não sabia se iria vencer a natureza e se preservar. Estava encharcada em suor e havia gotas de sangue esparramadas por toda sua saia puída. Ela não havia comido nada o dia todo e ardia em febre. Tentava fazer o melhor que podia para não ficar inconciente pois temia não mais tornar a acordar. Tentou lembrar de bons momentos, mas falhou em lembrar de algum. Houve algum em sua curta vida vivida?

BROKEN BOTTLES UNDER CHILDREN´S FEET
BODIES STREWN ACROSS A DEAD END STREET

Ela nasceu na pobreza, alcoolismo e prostituição. Desde quando ela podia lembrar sempre houve um fedor de suor e cigarro anexado a suas roupas e tudo ao redor dela. Sua mãe foi uma prostituta que a acusava de a ter feito perder 5 preciosos meses de seu emprego.

Nikos não tivesse sido tão bom quanto era, Amarantha teria nascido e ficado no meio da estrada com lama e sujeira sobre seu corpinho nu de bebe. Ninguem no "abrigo" tinha bebês. Precauções tinham de ser tomadas para garantir que não haveriam bocas extras para se alimentar, mas as vezes as precauções falhavam e o resultado foi ela. Ela sempre deveria ser grata a Nikos, sua mãe lhe dizia, pois sem ele elas teriam morrido de fome algumas vezes durante esses anos

BUT I WON´T HEED THE BATTLE CALL
IT PUTS MY BACK UP,
PUTS MY BACK UP AGAINST THE WALL

Aos 5 anos ela sabia cozinhar, lavar os pratos e lavar roupa. Ela veria homens entrando no quarto de sua mãe toda noite, mas pela manhã eles já teriam ido embora. As vezes ela via hematomas no corpo de sua mãe, assustou na primeira vez que percebeu. Se agarrou a ela e chorou, pensando que algo terrível tinha acontecido com sua mãe.

Em resposta, sua mãe agarrou seu braço e a empurrou para longe e lhe disse para crescer. A vida era dura e arranhões inevitáveis se elas queriam ter comida em sua mesa.

SUNDAY BLOODY SUNDAY
SUNDAY BLOODY SUNDAY

Amarantha nunca mais tentou abraçar sua mãe. As vezes haviam noites que ela tinha pesadelos e queria correr para sua mãe conforta-la. Um dia o medo se tornou insuportável e ela não pode evitar de ir ao quarto de sua mãe. O que ela viu ficou impresso em sua mente apenas lhe deu novos pesadelos.

Sua mãe estava amarrada a cama, nua, e havia um ancião nu a torturando e a chicoteando. Amy ficou tão impressionada que ela gritou para o velho parar de torturar sua mãe, apenas para ser denefestrada pela própria. Amy não recebeu nada para comer no dia seguinte

Cada erro merece uma punição, sua mãe dizia, então punida ela foi!

AND THE BATTLE´S JUST BEGUN
THERE´S MANY LOST, BUT TELL ME WHO HAS WON?

Quando ela tinha sete anos recebeu um golpe direto no queixo. Acordou aquela manhã e prosseguiu com o café da manhã para todos quando ouviu sirenes se aproximando e imaginou o que teria acontecido

Ouvir sirenes ali não era grande coisa: alguém sempre era baleado, espancado ou esfaqueado. Quando a ambulância parou na frente da sua casa ela não tremeu, era bastante comum alguém de lá ficar ferido ou ter overdose e era levado para o hospital. Mas o que ela viu a chocou. Derrubou tudo que havia em suas mãos e correu para fora quando viu o corpo de sua mãe carregado para a ambulância. O ultimo cliente daquela noite havia batido tão forte nela que ela desmaiara. Como ele saiu sem dizer nada a ninguém, não saberia dizer quanto tempo ela ficou ali sangrando

THE TRENCHES DUG WITHIN OUR HEARTS
AND MOTHER´S CHILDREN, BROTHERS,SISTERS FROM APART

Nikos empurrou Amy para fora do caminho e disse a ela para esperar enquanto levava sua mãe ao hospital. A menina acentiu, voltou para dentro e esperou. Esperou e esperou. Cada segundo parecia cobrar o preço de suas unhas. Pensamentos miseráveis correram por sua cabecinha enquanto ela esperava por noticias, mas se passaram horas e ninguém a informou de nada. Estava quase completamente escuro lá fora quando Nikos voltou, mas ele nada lhe disse. Pediu por chá e pão e como uma menina obediente, ela assim o providenciou. Esperou pacientemente enquanto Nikos comia

SUNDAY BLOODY SUNDAY
SUNDAY BLOODY SUNDAY

"O que pretende fazer agora?" – ele perguntou enquanto mastigava o pão

"Como assim o que eu pretendo fazer? Mamãe vai voltar e nós vamos continuar como éramos" – respondeu sua vozinha

"Sua mãe tinha 12 quando começou esse negócio, mas aqueles eram outros tempos. Você quer começar?" O olhar de Nikos não deixou o rosto dela por um instante sequer

"Eu nunca vou fazer parte desse mundo sujo, eu vou embora desse lugar tão logo quanto eu puder,".

"Então acho melhor você fazer as trouxas, docinho." - Nikos pegou um palito-de-dente e começou a cutucar seu dente careado

"Do que está falando? Como está minha mãe? Pq não me diz nada?" – ela fez o que pode para não gritar com ele. Ela fez o que pode para trata-lo bem

"Ela está morta, docinho. O filho da puta bateu nela e a deixou inconciente para sangrar até a morte. A pressão sanguinea não era exatamente boa, então a perda de sangue não ajudou"

HOW LONG, HOW LONG MUST WE SING THIS SONG?
HOW LONG? TONIGHT WE CAN BE AS ONE.
TONIGHT, TONIGHT

Amarantha não pode acreditar em seus ouvidos. Não pode acreditar que aquele homem estava lhe dizendo que sua mãe estava morta. Ela nunca mais iria ser capaz de falar com a sua mãe ou sentir a mãe dela quando ela penteava o cabelo de Amy as vezes. Ela nunca mais olharia naqueles olhos de novo. Nunca mais teria a oportunidade de dizer a sua mãe que a amava não importasse o que acontecesse. Sua fantasia de sua mãe um dia lhe dizer o quanto a amava jamais se tornaria verdade. A única pessoa que ela amou nesse mundo não existia mais!

SUNDAY BLOODY SUNDAY
SUNDAY BLOODY SUNDAY

"Onde está o corpo?" – Não havia tremor na sua voz ou lagrimas em seus olhos

"Bostinha cabeça dura vc, heim?" – Disse Nikos ainda entretido com o palito de dente – "Doado para o hospital. Quem iria pagar pela cremação? Por acaso a madeira iria caminhar sozinha da floresta até aqui e pedir para ser queimada em prol de sua mãe vadia? "

Foi tudo que ela pode agüentar. Sua mãe serviu, se humilhou, se escravizou por esse homem que agora falava da sua morte tão levianamente. Ele estava comendo enquanto falava sobre sua mãe sangrar até morrer pelo amor de deus! !

WIPE THE TEARS FROM OUR EYES
WIPE YOUR TEARS AWAY
WIPE YOUR BLOODSHOT EYES

Furia como ela nunca havia sentido antes tomou conta de sie cegou seus olhos. Ela alcançou uma faca e talhou um grande C no rosto de Nikos, mas ela não foi rápida o bastante para causar algum dano sério, ele era grande e rápido demais para uma garotinha. Ele a agarrou pelo pescoço e a arrastou para o quarto dele sem esforço, a atirou na cama e começou a espanca-la. Cada golpe seu mundo parecia ficar mais e mais dormente até ela não sentir mais absolutamente nada. Tudo que ela pode ver eram os olhos de sua mãee um de seus raros sorrisos. Sua mãe havia partido e ela estava sozinha nesse mundo. Ela não sabe dizer quando Nikos arrancou suas roupas. Ela não podia ver nada, sentir nada exceto por alguma coisa a esfaqueando por dentro

SUNDAY BLOODY SUNDAY
SUNDAY BLOODY SUNDAY

A dor a cegou completamente e eventualmente ela perdeu a consciência até escorregar para um mundo de sonhos. Sonhos sobre sua mãe sorrir para ela e dizer que a amava. Sonhos sobre sua mãe a levar ao parque ou ao shopping e lhe comprar roupas. Sonhos sobre o amor infinito. Sonhos sobre o que ela nunca teve e nunca teria!

AND IT´S TRUE WE ARE IMMUNE
WHEN FACT IS FICTION AND T.V. IS REALITY

Quando ela acordou na manhã seguinte, estava deitada no parque sozinha com sangue esparramado por tudo que sobrara de suas roupas. Ela entou levantar e caminhar mas suas pernas não eram fortes o suficiente. Seu corpo foi engolfado pela febre e encharcado em suor. Ela passou o dia alternando entre o sono e a conciencia, esperando por alguém vira salva-la. Ninguem veio. Sua mãe poderia ter ajudado, mas ela não existia mais.

AND TODAY THE MILLIONS CRY
WE EAT AND DRINK WHILE TOMORROW THEY DIE

Ela fechou seus olhos e vagou para o mundo dos sonhos, seus olhos se cerraram lentamente e caiu no sono mais uma vz, até o vento frio da noite acorda-la. Ela tremeu e lutou por sua sobrevivência até o demônio do sono toma-la novamente nas ruas de Castlereagh.

THE REAL BATTLE JUST BEGUN
TO CLAIM THE VICTORY JESUS WON
ON A SUNDAY BLOODY SUNDAY
SUNDAY BLOODY SUNDAY

Na manhã seguinte, a policia encontrou mais um cadáver nas ruas. Entretanto o que chamou a atenção e fez com quem passava por ali parar era o lindo sorriso estampado em seu rosto. Antes do fim, ela havia tido um lindo sonho.

Um comentário:

  1. Inusitado este conto que tomou forma a partir da famosa música do U2. Me fez lembrar algo que o Alan Moore disse, sobre sentido que conseguimos extrair da vida quando pensamos em existências como a de Amy, por exemplo, que nasceu e morreu como um sopro, sem a menor chance parte das belezas deste mundo, ir além do inferno em que viveu. Há sentido numa vida que oferece tanto a uns e tão pouco, quase nada, a outros? Daí vai da crença de cada um.

    Belo réquiem.

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