terça-feira, 4 de maio de 2004

[REFLEXÕES] Ejetados da realidade

Hoje em dia é cada vez mais freqüente obras de ficção científica q retratam o desejo humano de fugir da realidade.

O mundo se encontra em um estado de caos tão grande q acaba contribuindo para o aumento da insegurança do ser humano perante o ambiente no qual vive.

Matrix é um dos reflexos desse sentimento transpostos em forma de filme.

Nele vemos uma humanidade sendo mantida como prisioneira de máquinas q criam um mundo virtual no qual as mentes de todos os seres humanos se encontram presas em um ciclo interminável de sonhos induzidos por impulsos elétricos gerados por câmaras de sonhos q criam uma réplica do mundo real. Porém, este, como de fato é, não passa de uma Terra devastada pela própria humanidade durante sua guerra contra as máquinas q a mantém presa, guerra esta provocada por nossa própria espécie.

O filme, em um primeiro momento, passa a idéia de q somos meras vítimas de nosso próprio desenvolvimento tecnológico, mostrando, para olhos mais desatentos, os seres humanos como uma espécie q não teve escolha quando foi aprisionada naquele mundo virtual. Mas, analisando mais profundamente a história, tem-se tb uma segunda interpretação dos fatos.

Não seria o aprisionamento da humanidade na Matrix o resultado de um desejo inconsciente e coletivo de fugir da dura realidade q seria se aventurar em um mundo real q não ofereceria a menor condição para q ela continuasse governando a Terra como espécie dominante?

Neo foi sábio quando escolheu fazer um acordo com as máquinas, no final de Matrix Revolutions, pois ele, mais do q ninguém, já havia entrado em contato com os dois lados da situação, e sabia muito bem o q esperava a raça humana fora dos casulos no qual seus corpos se encontravam presos na central de produção de energia de Zero Um. E ele não precisava ser um gênio pra notar q Zion não comportaria nem a pau a humanidade inteira.


Mas Matrix é apenas um entre diversos exemplos de obras da ficção científica q abordam esse tema.

No mundo do cinema tb temos 13º andar. Um filme q toca em um tema ainda mais intrigante: imagine acordar de um sonho e descobri q na verdade vc estava sonhando q acordava de um sonho. Porém, vc novamente acorda, e se dá conta de q estava sonhando acordar de um sonho onde vc sonhava acordar.

Realidades q contém outras.

O desejo do ser humano em fugir da realidade é tão grande q no filme a conseqüência disso são personagens q não sabem mais se existe, de fato, uma realidade q deu origem às outras, ou se eles não passam de prisioneiros de camadas infinitas de realidades q se sobrepõem, sempre impedindo a total compreensão do mundo no qual vivem.


Indo para o campo da animação, temos Serial Experiments Lain.

Nele, a personagem principal, uma garota tímida e introspectiva, se vê diante de um novo mundo q se descortina gradativamente diante dos seus olhos quando recebe um e-mail de uma garota do seu colégio q havia cometido suicídio dias antes.

No e-mail, Chisa, a tal q se suicidou, diz q se sente bem onde se encontra naquele momento, ou seja, aWired, q seria uma "internet bombada". Fala q ela apenas "desistiu de seu corpo", deixando q seu espírito fosse para aquele mundo virtual.

A garota encerra a mensagem com uma das frases mais intrigantes apresentadas pelo anime: "Deus está aqui."

No decorrer da trama, vemos Lain, aos poucos, começar uma caminhada q a conduzirá em uma busca por seu verdadeiro eu em uma outra realidade, a Wired.

O anime não só aborda a busca pessoal de Lain, como tb procura mostrar como diversas pessoas, com o surgimento da internet, passaram a encontrar maiores chances de se relacionarem com outras, rompendo as barreiras q as impediam de fazer isso no mundo real, no mundo de matéria, onde usamos nossos corpos para interagir com as pessoas. E a série nos apresenta uma visão peculiar do corpo, q para um determinado personagem do anime nada mais é do q um mero dispositivo de comunicação usado pelos seres humanos no mundo real para interagirem, assim como os computadores são usados para o mesmo fim no mundo virtual, ou seja, a Wired.

Fazendo uso de uma narrativa fragmentada, onde os fatos, lenta e gradativamente, se conectam, aumentando cada vez mais a compreensão, tanto de Lain, como do espectador, a respeito do mundo no qual a história se passa, a série consegue transmitir sua mensagem através de uma frase simples, porém de grande profundidade, dita pela protagonista: "Não importa onde vc esteja, todos estão conectados."

Desse ponto em diante, Lain começa a entender seu papel naquele complexo cenário, e é apresentado, a quem estiver disposto a participar de uma incursão em um anime q certamente mudará a maneira de pensar daqueles q se propuserem a abrir suas mentes para ele, idéias e teorias fascinantes, q sempre seguem o caminho da inevitável conexão, um tema decorrente e sempre presente ao longo de toda a série, q se mostra de extrema importância tanto para a compreensão da mesma, como para nossa compreensão de nosso próprio mundo e do nosso papel nele.

No final, Lain nada mais é q uma metáfora da busca dos seres humanos por seu papel dentro da própria criação, e consegue nos dizer q todos nós, sem exceção, somos necessários para a mesma, desde q não fechemos nossos olhos pra essa verdade.

Fazemos parte de uma rede q não pode mais ser rompida.


Por fim, voltando ao campo das produções cinematográficas, encontramos Avalon. Filme dirigido porMamoru Oshii, o mesmo de Ghost in the Shell, porém agora lidando com atores de carne e osso, apesar de, aqui, a trama principal lidar com personagens q, em sua maioria, dão mais valor para ao composto de bits no qual se aventuram.

Avalon é o filme perfeito para os dias atuais, onde vemos dezenas de jovens enclausurados em lans jogandoCounter Strike, se rendendo a seus vícios enquanto se distanciam cada vez mais do mundo real.

Temos nele uma personagem chamada Ash, exímia jogadora do jogo Avalon, q seria um "Counter Strike superavançado" capaz de transportar a mente do jogador para uma realidade virtual hiper realista, diante de um boato q fala sobre a existência de um nível secreto no jogo, acima do Nível A, q é aquele no qual ela se encontrava quando a hitória começa.

Para se chegar a esse nível era preciso alcançar uma altíssima pontuação de experiência, e encontrar o fantasma de uma garotinha q era a chave para esse nível.

Assim, Avalon mostra a busca de Ash e sua luta para alcançar o tal nível secreto, onde, ao contrário dos outros níveis, os jogadores q chegassem a ele não poderiam usar o "reset", caso se arrependessem. A partir daquele ponto, somente vencendo-o eles poderiam sair do jogo.

É nesse ponto q reside a genialidade da história contada por Avalon, conduzida de forma genial por Mamoru Oshii, q não deixou nada a desejar para suas obras anteriores no campo da animação.

O filme lida com o tema de forma excepcional, cuja história é quase inteiramente apresentada através de uma fotografia em tom de sépia, q não só se mostra essencial para o desenvolvimento da trama, como tb cria uma ambientação única, capaz de fazer com q alguns confundam várias cenas com animação tradicional, semelhante ao efeito obtido nas cenas apresentadas até o momento de Sky Captain and the World of Tomorrow, filme a ser lançado em setembro desse ano.

O final não poderia ser melhor, e é apresentado de forma simples, porém magistral, além de passar uma das mensagens mais positivas q já tive a chance de ver em um filme q abordasse a "fuga da realidade" como tema principal.


Exemplos como os citados acima apenas demonstram a preocupação q temos em encarar de peito aberto o mundo real, e as rotas de fuga das quais muitos fazem uso quando deixam o medo dominar suas decisões.

Nos aprisionamos em realidades alternativas, quando não podemos fugir do fato de q tb nos fazemos prisioneiros do mundo real, onde nos é dada a chance de provarmos ser merecedores de nossa liberdade como seres destinados a uma existência sublime e transcendente, mas, no momento atual, incapazes de perceber essa verdade q insiste em se apresentar àqueles dispostos a enxergá-la...

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Comentários:

http://mude.weblogger.terra.com.br/200308_mude_arquivo.htm Leia o primeiro texto

Cilon | Homepage | 08-05-2004 20:14:26
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Ei^^ Tipow...eu ateh queria fazer a análise direitinha do seu post, + ñ tenho tempo, stou de saída.. Soh que digo que seu blog eh muito irado... Er...eh meio ruim pensar que estamos presos a algo...+ talvez inevitavel... Bien..gostei muito mesmo do seu blog... parabéns ^^ Emile

**Akai** | Email | Homepage | 08-05-2004 11:56:41
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Depois de ler tudo isso, tenho mais certeza ainda de que você irá gostar de jogar o Pesadelo. Descontando o fato de que grande parte dos filmes e animes que você citou (quase todos) terem me inspirado e influenciado durante a concepção do Pesadelo, o próprio conceito enigmático do jogo irá lhe agradar. Entre outros aspectos, o Pesadelo aborda o conhecimento de si mesmo e do ambiente onde vive, através do seu relacionamento com você mesmo (dentro da sua mente). Espero a sua presença na próxima sessão. Quem sabe ainda não estou totalmente satisfeito com o jogo pois falta algum comentário que você me fará no futuro (oh! "me ajude a construir um 'Pesadelo' melhor"). um abraço, cara... falow

A.Draeth | Email | Homepage | 04-05-2004 01:54:52

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