quarta-feira, 20 de outubro de 2004

[ÊXTASE] Um pedaço da vida à ela própria

E eu vi o sol despontando no horizonte, tingindo as nuvens de laranja, em uma apresentação grandiosa de um novo dia.

E vi ele indo embora, desligando a luz, transformando o dia em noite.

E com a noite veio o cantar das cigarras e grilos, o coachar dos sapos e rãs, os mosquitos e aleluias dançando ao redor da luz. O movimentar das folhas, flores e galhos com a brisa noturna, e a lua cheia, lá do alto, iluminando isso tudo. Muitas vezes sim, outras não, e pra essas ocasiões vinham as estrelas, cujos brilhos se ressaltam não encontrando mais sua maior concorrente.

Eu vi pássaros nascerem, pássaros morrerem, pássaros voarem e pousarem. Pássaros de diversos tamanhos e cores e formatos. Pássaros que cantavam e pássaros que piavam. Pássaros que nem sequer voavam, mas corriam e saltavam. Pássaros que embelezavam a paisagem, se tornando parte dela.

E eu me imaginei na posição deles, voando entre nuvens, e prédios, e galhos de árvores, florestas gigantescas e pequenas paragens. Subindo montanhas e descendo penhascos, e planando sobre lagos, rios e mares.

Eu vi o ondular das águas por uma pedra jogada, uma folha caída, uma gota pingada, o pousar de um pássaro, o pular de um peixe, o navegar de um barco. E vi milhares de ondas se cruzando, se expandindo, se chocando e entrecortando-se, com o cair de uma chuva, que se transformaria em tempestade.

Vi os relâmpagos iluminando o horizonte, cortando os céus e se chocando com a terra. E ouvi os estrondos dos trovões, ecoando por quilômetros, trepidando casas, árvores, espantando animais, gerando medo em algumas pessoas, e admiração em outras.

E eu corri no meio de muitas chuvas, pisando e pulando em cima das poças, batendo nas gotas, ou contendo-as com as mãos.

Depois vi arco-íris formando-se após chuvas de verão, e caminhei pelas ruas, ainda úmidas. E assim andei em meio às gotículas d'água suspensas no ar. As mesmas gotículas que muitas vezes vi nas folhas e flores das plantas dos muitos jardins e quintais das casas onde vivi. Das muitas matas e plantações pelas quais caminhei.

Vi também amantes se beijando, de diferentes sexos ou do mesmo, mas amando e trocando carícias sempre com a mesma intensidade de dois seres apaixonados. Assim como vi muitos abraços, e apertos de mão, e namorados caminhando de mãos dadas ou abraçados.

Também vi dois corpos se amando, e transpirando de amor, se tornando um só em um bailar intenso. E vi muitas vidas nascerem de muitas destas uniões.

Ouvi muito choro de bebês, pedindo colo, pedindo peito, pedindo carinho ou um pouco de atenção, assim como ouvi e vi muitas risadas de boquinhas sem dentes, e mãozinhas espertas tentando pegar tudo, como se quisessem segurar o mundo todo em suas mãos.

Vi, é claro, essas mãozinhas crescerem e virarem "mãozonas", e depois de engatinharem começarem a andar, e depois de chorarem e emitirem sons estranhos finalmente dizerem as primeiras palavras, que se tornariam frases, e mais adiante discursos, que atrairiam uma multidão ao seu redor.

Eu vi também muitos morrerem...

Vi vidas sendo tiradas por outras vidas, ou por pequenos seres que não conseguimos enxergar, e até mesmo a vida sendo tirada pelo próprio ser que a possuía.

Vi milhares morrendo por uma causa, e vi muitos outros morrerem por causa alguma. Vi o ódio e a cobiça consumindo pessoas, famílias, povos e nações inteiras.

Vi um simples átomo destruir uma cidade, e milhares de vidas humanas virarem cinzas.

Mas, não me esqueci de todo o resto, e também vi as folhas secas se desprenderem das árvores no outono, e dançarem no asfasto, e me lembro de ter gostado daquele som que elas produziam ao se chocarem umas com as outras.

E apesar de não ver, ouvi muito o vento passando por mim, uivando em meus ouvidos, fosse quando estava correndo, fosse quando permanecia parado. Às vezes como uma brisa trazendo um pouco de conforto em um dia quente. Outras prenunciando uma tempestade, talvez sendo uma delas a mesma descrita mais acima.

E abri os olhos debaixo d'água, pra encontrar um cenário turvo e desfocado, diferente da paisagem nítida e límpida que eu esperava encontrar, confiando nos muitos filmes que assisti. E eu assisti muitos, podem acreditar!

Vi filmes de suspense e de terror, de aventura e ficção, de drama e de romance. Ri muito assistindo comédias, e chorei algumas vezes com histórias tocantes.

Quebrei a cabeça tentando desvendar mistérios, entender idéias, e descrever fatos.

Li muitos livros, revistas e jornais, tentando também obter um pouco da visão que outros tinham disso que chamamos vida. Mas, a cada dia, eu descubro que por mais que se tende resumi-la, mais eu contribuo para que isso se torne impossível.

Pois a vida é tudo isso e mais um pouco, bem mais.

A vida são as palavras aqui escritas, e as não-escritas também. Sou eu e você e todos nós.

A vida pode ser um pequeno ponto, ou um livro inteiro, e mesmo assim, ela não é só isso.

Portanto, em respeito a ela, entrego essa parte de si a ela mesma, e peço desculpas por tentar descrever você, vida, que é indescritível.

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Comentários:

Esta é a vida. Realmente é muito dificil descrevê-la, mas nem precisa, melhor sentí-la. Gostei muito, wolv. Beijo

anne | Email | Homepage | 20-10-2004 21:18:54
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Oi Wolv, A DO REI! []'s CAROL

CAROL | 20-10-2004 20:26:06

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