sábado, 16 de outubro de 2004

[REFLEXÕES] Desconstrução reflexiva de um ser por ele mesmo (ou "O que sou, fui e pretendo ser")

Tudo é uma grande seqüência de frustrações, que geram dor, que me fazem sofrer, e olhar pra vida, e não enxergar toda a sua beleza, que um dia eu tive o privilégio de ver com mais clareza, mais entusiasmo e sensibilidade.

E eu tinha tempo pra pensar, e pra absorver o que eu via, lia e sentia, e externar isso tudo em textos bem construídos, ou não, mas textos que refletiam parte do que eu era no momento que escrevia.

Esse tempo passou, e agora o tempo não é um privilégio que possuo em maior abundância. A vida se tornou mais difícil e desafiadora. Os objetivos mais simples e diretos, ao contrário da indecisão de outrora, que não me ajudava a pensar no que realmente era preciso pra eu sair daquele ponto de tristeza, angústia e insatisfação. Mas agora eu sei, e tudo se torna mais claro!

No final todo mundo procura algo simples, sempre esteve atrás disso, e passa a vida inteira encontrando justificativas furadas pra não admitir que almejam só um pouco de paz e felicidade pra suas vidas.

E a felicidade é a meta de todos, e todos correm atrás dela, mas acabam seguindo caminhos diferentes, muitas vezes contrários, que muitas vezes vão de encontro um com o outro, e muitas vezes se rendem a um egoísmo que se solidifica a cada tentativa do outro de nos bloquear a passagem.

A gente tem vontade de desistir de tudo, porque nada parece estar de acordo com o que precisamos para se chegar lá, mas podemos até olhar pra trás e ver que os problemas de agora são até maiores que os anteriores.

Antes se tinha tempo pra tentar digerir cada problema. Era possível mastigá-lo, engoli-lo, fazer uma sesta e deixar que o sistema digestivo cuidasse do resto. Mas agora é o tempo em que pega-se qualquer porcaria e engole sem ver, sem sentir o sabor, sem mastigar com calma e precisão, para que uma boa digestão seja feita.

E a indigestão vem. Porque antes podia sentir o gosto ruim de um leite azedo, de um café amargo, de um pão adormecido, e de uma maçã que não estava doce. E hoje você tem que comer uma feijoada como se estivesse comendo um simples pão com manteiga. Sem mastigar e engolir direito.

E os problemas de outrora, tão pequenos, mas maximizados pelo tempo em excesso que se possuía, agora parecem pequenos, até minúsculos, perto dos atuais, que se tornam grandes e monstruosos, quando finalmente temos um pouco de tempo pra pensar a respeito deles, e traçar um paralelo entre estes e aqueles, de anos atrás.

A vida se complica conforme tentamos simplificá-la, simplesmente porque só começamos a entender a necessidade de se fazer isso quando ela já está complicada demais. E descomplicar a vida se torna bem mais difícil, cansativo e desanimador.

Chegasse-se a sentir inveja de quem consegue fazer tudo sem pensar muito! Deixa os acontecimentos fluirem e encadearem-se, e seguirem seu curso para que se adaptem às suas próprias necessidades.

Todos deveriam viver assim, mas não vivem simplesmente porque sentem que deve se fazer algo, agir um pouco mais, e pensar um pouco mais antes de agir. E deve-se fazer tudo minuciosamente planejado para que a frustração não seja maior quando algo sair errado.

Mas, a frustração não chega a ser tão grande assim quando não se pensa muito, porque quem não pensa muito acaba nem perdendo tempo mastigando e engolindo a frustração. Apesar de se sentir aborrecido por alguns minutos, ou horas, ou alguns dias e depois, pronto, vai pra frente, e encara o novo problema, sem se deixar absorver por ele.

Pensamos demais a respeito da vida, a respeito da morte, a respeito do que vem depois, a respeito do que devemos fazer para nos preparar, ou não. A respeito do que é preciso para ser um pouco melhor, para que a vida seja um pouco mais satisfatória, e tenha um pouco mais daquela inocência do início, daquele olhar fascinado, daquele arrepio diante do inédito. Mas é bobagem pensar nisso!

É bobagem e a mais pura idiotice pensar que a vida se resume a reflexões sem nexo, sem um fim, sem um objetivo no qual tais reflexões possam ser empregadas!

Ficamos aqui, pensando, e agindo, muitas vezes indo contra o que pensamos, e nos frustrando com isso ou não.

Tenho vontade de destruir tudo e não posso, graças às amarras da sociedade. Graças às conseqüências dos meus atos. Graças à influência deles sobre minha busca por atingir a meta principal, o plano central, a linha pela qual pretendo seguir.

Posso ver vários caminhos à minha frente me chamando, me atraindo, me seduzindo. Meios de externar tudo, meios de me render à brutalidade, à instintividade da espécie, e me deixar dominar pelo lado animal, e a fera que arranha a casca e tenta destruí-la, para que possa sair e destruir tudo.

Destruir tudo que me bloqueia o caminho, e tudo que bloqueia meus instintos! E tudo que retém meu ego, e aprisiona minha imaginação, e a impede de trabalhar no máximo, e expôr o máximo possível de idéias boas, que surgem a todo o instante na mente de quem gosta de escrever, e sente necessidade de fazer isso quando menos se tem a chance de fazê-lo.

E eu corro e corro muito! E tento deixar pra trás tudo que tenta me parar. E tento me desviar de todos sem ser ignorante, e não ferir ninguém, mesmo quando a maior parte do tempo eu sinto vontade de chutar e socar, e até matar! De destruir tudo, e transformar as coisas ao meu redor em uma imensa cratera, e jogar dentro dela tudo o que me faz sofrer, e tudo que me bloqueia a passagem.

É isso que queria agora! A destruição! A morte e o fim de tudo que há de ruim, que me enoja, e que me bloqueia!

E que o mundo seja engolido pelo meu ego, e se renda aos meus desejos! E que meu egoísmo de agora queime cada molécula e átomo desse planeta, e eu possa me sentir livre! Livre para fazer tudo, e que eu possa ficar sozinho um pouco, e tenha tempo para pensar!

Depois disso, gostaria de ter a opção de começar tudo de novo, do zero, e da forma que mais chances me oferecesse de construir as coisas até aqui da melhor forma possível, e minha vida fosse um pouco menos frustrante, e eu me sentisse um pouco menos inútil. Mas fazer isso seria negar a vida que tive até aqui, ou o que eu sou, fui, e pretendo ser.

Negar que o caminho até aqui apresentou tudo quanto foi necessário para que tudo convergisse pra esse ponto, onde algumas peças começam a se encaixar, enquanto outras aguardam o momento de serem encontradas.

E agora eu vejo parte do grande plano! E posso ver que nada do que aconteceu até aqui foi porque eu queria, mas porque era necessário para eu finalmente compreender o que eu de fato queria, e me desse todos os meios possíveis para obter isso.

E o que devo fazer agora é pegar tudo que eu digeri durante esses anos todos, e todos os nutrientes, e vitaminas, e tudo de bom que pude aproveitar, e esquecer do que foi rejeitado pelo meu organismo! Que aquela merda toda fique onde está, e que eu não tenha que lidar com ela novamente!

O que importa é ligar os pontos, resolver a equação, montar o quebra-cabeças, e ter a satisfação de que mais um enigma foi resolvido, mais um problema foi sanado, e mais uma vida ganhou um propósito, e conseguiu cumpri-lo, apesar de tudo, apesar de todos, apesar do mundo, e apesar de mim, que finalmente entendeu que as coisas são o que são porque são como deveriam ser!

E que o plano central continue sua execução interminável, e eu pare com isso por aqui, antes que perca mais tempo pensando e escrevendo, pois pra tudo há um limite, e eu cheguei ao meu aqui, e que venha o ponto final.

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Comentários:
BRAVO! BRAVÍSSIMO!! []´S CAROL

CAROL | 18-10-2004 14:45:58
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Wolv, voltei só para dizer que li os outros posts, às vezes tento comentar, mas o coments não está presente. rsrrs, não sei se é só comigo, mas tenho observado este comente teu vive muito ausente, ñ sei o pq. Beijo.

anne | Email | Homepage | 16-10-2004 16:06:37
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Oi wolv, quem escreve assim, deveria pensar em escrever um livro. Mesmo sendo um texto triste, desanimador, mas é gostoso de ler. Nunca te fiz esta pergunta: nunca pensaste em escrever um livro???? O texto é muito bom, mas eu penso e vivo o inverso do que está escrito nele. Descomplico a minha vida, fácil, fácil, desbloqueio os caminhos, não me preocupo com o futuro, apenas caminho, fazendo o meu dia- dia. O que vier será bem vindo e o que não vier, paciência, procuro buscar. Caso venha algo ruim, procuro aceitar , caso não possa resolver. Agindo assim, tenho mais momentos de tranquilidade. Um bom domingo e beijo.

anne | Email | Homepage | 16-10-2004 16:03:42
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Vc escreve muito bem... Parabens!!! Amei seu blog

Fabiane | Email | Homepage | 16-10-2004 12:57:42

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