quinta-feira, 3 de junho de 2010

[CRÍTICA] A Invenção da Mentira (The Invention of Lying, 2009)

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Dirigido por: Ricky Gervais e Matthew Robinson
Elenco: Ricky Gervais (Mark Bellison), Jennifer Garner (Anna McDoogles), Louis C.K. (Greg), Rob Lowe (Brad Kessler), Fionulla Flanaggan (Martha Bellison)


Já fazia um tempo que estava curioso pra conferir algo do Ricky Gervais, pois ouvi várias pessoas elogiando seu trabalho na versão britânica da série de The Office (que ainda não assisti). Aconteceu que "caiu na minha mão" este filme dirigido por ele, que ainda não estreou no Brasil, e do qual sabia muito pouco.

Algumas vezes na vida a gente se surpreende com algumas obras, especialmente por não esperarmos muito delas, e felizmente foi isto que aconteceu com este filme.

A premissa é muito simples: numa versão alternativa do nosso mundo, todas as pessoas, sem exceção, falam apenas a verdade. Ninguém sabe o que é mentir, até o dia em que um sujeito chamado Mark Bellison aprende a fazer isto.

Sim, vocês já viram o caso inverso da situação em O Mentiroso (Liar Liar, 1997), aquela comédia em que o personagem de Jim Carrey se torna incapaz de mentir. Mas aqui a idéia é mais ousada, e abrange o mundo inteiro, de tal forma que o filme proporciona uma experiência ao mesmo tempo surreal e muito engraçada.

Inicialmente tudo parece muito forçado. As pessoas praticamente jogam na cara uma das outras o que elas pensam de uma maneira quase robótica. Mas depois fica claro que a idéia era mostrar que ninguém naquele mundo é capaz de esconder qualquer pensamento que passe pela cabeça. Todos têm uma compulsão natural de botar tudo pra fora.

A idéia é muito bem explorada. Não se prende apenas em mostrar como as pessoas se comportam num mundo assim, mas também como toda a forma de expressão humana foi afetada por isto. Assim, temos pérolas como o primeiro diálogo entre Mark e Anna, em que, ao abrir a porta do apartamento para recebê-lo, ela já revela que estava de masturbando, no que ele responde, meio constrangido "Isto me faz pensar na sua vagina"; a propaganda da Coca Cola, que é genial (o dono da empresa apenas listando as características do produto e pedindo para as pessoas continuarem comprando, caso gostem); e fachadas de prédios que não tentam maquiar sua real função (ao invés de Asilo, temos "Um Lugar Triste Para Idosos Sem Esperança"), e por aí vai.

Outra ótima sacada é o fato de não existir qualquer obra de ficção naquele mundo. Todos os filmes se resumem a um cara sentado numa poltrona lendo descrições precisas de fatos históricos.

O humor segue o estilo britânico, um tanto seco, sem caras e bocas, e gags visuais, o que torna o filme mais engraçado pela seriedade com que situações insólitas e absurdas são aprensentadas. E Ricky Gervais tem um jeito discreto e peculiar de provocar riso, que não me recordo de ter visto recentemente, além de ser um ótimo ator, se destacando especialmente na cena em que tenta confortar a mãe (Fionulla Flanagghan, a Eloise Hawking de Lost) em seu leito de morte.

Jennifer Garner (a eterna Sidney Bristow de Alias) também se sai bem no papel de uma garota dividida entre a ambição de ser bem sucedida socialmente, e a vontade de abraçar seus sentimentos.

Além do casal principal, o filme é recheado de coadjuvantes, que vão desde Jonah Hill (de Superbad), interpretando um suicida que tem medo de se matar; Tina Fey (de 30 Rock), no papel da secretária que não esconde seu desprezo por Mark; e Edward Norton, que demorei um pouco pra reconhecer no papel de um policial, todos em pequenas pontas, mas boas o bastante pra justificarem sua presença.

Mas o melhor mesmo fica por conta de Ricky Gervais, que interpreta um típico looser, até o dia em que desenvolve a habilidade de mentir.

O amadurecimento do personagem é notável. Após contar sua primeira mentira ele não entende o que acabou de fazer, não sabe nem do que chamar aquilo, afinal, não há palavra no vocabulário daquele mundo para defini-la (outra ótima sacada da história). Mais tarde ele aperfeiçoa a habilidade, e passa a usá-la para proveito próprio. E não demora muito pra começar a enxergar seu mundo de outra forma, a ponto de querer consertar algumas coisas que ele julga erradas nele (num daqueles típicos clipes que ocorrem dentro do filme mostrando apenas o personagem ajudando várias pessoas).

O momento de virada da trama é genial. Basta dizer que, num mundo onde todos acreditam em tudo que os outros dizem, você tem que pensar muito bem antes de dizer pra alguém o que acontece após a morte. Daí pra frente a idéia de existir um único homem capaz de mentir atinge outra proporção, que culmina numa seqüência que é praticamente uma aula sobre como nasceram praticamente todas as religiões do mundo, e quão complicado é tentar agradar a todos com idéias que desafiam a razão. Tudo de forma bem humorada (a seqüência em que uma multidão passa a odiar o Homem do Céu, pra depois voltar a adorá-lo é ótima!)

Quem curte Monty Python, como eu, tem grandes chances de apreciar A Invenção da Mentira, além de outros trabalhos do Ricky Gervais (fiquei curioso pra conferir The Office depois de assisti-lo). É um filme pra quem gosta de um humor mais refinado, e que nos leva a pensar um pouco mais sobre quanta hipocrisia existe no mundo. Neste ponto ele cumpre muito bem sua função de entreter e levar o espectador à reflexão.

Tá, acho que eu me perdi um pouco nesta crítica (pra variar). A idéia era despertar o interesse de vocês para um filme que não causou muito alarde na mídia brasileira, a ponto de nem ter uma data para estréia aqui no Brasil, e que não é nada difícil de sair direto em DVD.

O que importa é que é um ótimo filme, foi uma surpresa muito agradável pra mim, e espero que também seja para quem for conferi-lo.

Um comentário:

  1. Esse filme realmente é muito bom, é uma pena aqui no Brasil sequer ser sair no cinema. Recomendei ele pra muitos amigos meus que, se não fosse por essa recomendação, nunca teriam ouvido falar nele, pois não teve nenhuma divulgação aqui. Eu mesmo só pude apreciá-lo pois ele passou em um canal do Cine Sky, agora quem não tem TV paga dificilmente terá acesso a esse filme senão baixando-o da internet, depois eles vem falar em pirataria... Não tem outra opção...

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