quinta-feira, 21 de agosto de 2003

[REFLEXÕES] A Longínqua Plenitude da Visão - Parte 1




Já pararam pra pensar no quanto somos dependentes de partes do nosso corpo para conseguir receber informações do mundo exterior, processá-las em nosso cérebro, e criar nossa própria interpretação do mundo no qual vivemos?

Dependemos de nossos ouvidos para ouvir uma pessoa chamando por nós, ou o som de um carro vindo em nossa direção, ou ainda o ruído do despertador quando estamos em um sono gostoso o qual não queríamos terminar.

Também precisamos de nossas mãos para sentir se algo está quente ou frio, se um tecido é liso ou áspero, ou simplesmente para sentir as mãos (e outras partes do corpo) da pessoa que amamos (se bem que, aqui, não são apenas delas que fazemos uso).

A língua nos permite não só sentir a grande diversidade de sabores presentes em um simples almoço, como também participa de um outro ato de amor (pelo menos na maioria das vezes): o beijo. Afinal, ele também não deixa de ser uma forma de recebermos informações do mundo exterior, pois até mesmo sua (seu) namorada (o) faz parte dele.

Ainda temos nosso nariz, ou, mais especificamente, nossas narinas, que nos ajudam a sentir o cheiro do almoço citado acima pouco antes de ele ficar pronto; do perfume da pessoa que amamos; ou do livro que acabamos de comprar (muitas pessoas gostam desse cheiro).

Até aqui eu falei de apenas quatro de nossos sentidos, e cada um deles mostra o quanto são dependentes dos "aparelhos" a que estão vinculados, isto é, de alguns de nossos órgãos. No caso os ouvidos, a pele(não se esqueçam que ela é um órgão), a língua, e o nariz.

Todos esses quatro sentidos estão restritos, e se encontram dependentes de partes de nossos corpos. Incluindo um em especial que deixei de fora da listagem inicial de propósito: a visão.

Assim como o tato, o olfato, a audição e o paladar, a visão também está vinculada a dois órgãos de nossos corpos responsáveis por enxergarmos o mundo exterior: os olhos.

Certamente a maioria de vocês já ouviu ou leu a expressão "os olhos são a janela da alma". Muitos já citaram-na em inúmeras obras, estudos, e praticamente todos os tipos de expressão artística. Talvez justamente por essa citação quase que exaustiva, hoje em dia boa parte das pessoas não lhe dá mais tanta importância. Mas, analisando-a de uma forma mais cuidadosa, algo que já foi certamente feito várias vezes, podemos encontrar nela mais sentido do que pensamos.

Não vou me atrever a dizer que nossa visão é o sentido mais importante do ser humano, mas certamente é um dos que mais se destacam, pois é através dele que recolhemos o maior número de informações do mundo exterior. Ao acordarmos, por exemplo, ele é um dos primeiros sentidos que usamos para começarmos um novo dia, e temos as primeiras impressões dele através dos olhos.

É também eles, os olhos, um dos órgãos que mais recebem estímulos provocados pela luz, refletiva ou gerada, por cada elemento que forma nosso mundo exterior, e captada por eles, afim de ser processada e interpretada pelo cérebro.

Os olhos realmente servem como janelas de nossa alma, ou, se preferirem, de nosso mundo interior: nossamente, nosso ser em si. Pois é através eles que, de dentro de nossas "casas mentais", podemos dar uma"primeira olhada" no mundo que se encontra fora delas.

Claro que para termos uma noção "completa" do mundo ao nosso redor é preciso uma comunhão de nossos cinco sentidos ou, melhor dizendo, uma sintonia entre eles.

Mas, como já foi observado anteriormente, nossos sentidos estão restritos apenas a partes de nosso corpo."Pedaços" dele responsáveis por recebermos diferentes tipos de informação do mundo no qual vivemos. Como se cada sentido estivesse "preso" a esses órgãos, aparentemente responsáveis pela existência deles.

Agora, uma pergunta a esse ponto bastante pertinente: nossos sentidos dependem dos órgãos a que estão vinculados para existirem?

Se pensarmos em uma existência corpórea, ou seja, em uma forma de existir da qual dependemos de corpos para usufruirmos de todos os tipos de sensações, visões, experiências, enfim, de todos os tipos deinformações que o mundo tem a nos oferecer, a resposta é "sim". Mas, pode não ser exatamente assim.

Nossos sentidos podem não depender de cada um dos órgãos responsáveis pelo funcionamento deles pra existir, justamente por essa razão: eles possuem a função de fazer com que nossos sentidos funcionem, e não de garantir a existência deles. O que nos leva a crer que a existência de nossos sentidos independe dovínculo com essas partes de nossos corpos. E não necessitando delas pra existirem, isso pode significar uma existência anterior ao estabelecimento dos vínculos entre eles e seus respectivos órgãos.

Se nossos sentidos não precisam dos órgãos a que estão vinculados, por que necessitam deles então? Talvez por essa ser a única forma dos mesmos se manifestarem em um mundo onde todos precisam de corpos feitos de carne, pele e ossos, ou melhor, feitos de matéria, pra ser mais exato. Mas, e se não precisássemos de nossos corpos para que nossos sentidos funcionassem? Ou melhor, e se não vivêssemos em um mundo no qual nossos sentidos precisam estar concentrados apenas em partes de um corpo, o que aconteceria com eles?

Já vimos que nossos sentidos podem muito bem ter uma existência anterior ao momento no qual eles precisaram se ligar a certas partes de nossos corpos para serem "ativados" em um mundo feito de matéria. Essa existência anterior pode também significar que, antes de se tornarem dependentes de um corpo eles possuíam uma existência imaterial. Assim sendo, se nossos sentidos fazem parte de nossos seres, e se estes últimos são a essência que move o corpo material, como o "combustível" do mesmo, logo, tudo leva a crer que nós, em essência, somos compostos de algo independente da matéria, assim como nossos sentidos.

Sem a necessidade de órgãos para restringi-los, nossos sentidos podem provavelmente ser mais expansivos, mais apurados, ou ainda, mais livres para atuarem. Assim, uma existência não dependente de um corpo pode significar uma capacidade maior de absorção das informações presentes no mundo exterior.

Mas, será que nossas mentes estão prontas para processar essas informações? O ser humano realmente se encontra em um estágio evolutivo no qual ele é capaz de ter uma visão mais abrangente do mundo ao nosso redor, de como ele realmente é de fato, e conseguir interpretá-la da maneira correta, sem ficar sequer com nenhuma dúvida sobre aquilo que está vendo com seus verdadeiros olhos? Não falo das duas esferas feitas de carne presentes em nossos corpos, falo dos olhos da alma, que podem não ser apenas pontos presentes nela, mas ela em si.

Nosso mundo está cheio de exemplos de seres vivos incapazes de enxergar nosso mundo com tamanha"fidelidade", como nós o enxergamos.

Existem certos insetos e animais que enxergam apenas o calor emitido pelos corpos ao seu redor, outros que enxergam apenas uma cor, ou duas, ou ainda os que têm uma visão multifacetada do ambiente. Além de alguns que só enxergam melhor na completa escuridão.

Cada um deles tem suas "deficiências visuais", se comparados à nossa visão, apesar de alguns possuírem visões até mais apuradas que a nossa, o que demonstra que também temos uma capacidade de enxergar o mundo que não chega a ser a melhor de todas. E muito menos o que há de melhor no campo da exploração desse nosso sentido.

Fatos como esse só nos mostram o quanto ainda podemos estar longe de termos uma visão completamente fiel àquilo que o mundo exterior realmente é.

O que sabemos é que temos uma visão tridimensional do mundo, que nos permite, por exemplo, classificar diferentes texturas, cores e formatos; saber a localização de um objetivo dentro do espaço; sua altura elargura; e também ter uma noção do quanto algo ocupa lugar dentro de um determinado ambiente.

Esses são apenas alguns exemplos do que uma visão tridimensional permite àqueles que a possuem, ou seja, nós seres humanos.

Mas, só porque enxergamos o mundo em três dimensões (altura, largura e profundidade), não quer dizer existam apenas elas.

Os físicos há muito consideram o tempo como a quarta dimensão que constitui o universo. Mas, mesmo sendo classificado dessa forma, isso não significa que podemos enxergá-lo. E essa é uma das muitas provas de que nossa visão é mais deficiente do que pensamos.

E esse quadro se torna ainda mais inquietante quando levamos em consideração recentes teorias que apontam para a possível, e quase provável, existência de muitas outras dimensões além das quatro com as quais os físicos já estavam acostumados a lidar.

Não pretendo me aprofundar mais do que isso nesse assunto, pois, para algo assim, eu necessitaria de um conhecimento maior de astrofísica e física quântica, o qual não possuo. Citei esses poucos exemplos apenas para demonstrar o quanto podemos estar errados ao pensarmos que enxergamos o mundo exterior como ele de fato é.

Nossa visão da realidade pode certamente corresponder apenas à "película" que envolve toda a sua estrutura, mostrando que ainda existem muitas camadas internas a serem exploradas de forma mais cuidadosa. E esse, provavelmente, será um caminho longo e cansativo de ser percorrido, pois tudo indica que ainda entendemos pouco daquilo que vemos. Portanto, queimar uma etapa, e ir para a próxima camada da realidade certamente seria uma tolice, e talvez, o que é bem provável, algo impossível de se fazer.


Continua...

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