quinta-feira, 10 de junho de 2004

[CONTO] Floresta

Mistic Dream

Uma brisa fria desliza por minha nuca, me dando calafrios...

Olho para os lados e noto os restos de uma civilização que já não existe mais, sendo consumidos pela vegetação, que parece absorvê-los, tentando tomar aquilo que um dia foi seu.

O tempo nublado complementa o cenário sombrio que se posta à frente.

A mata densa parece possuir uma força misteriosa, me chamando para seu interior.

Não tenho nada que me prenda aqui.

Evito olhar para trás, mas sei o que encontrarei por lá caso o faça.

Não há nada interessante o bastante para me fazer voltar. De fato, não existe nada para o qual retornar.

A decisão já foi tomada, e estou plantado aqui durante longos minutos apenas por mero capricho. Ou seria pelo medo do que encontrarei lá dentro?

Existem muitas entradas para essa floresta, e conheço muitas delas. Não sei exatamente por que escolhi essa. Só sei que há um motivo, mas ele não me interessa no momento.

Dou meu primeiro passo rumo ao corredor formado pelas imensas árvores que parecem dar as boas vindas àqueles que se aventuram em adentrar sua floresta. Ele parece se estreitar gradativamente mais adiante, pelo pouco que consigo ver daqui.

Ao pisar sobre o solo, noto a maciez que ele apresenta. Mais parece um tapete daqueles bem grossos e gostosos de se pisar.

Com um pouco mais de atenção, percebo que são as folhas recém-caídas das árvores que criam essa sensação. Elas, porém, são apenas a superfície do tapete natural. Curioso, agacho-me, e vejo que, embaixo delas, existem inúmeras camadas de folhas mais velhas, algumas secas, outras perdendo sua coloração esverdeada.

Penso que até no fim de suas vidas elas tiveram um papel especial.

Conforme avanço, a camada de folhas novas, gradativamente, cede lugar a um velho tapete formado apenas por suas antepassadas, estas mais secas e quebradiças. O barulho delas se quebrando sob meus pés ajuda a distrair minha mente, o que faz com que eu não me preocupe por alguns instantes com a jornada que acabara de iniciar.

A cada passo que dou a floresta parece se fechar ao meu redor.

Tudo fica mais abafado, mais terrivelmente silencioso, e o barulho dos meus pés sobre as folhas secas já não servem mais como distração.

Paro por alguns instantes, tentando ouvir qualquer som que me aponte um caminho, que me dê um foco, mas a floresta parece não querer dar uma dica sequer para aqueles que procuram explorá-la.

Olho para cada canto do local onde me encontro, e só vejo galhos se misturando uns com os outros, de cujas folhas tampam quase que completamente a pouca iluminação que parte lá de fora, já muito pouca graças ao tempo nublado.

Sinto que, bem aos poucos, a floresta parece tentar me consumir, assim como aqueles destroços que avistei em sua entrada.

De repente, uma leve brisa consegue chegar até mim. O farfalhar das folhas se chocando umas com as outras nos galhos logo acima são de uma força tranqüilizadora sem igual.

Começo a ouvir, bem de longe, alguns pássaros se comunicando uns com os outros, além de outros animais de cujos sons não consigo identificar, me impedindo de determinar quais são.

Finalmente, volto a respirar com mais facilidade.

Me sinto mais à vontade agora.

Não sou mais um mero visitante. Um corpo estranho nesse meio. Eu sou parte dele. Sou o próprio meio em si.

E a floresta retoma aquele que um dia foi seu...

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Comentários:

Faz tempo... muito tempo... Mas eu voltei lá... as fundações ainda existe, embora seja um arremedo do que um dia foram. Agora, não passa de um grande cemitério... um cemitério onde estão enterrados sonhos... mas AQUELE LUGAR ainda existe... eu estive lá...

Ceres | Homepage | 10-06-2004 15:35:56

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