sexta-feira, 11 de junho de 2004

[CONTO] Paisagem

Naiad

O tempo se fecha, deixando o ar mais frio.

O vento passando entre minhas folhas é como uma massagem. Me sinto mais leve com isso.

Não demora muito até que as gotas comecem a cair.

Elas limpam as pequenas impurezas que se acumularam durante o dia, escorrem por entre os veios das folhas, e caem no solo.

Parte delas lutam para se manterem acumuladas em bolhas d'água sobre as folhas secas. Outras preferem esquecer a batalha contra a separação e não demoram muito até se deixarem escorrer por entre as camadas do tapete de folhas, entrando diretamente em meu solo, que a absorve.

Finalmente posso me refrescar um pouco. Já faz tempo que não me molho tanto assim.

Compartilho parte da água que se acumula em mim, deixando que as raízes de minhas tão queridas árvores possam matar sua sede.

Tambem não deixo de fazer isso com as minhas pequenas plantas, obviamente. Afinal, cada vida, seja de qual tamanho for, que constribua para minha beleza, é de extrema importância pra mim. E todas, sem exceção, fazem esse papel por aqui.

A chuva de verão não dura mais que alguns minutos, mas é tempo suficiente para aliviar o calor gerado pelo Sol, que não demora muito para reaparecer, conforme as nuvens carregadas se vão.

Porém, não posso reclamar dele. É de seus raios luminosos que tiro o alimento de minhas filhas, as quais acolho com tanto carinho em meu solo.

É gratificante sentir o lento movimento de seu crescer. Seus galhos sempre tentando alcançar o céu. Suas folhas surgindo cada vez mais verdes, e suas flores desabrochando a cada dia mais belas.

Faço questão de acompanhar o desenvolvimento de tudo que brota do meu solo.

Me alegro muito em saber o quanto todas gostam daqui. O quanto minhas árvores se sentem felizes ao ter seus galhos chacoalhados por um vento mais forte.

Sou muito ligada a elas. E por isso, posso sentir cada pequeno pássaro que pousa sobre seus galhos.

Sinto prazer em acolhê-los. Deixar que eles construam seus ninhos, e abrir espaço para o surgimento de novas vidas, pois não quero que minhas filhas se sintam sozinhas.

É sempre bom ter companhia por aqui.

Não exito em deixar que todos os animais que vivem em meu interior comam dos frutos produzidos por elas. Ou que bebam da água que corre por meu rio.

Ah, e como é relaxante senti-la passar em um movimento constante por meu solo!

Cada ser que vive em meu interior é um motivo a mais pra eu me sentir feliz do jeito que sou. Pois todos são importantes para que tudo corra bem comigo.

Essa integração me fortalece. Esse respeito mútuo entre cada elemento que me constitui gera uma grande satisfação, que me mantém em um constante estado de felicidade quase plena.

Mas, ao olhar para fora, sinto que me falta algo, e sei exatamente o que é.

Como eu gostaria que eles também se juntassem a nós...

Aqueles humanos...

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Comentários:

Linda tua forma de escrita, tal a beleza dos textos. Fico perplexa com tanta imaginação. beijos.

anne | Homepage | 11-06-2004 20:56:55

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