sexta-feira, 11 de junho de 2004

[CONTO] A Pena

Sleep in the sand

Meu dono levanta vôo e não demora muito para que eu finalmente me desprenda dele quando começa a bater suas asas.

Lá no alto posso vê-lo se distanciando cada vez mais. Ele parece querer acompanhar o movimento das nuvens, enquanto eu me encontro em queda livre.

Não me sinto preocupada com isso, pois tudo é muito lento pra mim. E isto é bom.

Por tanto tempo sonhei com este dia. Não agüentava mais me sentir presa àquelas asas, tendo que ficar me esfregando o tempo todo com minhas irmãs, conforme o vento batia em nós.

Agora eu finalmente me sinto livre. Sinto que posso poder ir pra qualquer lugar, e com a certeza de que jamais serei obrigada a fazer parte das asas daquele mal-cheiroso.

Mas, no momento em que não consigo mais ver limites à minha frente, não sei exatamente o que fazer...

Por todo esse tempo em que fui prisioneira daquele corpo não havia reparado em como tudo daqui de cima é maior. Mais vasto...

É de se encher os olhos mesmo. E justamente por isso, não sei por onde começar.

Fui abandonada à sorte a partir do momento que me desprendi das asas de meu antigo dono, e talvez não seja uma má idéia deixar que ela decida meu próximo destino.

Assim, penso que o melhor a fazer é deixar que o vento me conduza até o início de minha primeira grande jornada.

Ele me joga de um lado para o outro...

No início é divertido, mas depois, tudo fica entediante demais. Tanto que começo a torcer pra cair em algum lugar logo e descansar.

Felizmente isso não demora muito pra acontecer, e acabo pousando em uma praia, onde fico cravada na areia.

Bem na minha frente posso ver o mar. Se estendendo por um horizonte que parece não ter fim, quase se confundindo com o céu acima dele.

É uma visão pra tirar o fôlego de qualquer um que pare para apreciar a paisagem, ao contrário da maioria, que se contenta apenas em vê-la.

Começo a gostar de ficar aqui, e ver o movimento calmo das ondas, que muitas vezes chegam até mim. E isso é bom, pois já fazia tempo que eu não sentia um pouco de água me banhando, tamanha a falta de higiene de meu ex-dono.

Finalmente, depois de um tempo, também começo a me cansar do lugar. Tudo passa a ficar repetitivo demais, e começo a torcer para que alguém me arranque daqui, e me leve pra outras paragens.

Olho para um lado, e não vejo uma viva alma. Olho para o outro, e nada.

Por fim, olho pro céu, e sinto um vazio dentro de mim. Começo a me lembrar das minhas irmãs, com quem provavelmente nunca mais me encontrarei...

De repente, quando tudo parecia caminhar para um chatíssimo momento de reflexão sobre minha vida como escrava daquele animal nojento, ouço uma grande onda se aproximando. Quando, enfim, volto meu olhar para as águas à minha frente, já é tarde demais...

...

A escuridão se dissipa...

Sinto meu corpo flutuar. As águas me carregam sobre si... Águas que se estendem ao infinito...

Acima vejo o céu, e sinto tédio só de olhá-lo. Abaixo, só há um mar que parece me convidar para conhecê-lo.

Finalmente percebo a ironia da situação: quando alguém como eu teria essa chance?

Na verdade, isso não importa.

Sempre detestei rotina...

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Comentários:

Passa no meu novo blog e deixa comementario!!!! Fui.

Isabelle | Homepage | 12-06-2004 21:39:27
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Oieee seu blog tah mto bonitinho!!!!!Te adoro! Passa no meu blog tb...bjos Calling Kisses

Isabelle | Email | Homepage | 12-06-2004 10:02:04
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Depende muito da rotina, afinal, isso é isso e aquilo é aquilo

Ceres | Homepage | 12-06-2004 03:14:41
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hmmm eu gosto de rotina....

Tabi | Email | 12-06-2004 02:54:27
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mais uma coisa, akele texto q escreveu no blog na anne é muito bom! Parabens! Fui!

4 Gø! 10 | Email | Homepage | 11-06-2004 22:55:38
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Muito legal seu blog! Muito bunito esses textos e as imagens.. Se puder, visite meu blog tbm!...

4 Gø! 10 | Homepage | 11-06-2004 22:44:30
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A rotina cansa mesmo, mas nem sempre conseguimos mudá-la. Belo texto e imagem. beijos e bom fds.

anne | Email | Homepage | 11-06-2004 21:04:01

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