domingo, 13 de junho de 2004

[DESABAFO] Esponja

Sponge

Às vezes queria ser como uma esponja.

Não uma esponja comum, ou, pelo menos, não em seu "estado natural". Ficar lá sequinha, parada, apenas curtindo seu momento de secura durante boa parte do dia. Talvez até conversando com os mosquitinhos que insistem em ficar pousados nas paredes de azulejo dentro do banheiro (especialmente no box).

Não, isso não seria interessante pra mim. Uma esponja seca é só uma esponja seca, e nada mais além disso.

Queria, sim, ser uma esponja molhada, mas não apenas molhada. Queria ficar embebedada. Encharcada mesmo. Mergulhada na água e me ocupar apenas disso: de absorver toda a água que me fosse possível em meu corpo esponjoso.

Mas, na verdade, o importante não seria nem ser uma esponja, mas ser qualquer coisa que tentasse absorver o meio no qual se enfiou. Absorver o ambiente no qual está. Se entregar a ele.

Minha vontade era justamente me prostituir para o meio, e não absorvê-lo, mas sim deixar que ele me absorva, de forma que eu não mais tenha que me preocupar com o fato de ser uma esponja. Não uma esponja novinha em folha, mas uma esponja suja, fétida, cheia de pêlos e cabelos presos ao meu corpo, e impurezas, e todo o tipo de coisa suja que se impregnou com o tempo em mim.

Assim, ao invés de me prostituir àqueles que não querem de mim nada além de ficarem se esfregando com o meu corpo, de me usarem para seus propósitos mais estúpidos, livrando seus corpos da imundice do mundo ao qual pertencem, me prostituiria para algo mais limpo, mais puro (até certo ponto, claro), e mais agradável para se conviver.

Deixaria, assim, de me lembrar do ser horrendo no qual me transformei com o tempo. Deixaria de me lembrar do ser puro e lindo que um dia fui. Da esponja limpinha, clarinha e cheirosa que o tempo procurou destruir. Que meus donos procuraram usar à exaustão.

E agora estou aqui, desgastado, infeliz, e me sentindo esgotado, como a esponja, que ao tomar consciência de sua inutilidade, preferiu se deixar absorver pela água, e não o contrário, pois não queria mais se sentir esponja, mas sim um nada que o meio absorveu para si, tendo um pouco de importância no fim de sua vida...

Nenhum comentário:

Postar um comentário