sexta-feira, 27 de agosto de 2004

[CRÔNICA] "E aí? Beleza?"

Acontece que tem um tópico que há muito tempo me incomoda, e com o qual lidamos dia após dia: o cumprimento.

Não sei se já notaram, mas, comigo, na maior parte das vezes que alguém me cumprimenta, não sinto o mínimo de sinceridade nas palavras que ouço.

Um "oi. tudo bem?" não passa de três palavras. Vazias, sem qualquer entonação que demonstre preocupação da pessoa comigo. E isso me incomoda profundamente.

Não estou acusando ninguém de falso, mesmo porque meus cumprimentos também são, em sua maioria, frios. Faço-os meramente por obrigação, educação, e uma convenção idiota criada pela sociedade. Do tipo que um sujeito, em um dado momento de sua vida infeliz, teve a "brilhante" idéia de dizer que se alguém não te cumprimenta ao se encontrar com você pela primeira vez naquele dia, tudo indica que esta pessoa não vale nem a sola do sapato que gastou pra percorrer o caminho que o levou até você.

E esse é o grande problema. Tudo que é imposto acaba saindo de "qualquer jeito" quando executado. As eleições estão aí pra nos lembrar disso.

A gente se vê obrigado a votar em um sujeito dentre um punhado de caras de cuja maioria não sabe nem o que está dizendo, pra descobrir, mais tarde QUE ERA ISSO MESMO!!

Maravilhoso, não? Os caras estavam lá só jogando um punhado de palavras na nossa cara pra tentar nos convencer de que estavam preocupados conosco, quando queriam só dar um jeito de trocar o carro, comprar uma casa nova, ou pagar o silicone da mulher.

E voltamos para o "oi, tudo bem?".

Aqui temos basicamente a mesma coisa.

Alguém, ao se encontrar com você pela manhã de uma segunda-feira (e só pelo fato de ser uma segunda-feira, a coisa fica mais evidente), joga um "oi. tudo bem?". E o troço mais "surrealista" da situação, é que, na maioria das vezes, você nem responde a pergunta. Tu acaba empurrando pra pessoa um "tudo bem?".

Responder uma pergunta com outra pergunta?!

Pois é. Pode parecer idiota dizer isso, mas é justamente o que acontece.

Parecemos dois robôzinhos conversando entre si tendo um número limitado de expressões disponíveis em nossas memórias que podemos usar em um "diálogo". Daí, em meio as "poucas" opções que possuímos, escolhemos responder a pergunta com... outra?!

Tem algo de errado com essa programação aí...

Aliás... programação?!

Sim sim. Essa é a triste verdade.

Não há mais sinceridade em nossas palavras. Isso anda tão em falta hoje em dia que, logo nas primeiras palavras que trocamos com alguém, a gente já inventa de entrar no "modo automático", e deixar que um"sistema de escolha aleatório" decida qual a melhor forma de responder uma pergunta que já faz parte de um dos nossos "atos inconscientes".

É como nosso estômago. Não precisamos dizer: "digere essa carne mal-passada que eu acabei de engolir, seu traste!". Ele faz isso sem que a gente mande, pois "sabe" que precisamos que aquele monte de carne mastigada seja digerida, pra obtermos energia, e sustentarmos nossa vida.

Mas, somos mesmo um pedaço de carne sem consciência?!

Cadê a opinião própria nisso tudo?! Cadê o livre arbítrio, que nos permite responder que a nossa vida tá uma porcaria, e que achamos nosso emprego a coisa mais triste e desumana que existe na face da Terra?! (tá, exagerei um pouco)

Por que a gente precisa se sentir na obrigação de perguntar se a pessoa está bem, se tá tudo "beleza" com ela, quando a maioria de nós é bem um bando de egoístas que tá pouco se lixando pro que passa na vida dos outros?! (Big Brother não conta, porque só assiste quem não tem porcaria nenhuma pra fazer)

Que sentido existe em fazermos uma pergunta que não será respondida, porque andamos tão preocupados conosco mesmos, que preferimos jogar (literalmente) outra, já que não temos tempo pra dar satisfações sobre nossas vidas a alguém que, na maioria das vezes, também não tem tempo (nem vontade) de saber o que anda "rolando" com a nossa?

...

Mas... E aí? Beleza com vocês?

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Comentários:

BOA THIAGO XDDDDDDDDDDDDDDDDDDDD...... Beleza, wolvii!?!? XD .......... Sabe, acho que eu concordo com você! o_ô Na internet, principalmente, somos maquinas de "Oi tudo bom?" "tudo e vc?" "Tbm... news?" "Nada... e vc?" "nd tbm i.i" E sabe MAAAIS uma coisa? Se alguem chega "Aeeee, beleza?" e nós, sinceros, dizemos "NÃO!!" a pessoa se assusta e sai de fininho... o_o... viaagem /o\

Lola | Email | 30-08-2004 21:58:23
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O cumprimento mais sincero que conheço é um "Oooopaaaaaaaaa" ( seguido de um arroto porco e grosseiro ) daqueles 'tiozinho' da roça, dai o cara levanta a mão pra encerrar o cumprimento - quando não dá um tapão nas costas da gente. Isso sim é cumprimento de quem realmente se importa com a gente e nos torna felizes. Q idiota!

Thiago | 28-08-2004 01:26:39
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Tem um episódio de Seinfield que ele se questiona quanto a validade dessa palhaçada toda e deixa de cumprimentar as pessoas com três beijinhos. Resultado: ele quase é expulso do prédio onde mora. As pessoas são programadas sim, e arriscam suas vidas para manter essa programação. Ou você acha mesmo que o Morpheu tava mesmo falando da Matriz? O pavor do desconhecido é tão grande que guerras começam por esse motivo: manter a sua programação. Ou você pode também fazer como eu: quando alguem te cumprimentar, dar um resmungo ininteligivel. Você não respondeu a essa bobagem toda e a pessoa não pode reclamar que ficou sem resposta... ah é... eu não sirvo de modelo pra porra nenhuma, esqueci disso... ok, plano B: cumprimente-os. Mas cumprimente-os de verdade! Com direito a perguntar como vão as crianças e tapinha nas costas. TEnte isso por um dia e você vai notar a diferença. Jogue o jogo deles. Hahahaha

C | 27-08-2004 20:33:26

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