segunda-feira, 12 de maio de 2003

[CONTO] O Casulo



Era uma vez uma lagartinha q tinha acabado de sair do seu ovinho. Assim q fez isso, ela começou a caminhar pela terra e pelas árvores da floresta a procura de folhinhas para se alimentar e crescer forte e saudável.

Comia q comia. Se abarrotava de folhinhas. Dali a um tempo, tirava um tempinho pra descansar, fazer a digestão, e voltava a comer mais.

Nessas ela passou por vários e vários lugares da floresta, em busca de folhas de diversas variedades. Afinal, mesmo ainda muito novinha, ela tb se cansava de comer sempre do mesmo tipo de folha. E assim a lagartinha fez uma viagem por boa parte da floresta. Percorreu distâncias muito grandes para o tamanho dela, mas, mesmo assim, ainda faltava muito pra conhecer toda a floresta.

Um dia, quando ela achou q estava muito bem alimentada, e q já tinha andado demais, o suficiente pra comer folhas de diversos tamanhos, formas e sabores, ela resolveu criar um casulo ao seu redor, para, dentro dele, descansar um pouco. Passar um tempo por lá até ela voltar a ficar com mais fome ainda, e mais ânimo para caminhar por novos locais da floresta e procurar por folhas ainda mais diferentes das q ela já havia comido. E por lá ficou...

Passaram-se semanas, meses, e a lagartinha continuava no casulo. Ela o achava muito confortável, quietinho. Nada nem ninguém poderia incomodá-la. Só nele ela encontrava aquela paz toda, pois ela sabia q, por mais q ela gostasse de caminhar pela floresta, esta ainda era cheia de ruídos q às vezes cansavam, incomodavam.

Nessa época, muitas foram as vezes q ela pensou em como seria bom se, por algum tempo, ela pudesse estar em um lugar silencioso, calmo e tranqüilo, sem nenhum ruído, e nada para incomodá-la. E só agora ela percebia o quanto era bom estar em um lugar assim, dentro de seu pequeno, mas aconchegante casulo.

Mas, conforme o tempo foi passando, ela sentia q algumas coisinhas mudavam nela. Sentia q estava passando por uma transformação, mas não sabia bem pq. Seria por alguma folha q ela comeu? Ou pq já estava a muito tempo no seu querido casulinho? A resposta ela ainda não sabia. Aliás, nem sequer sabia o q estava mudando nela, pois dentro do casulo nada ela podia ver. Apenas um grande nada, q ela acaba sempre preenchendo com seus pensamentos sobre a floresta lá fora, ao se lembrar das longas caminhadas q fazia em busca de folhinhas diferentes.

E passou ainda muito tempo. E a lagartinha só pensava e pensava. Recordava-se da floresta lá fora, relembrando-se de cada detalhe, de cada árvore pela qual passou, de cada pedrinha da qual ela teve q se desviar para continuar o seu percurso, de cada novo animalzinho q ela conheceu na sua longa viagem. Fez inclusive algumas amizades, sendo q a amiga q ela mais gostava era uma borboletinha jovem, q havia acabado de aprender a voar quando a conheceu.

Ah, dessa ela se lembrava muito bem, pois foi a única amiga de quem ela se despediu antes de criar seu casulinho. Várias e várias vezes a lembrança da borboletinha q iria ficar esperando por ela lá do lado de fora passava pela sua cabeça. Mas, mesmo assim, ela ainda gostava muito do casulo para deixá-lo. Abandonar aquele lugar tranqüilo e seguro não era uma idéia q lhe agradava.

Porém, um dia, sua curiosidade e, especialmente, sua saudade q sentia da amiga, bateu mais forte, e ela resolveu olhar para o lado de fora do casulo, mas só olhar. Quando ela fez isso, teve uma triste surpresa. Encontrara, bem pertinho dele, sua amiguinha borboleta, morta, sendo carregada pelas formigas.

Ela ficou tão chocada q sua única reação foi voltar para dentro do seu casulo, e ficar parada, por horas, tentando entender o q tinha acontecido. Mas antes mesmo de ela chegar a uma conclusão, as lágrimas começaram a cair de seus olhos.

Não eram apenas lágrimas de tristeza, mas tb de desespero e de insegurança.

A floresta lá fora, q antes só era muito cheia de barulho, agora se tornara perigosa demais diante dos seus olhos. Tão perigosa q até sua maior amiga tinha morrido, bem ao lado do seu querido casulo.

Ela não conseguia entender como as coisas puderam mudar tanto enquanto esteve dentro dele. Na verdade ela nem sabia se a floresta tinha ficado assim enquanto ela estava protegida de tudo ao seu redor, ou se as coisas já eram daquela forma mesmo antes de criar seu casulinho.

A confusão, a tristeza e o medo fizeram com q a lagartinha continuasse lá dentro ainda por muito tempo, tanto q ela até esqueceu q existia uma floresta imensa fora dele. Pensou tanto a respeito disso no início de seu isolamento, q agora nem conseguia mais pensar. Se contentava apenas em ficar por lá, sem fazer nada. Só contemplava o grande vazio q enxergava à sua frente, embora, na realidade, não houvesse vazio algum dentro do casulo, pois ela o preenchia completamente.

Foi então q, um dia, alguém bateu no casulo. "TOC TOC"

A lagartinha ficou assustada. Nunca havia acontecido isso antes. Ela já havia até esquecido q existia muita coisa além do casulo onde vivia. E, conforme suas lembranças voltavam, seu medo aumentava, e ela ficava mais pensativa e preocupada.

Pensou tanto q um minuto se passou e, novamente, o "TOC TOC" foi ouvido.

O barulhinho, tão comum, para ela mais parecia uma assombração. E a insistência das batidas, q se tornavam mais freqüentes, fazia com q mais freqüentes e intensos se tornassem os medos da lagartinha, q tapou os ouvidos, resolvendo ignorar o barulho, esperando q fosse apenas mais um dos seus sonhos, q já há alguns meses, estavam se tornando cada vez menos freqüentes.

Minutos se passaram, e por mais q a lagartinha tentasse não escutar os barulhos, mesmo tapando os ouvidos, ela ainda conseguia ouvir as batidas do lado de fora do casulo. Sim, elas continuavam.

Depois de um tempo, q pra lagartinha pareceu uma eternidade, seu medo foi diminuindo, pois ela já estava começando a se acostumar com as batidas, q nem pareciam mais tão aterrorizantes quanto antes. E conforme seu medo diminuía, sua curiosidade em saber quem ou o q estava batendo do lado de fora, aumentava.

Ainda estava muito pensativa, pesando os prós e os contras, e tentando encontrar a melhor decisão a ser tomada.

Olhar do lado de fora do casulo, ou continuar ali, esperando q uma hora as batidas parassem?

Ela até esperou ainda um bom tempo, pensando q quem estivesse batendo se cansasse. Isso se fosse mesmo alguém, ao invés de algo. Mas foi ela q acabou se cansando de esperar, enquanto as batidas, ao contrário, se tornavam cada vez mais firmes e insistentes.

O medo de olhar para fora do casulo ainda existia, mas estava praticamente encurralado pela curiosidade da lagartinha. Assim, ela resolveu finalmente dar uma espiada.

Abriu um buraquinho no casulo, olhou pra fora e se surpreendeu com o q viu.

Era uma borboletinha. Muito parecida com a sua amiguinha, q já havia morrido há muito tempo. Porém, essa era ainda mais bonita q sua antiga amiga, e maior tb. Tinha umas asas enormes, anteninhas arrebitadas, e pernas bem longas.

A lagartinha ficou encantada com a visão. Tanto q não conseguiu dizer nada. Ao contrário da borboletinha q, apesar de surpresa, resolveu falar.

Ela disse q vivia naquela floresta já fazia um bom tempo, e q sempre passava por ali em suas "voadas matinais". Toda vez q fazia isso, ela ficava olhando, intrigada, o casulo onde a lagartinha vivia, e se perguntava como seria ela quando saísse.

Meses e meses se passaram e, vendo q aquele casulo ainda continuava lá, intacto e inerte, ela resolveu descobrir o q acontecia. Pq a lagartinha ainda não tinha saído. Por isso, ela resolveu bater e acabar com as dúvidas q tanto a atormentavam durante seus passeios pela floresta.

Depois de ouvir atentamente a história da borboletinha, a lagartinha criou coragem, e resolveu explicar o motivo.

Disse q não saía pq no casulo ela mais confortável, mais calmo e menos perigoso q na floresta, e q preferia ficar lá dentro, tendo essa paz toda, do q fora, enfrentando todos aqueles problemas chatos.

Ao ouvir as explicações da lagartinha, a borboletinha disse q tb gostou muito quando ela criou o seu casulo, mas q achou melhor ainda quando saiu dele. Falou das maravilhas q viu voando pela floresta, dos lugares, animais e insetos novos q conheceu com tamanha empolgação, q os olhos da lagartinha chegaram a brilhar por alguns instantes enquanto escutava a sua visitante.

Mas a lagartinha retorquiu, e disse q, apesar de parecer muito legal tudo aquilo, não significava nada pra ela, afinal, ela não tinha asas como a borboletinha.

A borboletinha ficou muito surpresa depois q ouviu a lagartinha. Achou estranho ela dizer aquilo. Pior ainda, achou q era impossível tudo aquilo q ela disse. Afinal, onde já se viu alguém sair de um casulo sem asas?

A lagartinha não entendeu o motivo da revolta da borboletinha, e perguntou o q ela queria dizer com tudo aquilo.

Mesmo estando mais confusa q a lagartinha, a borboletinha disse q o motivo era óbvio, pois toda a lagartinha q entrava no casulo, quando saia dele ganhava asas.

Porém, isso fez a lagartinha ficar ainda mais confusa, e ela perguntou como era possível tudo isso. Simplesmente não conseguia entender de qual maneira ela poderia ganhar asas quando saísse do casulo.

A borboletinha tb não sabia explicar, por isso, apenas disse pra lagartinha sair. Assim, ela veria com seus próprios olhos.

Só q pra lagartinha aquilo tudo parecia estranho demais. E mais estranho ainda seria se ela acreditasse nas palavras de uma estranha q acabara de conhecer. Por isso mesmo, ela disse q não sairia de jeito nenhum.

A resposta da lagartinha até fazia sentido pra borboletinha. Mas ela ainda não achava certo deixar q sua "recém-conhecida" continuasse no casulo, e deixasse de descobrir q ela tb ganharia asas quando saísse. Por isso insistiu. Porém, ela não tocou no assunto das asas, e sim fez uma pergunta pra lagartinha:

- Pq vc tem tanto medo de sair? Eu sei q aqui fora às vezes é perigoso, mas não chega a ser tanto assim. E pode ter certeza q é bem mais agradável q o seu casulo, pois os lugares lindos onde vc pode ir, e as pessoas novas q vc pode conhecer acabam fazendo vc se esquecer de problemas como ruídos, por exemplo, q vc acaba achando até bem bobos com o tempo.

A lagartinha pensou e pensou. Achou e a borboletinha podia estar certa, mas ela ainda achava melhor ficar dentro do casulo e se prevenir. Disse q ainda não era a hora de ela se arriscar lá fora.

Um pouquinho impaciente, a borboletinha disse, com todas essas palavras:

- Como assim "ainda não é a hora"?! Vc está nesse casulo a mais tempo do q eu consigo me lembrar. Já está mais do q na hora de sair dele. Pq não se arriscar? O q vc tem a perder? Tem medo de perder a vida aqui fora? Pois saiba q todos os dias morre alguém por aqui. Todos. E pode ser q amanhã seja tanto eu quanto vc. E não vai ser um casulo q irá impedir q a morte chegue até vc. Pq uma hora vc não vai ter mais como se manter aí dentro. Pode até ser q alguma coisa aconteça com o seu casulo. Por exemplo, q ele caia no chão, e se quebre, e vc morra com a queda. Mas a vida é assim mesmo. Nada se consegue se, de vez em quando, vc não se arriscar. E ficando aí dentro, esperando q "algo" aconteça para q a "hora certa" de vc sair chegue, com certeza não conseguirá nada.

- Olhe bem para essas asas - disse a borboletinha - Vc acha q eu as teria conseguido se não saísse do meu casulo? Acha q eu estaria voando de um lado para o outro, conhecendo muitos lugares e pessoas se eu não tivesse saído dele? Claro q não. E é justamente isso q vc está fazendo. Olhe ao seu redor e veja quanta coisa vc está perdendo, e quanto tempo da sua vida vc está desperdiçando ficando aí, "se protegendo" da floresta, com medo de acabar como a borboletinha q morreu ao lado do seu casulo.

- Como vc sabe disso?! - perguntou, surpresa, a lagartinha.

- Pq ela era a minha irmã.

- Sua irmã?! - indagou a lagartinha, mais surpresa ainda - Então é por isso q vc é parecida com ela...

- Sim, isso mesmo. Viu só? Minha irmã morreu aqui. Uma pessoa de quem eu gostava muito. Garanto q mais até do q vc gostava dela. Pq eu sei q vcs se conheciam. Ela falava muito de vc na época. E nem por isso eu continuei dentro do meu casulo. Sim, pq, quando ela morreu, eu ainda era uma lagartinha como vc, mas já sabia das coisas. Fiquei muito triste quando soube da morte dela, mas não fiz disso um motivo para continuar no meu casulo. Muito pelo contrário, eu usei isso como um incentivo a mais. Não via a hora de sair dele, ganhar minhas asas, e sair voando floresta afora. Sabe pq? Pq eu queria fazer tudo q minha irmã deixou de fazer. Tudo q ela iria fazer se continuasse viva até hoje. Fiz esse juramento pra ela antes de entrar no meu casulo.

A lagartinha, ao ouvir tudo aquilo, assim como há muito tempo atrás, quando acabara de ver sua amiguinha morta, derramou lágrimas. Mas não eram apenas lágrimas de tristeza. Acima de tudo ela sentia vergonha do q havia feito de sua vida depois daquilo. De como ela foi tão estúpida a ponto de se isolar de tudo ao seu redor, e se fechar em seu casulo, pensando q ele era a única coisa q importava.

Vendo a lagartinha tão triste e deprimida, a borboletinha se aproximou dela, lhe enxugou as lágrimas, e estendeu-lhe a patinha.

Ainda com os olhos marejados, a lagartinha lançou um olhar regado de tristeza e angústia para a borboletinha, depois se voltou para a patinha estendida dela, e em seguida para dentro do seu casulo. Ficou olhando pra ele longamente, até q um raio de sol vazou por dentre as folhas da árvore onde o casulo se encontrava, batendo bem sobre o seu rosto, e neste instante ela se lembrou da floresta ao seu redor. Olhou toda aquela variedade de formas e cores, ouviu os diferentes sons, dos mais próximos aos mais distantes. Acima viu o céu azul, salpicado de nuvens q mais pareciam algodão, e abaixo as formigas carregando folhas. Todas ela já tinha comido quando ainda era uma lagartinha jovem.

Novamente ela se voltou para a borboletinha, esboçou-lhe um lindo sorriso, enquanto passava a segurar a patinha dela, e saiu do casulo, lentamente. Neste instante, lindas asas de um azul celeste se abriram às suas costas. As duas sorriram uma para a outra, apertaram as patinhas e saltaram da árvore.

Aquele foi o melhor vôo q a "borboletinha do casulo" fez em toda a sua vida...


Aqui me desanexo...

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Comentários:

Ah, poderia ter ficado melhor. Mas foi vc q me inspirou pra escrevê-lo! ^_^ Tenho certeza q de agora em diante vou escrever textos ainda melhores, pq fonte de inspiração é algo q não me falta agora. Um beijo. Té mais!!!

Wolv | Email | 14-05-2003 00:29:42
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Lindo, morr *_* adurei, c escreve toon bain^^ bem, to indhuuu

Lolo--Shion | 13-05-2003 13:52:49

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