sábado, 3 de outubro de 2009

[REVIEW] A Marvel fora da Invasão Secreta - Parte 3: Homem de Ferro

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Desde a saga Guerra Civil o Homem de Ferro virou um dos maiores alvos dos holofotes do Universo Marvel. Como principal defensor da Lei de Registro de Super-Humanos, Tony Stark vem sendo considerado por muitos como um sujeito arrogante, um tanto prepotente, metido a sabe-tudo, um bilionário enobe, ou ainda um futurólogo que se acha dono da verdade.

Logo após a saga o herói passou por uma breve fase em seu título solo onde os escritores Daniel e Charles Knauff procuraram enfocar o lado mais humano do herói, mostrando-o como alguém que vivia uma crise de consciência por ter escolhido se voltar contra muitos de seus antigos companheiros em defesa do que acreditava ser o melhor para o futuro dos super-heróis dos Estados Unidos. Tony Stark foi retratado como um sujeito amargurado, que se sentia com o peso do mundo nas costas, e cheio de um desejo desesperador de provar que estava certo, apesar de tudo.

Tony Stark sempre foi um homem de muitas facetas. É o empresário, o industrial, o gênio inventor, o super-herói, e, após a Guerra Civil, ganhou mais uma delas, se tornando o diretor da SHIELD. A fase de Daniel e Charles Knauff focou-se mais neste aspecto, nos apresentando histórias que oscilavam muito em termos de qualidade, chegando a uma média final regular.

Após o lançamento de seu filme ano passado, a Marvel optou por dar uma nova revitalizada no personagem (antes ela já havia pedido a Warren Ellis para atualizar a origem do personagem, sobre a qual eu falei bastante aqui), criando um novo título pra ele, daí ressurgiu O Invencível Homem de Ferro (The Invincible Iron Man, no original), com histórias mais voltadas para o lado super-heróico de Tony Stark, e com várias referências retiradas diretamente da adaptação cinematográfica. A tarefa ficou nas mãos do escritor Matt Fraction e do desenhista Salvador Larroca.

O primeiro arco já começa promissor, apresentando uma premissa simples, mas que toca num ponto pertinente levantado pela seguinte questão: o que aconteceria se a tecnologia do Homem de Ferro fosse desvendada e barateada, a ponto de tornar-se descartável e à disposição de qualquer um que quisesse usá-la para seus próprios fins? É através da figura de Ezekiel Stane, filho de Obadiah Stane (o vilão do primeiro filme), um dos maiores inimigos de Tony Stark , que temos a resposta.

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Ele só quer vingança, e se divertir muito com isto

Ezekiel alcança um novo patamar de ameaça ao transformar homens em verdadeiras fontes de energia super-econômicas. Usando engenharia reversa em sucatas provenientes de armaduras do Homem de Ferro avariadas em combate, compradas no mercado negro, o rapaz encontra um meio de converter seres humanos em raios repulsores vivos, ou melhor, bombas repulsoras, sem a necessidade de fontes externas de energia. A idéia de converter a energia economizada pelo corpo humano em poder explosivo é ótima!

Outro detalhe que merece elogios é a construção narrativa da primeira parte do arco, inteiramente feita com base nos cinco maiores pesadelos de Tony Stark. Cada um é apresentado no decorrer da história contribuindo na criação de um clima de tensão crescente.

Matt Fraction também demonstra que foi bastante a fundo em seus estudos sobre o personagem, algo que nota-se na forma como mostra a mente de Tony Stark trabalhando: sempre tentando ficar um passo à frente, procurando antecipar eventos com base em probabilidades, e fazendo notas mentais para uso em futuras pesquisas e experimentos de aprimoração tecnológica, isto tudo até durante as batalhas.

E o autor, que parece ser um grande fã do herói, ainda faz bom uso da alta tecnologia à disposição de Tony Stark, como na cena em que o vemos trabalhando num programa secreto de monitoramento de todos os heróis e vilões usuários de armaduras tecnológicas espalhados pelo planeta. Ou naquela em que é mencionada a inexistência de um "suporte técnico" exclusivo da armadura do Homem de Ferro, fato que o obrigada a realizar autodiagnósticos periódicos sempre que nota pequenas distorções em seu funcionamento.

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Tony e sua preocupação com o uso de tecnologias derivadas de seus inventos

Outra que merece destaque é a seqüência que demonstra com mais clareza a idéia de que o grande objetivo de Tony Stark, ao criar o Homem de Ferro, foi estender os sentidos humanos através da tecnologia: ele e a armadura alcançam um nível de integração tamanho que, ao acessar a constelação de satélites da Starktec, se torna capaz de lutar contra membros da IGA (Idéias de Genocídio Avançadas) ouvindo um concerto de Bach, enquanto acompanha uma apresentação da filial inglesa das Indústrias Stark, ouve os lances de um jogo de beisebol, monitora um satélite prestes a ser invadido por um hacker, e retransmite dados de desempenho da armadura para sua diretora de operações, tudo isto em questão de segundos.

As histórias de Fraction ainda reservam espaço para reflexões filosóficas e políticas referentes à era em que vivemos, onde o avanço tecnológico ameaça lançar a humanidade em uma nova onda de ataques terroristas e guerras inimagináveis, o que ajuda o leitor a se envolver mais com a trama ao encontrar "ecos" de nosso mundo na ficção inteligente que conseguiu criar.

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Ataque de uma das bombas repulsoras humanas de
Ezekiel Stane à filial de Valência das Indústrias Stark

Outra bola dentro do escritor é a forma como trata a relação entre Tony e Pepper, mais uma conseqüência do filme, que deu grande destaque à personagem, interpretada por Gwyneth Paltrow. Fraction faz uso de uma ironia trágica para lançar o relacionamento do casal a um novo nível de envolvimento, tornando-os ligados por um fator em comum, e reforçando o papel fundamental da tecnologia sobre a vida das pessoas mais íntimas de Stark. Basta dizer que agora não apenas Jim Rhodes (a.k.a. Máquina de Combate) é um exemplar dos híbridos humanos/máquinas criados por Tony Stark.

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Cena meiga: Tony ensinando Pepper a voar até
ser interrompido pela vaca da Maria Hill

Mas tais histórias não teriam o mesmo brilho se não contassem com os desenhos de Salvador Larroca, um desenhista espanhol que, a exemplo do protagonista das mesmas, vem se aprimorando a cada novo trabalho.

Lembro-me dos primeiros trabalhos que li desenhados pelo Larroca, onde ele emulava o traço de Jim Lee, quando este ainda era muito aclamado (hoje em dia seu traço perdeu-se no meio de tantos "sósias"). Mais tarde aderiu a um estilo semelhante ao seu conterrâneo, Carlos Pacheco; teve sua fase influenciada pelos mangás; mas agora ele finalmente atingiu a maturidade, criando um estilo próprio, fotorealístico até certo ponto, que ainda assim consegue manter-se fluido e dinâmico, o que confere às cenas de ação o ritmo adequado e a clareza necessária para acompanharmos cada um de seus lances. Além disto Larroca é um ótimo desenhista de máquinas, requisito fundamental para as histórias do Homem de Ferro.

Mas Larroca é um desenhista que depende muito de um bom colorista, já que não faz muito uso de sombras e hachuras em seus desenhos. Felizmente ele conta com o ótimo Frank D'Armata, que soube usar os tons certos pra dar peso à arte do rapaz, fazendo uso de uma paleta de cores que confere mais realismo às cenas, e um visual cinematográfico às histórias.

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Tá na hora de virar o jogo, Tony!

Restando apenas mais um capítulo para sua conclusão, o arco "Os Cinco Pesadelos" tem se mostrado tenso, com suspense, ação e ficção-científica muito bem equilibrados em uma narrativa excepcionalmente bem conduzida por Matt Fraction e Salvador Larroca. O penúltimo capítulo, publicado mês passado em Avante, Vingadores! 33, mostrando a primeira luta direta entre Tony e Ezekiel, é empolgante o suficiente pra deixar qualquer leitor ansiosíssimo pra conferir o desfecho.

Homem de Ferro de Fraction e Larroca vem sendo publicado no Brasil desde Avante, Vingadores! 30. Torço para que a dupla ainda tenham muitas histórias pra contar. Os apreciadores de boas narrativas em quadrinhos agradecem.

E na 4ª parte desta série falarei sobre o Motoqueiro Fantasma de Jason Aaron. Até lá!

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