segunda-feira, 12 de outubro de 2009

[REVIEW] A Marvel fora da Invasão Secreta - Parte 4: Motoqueiro Fantasma

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Dono de um dos visuais mais bacanas e inspirados dos quadrinhos, o Motoqueiro Fantasma vinha penando numa fase bobinha, e quase inteiramente descartável, pelas mãos do escritor Daniel Way. Era daquele tipo de história em que a gente dava uma corrida de olho nas páginas e 10 minutos depois já estava lida. Nada que fosse horrível a ponto de dar desgosto, mas nunca chamou minha atenção.

A premissa de toda a sua fase como escritor era a seguinte: Johnny Blaze passou uma temporada no Inferno, conseguiu escapar de lá, mas veio em seu encalço o próprio Lúcifer, que, por algum acidente de percurso entre os dois mundos, teve sua "essência" fragmentada em 666 partes. Essas partes se espalharam pelo mundo, e tomaram posse dos corpos de um número igual de pessoas. Assim, a missão do Motoqueiro era eliminar todos os 666 hospedeiros do diabão e mandá-lo de volta pro Inferno.

Depois de muita história chata, mal escrita, e algumas vezes mal desenhada, a fase do Way terminou com uma revelação impactante: não foi culpa de nenhum demônio infernal a transformação de Johnny Blaze no Espírito da Vingança, mas de um anjo, Zadkiel, cujo objetivo é "apenas" tomar o trono do Paraíso para si. É puto e sedento pra cair de pau no anjo que o sacanou que Johnny Blaze termina o arco de Way. E é assim que o encontramos no início da fase escrita por Jason Aaron.

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"Isto aqui não é nada perto do que eu vou te fazer,
Zadkiel, seu filho da putaaaa!!"

Cabe um pequeno parágrafo sobre Aaron. Ele é um escritor que ganhou certo destaque na crítica especializada por suas histórias na série Scalped (Escalpelado), da linha Vertigo, da DC, que em breve será publicada pela Panini no mix mensal da vindoura Vertigo (série que eu aguardo ansiosamente), e pela fase que vem escrevendo da nova série protagonizada por Wolverine, Weapon X (a terceira, ao lado de Wolverine, e Wolverine: Origins). Ainda não conferi nenhuma das duas, mas, é um rapaz que nos próximos anos parece ter algumas chances de crescer como autor de quadrinhos.

A primeira grande sacada de Aaron em Motoqueiro Fantasma foi pegar o filete de premissa largado pelo Way como gancho e expandi-lo. Assim, sem pressa, ele foi acrescentando novas informações referentes à mitologia do personagem. Por exemplo, a explicação de que a moto de Johnny Blaze é movida pelo fogo infernal gerado por tudo que há de ruim no mundo. Ou, mais adiante, quando descobrimos que "Espírito da Vingança" não é um título exclusivo do Motoqueiro, mas de todo um grupo de soldados celestiais comandados por Zadkiel.

É a velha história da eterna guerra entre o Inferno e o Paraíso sendo revisitada, revisada e revitalizada.

Seus diálogos também são inspirados, e seguem o clima da história, brincando com conceitos religiosos, pervertendo-os, tudo em prol de um humor negro requintado que casa bem com a história de um cara muito puto que não tá nem aí pras crenças religiosas relativas à tal guerra, e só quer saber de fazer um anjo sangrar até a morte (se é que isto é possível).

Outro detalhe que chama a atenção são os personagens. Como numa boa história de terror à moda antiga, muitos deles são sacanas, barra-pesada, caricatos e divertidos. E Aaron faz bom uso do exagero na retratação de seus traços de personalidade tornando-os mais interessantes.

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As Enfermeiras Metralha!
Sim, elas têm muitas armas! E, sim, elas sabem usá-las!

Sam Raimi (das trilogias Evil Dead e Homem-Aranha) adoraria as histórias de Aaron, que usam muitos dos conceitos introduzidos pelo diretor ao gênero pelo qual ainda é muito aclamado. Estão lá a escatologia, sangue e mortes por desmembramento em excesso, tudo mostrado de forma exagerada e divertida, através de ótimas cenas de ação desenhadas com competência e desenvoltura por Roland Boschi. Seu estilo apresenta um traço bem solto, quase rascunhado, mas extremamente cinético, furioso, devastador, o que combina perfeitamente com a proposta de Aaron para a série, cuja pretensão é apenas nos oferecer uma HQ de terror cheia de ação e com um elenco de personagens fortes e cheios de atitude.

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Literalmente o Inferno sobre rodas!

O final da penúltima parte do primeiro arco de Aaron, "Forjado no inferno e a caminho do paraíso", é exemplar. Quatro linhas narrativas literalmente em rota de colisão, numa metáfora inteligente criada pelo autor a fim de mostrar que seus planos para Johnny Blaze é envolvê-lo numa corrida frenética que fatalmente o fará chocar-se com forças maiores que ele, só pelo gosto de levar seu título de Espírito da Vingança às últimas conseqüências.

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"Zadkiel! Tá me ouvindo daí de cima, seu merda? Tá vendo isto aqui na minha mão?
Quando eu te encontrar vou enfiar isto no teu cuzinho angelical até sangrar!"

Já o segundo arco do escritor, "Deus não mora no pavilhão D", em que Johnny Blaze se infiltra numa prisão de segurança máxima atrás de uma pista sobre o paradeiro de Zadkiel, é menos empolgante.

Tan Eng Huat, o novo desenhista, até se sai razoavelmente bem, fazendo uso de seu estilo mais rebuscado pra transmitir a sensação de claustrofobia e peso do lugar.

Mas é aquela típica história que se encaixa entre o final de um arco maior e o início de outro. Uma rápida retomada de fôlego antes de partir pra ação novamente. Mas isto não chega a comprometê-la. Em menor escala ainda estão lá as perversões religiosas, desta vez representadas especialmente pela idéia do Paraíso supostamente ser um lugar tão temível quanto o Inferno, a ponto de um padre fazer um pacto com satanistas a fim de ter sua alma tomada pelo último quando morrer, só pra não ter que encarar Zadkiel e suas hostes celestiais revolucionárias.

A melhor cena fica pro final, quando o Motoqueiro espanca o Diácono brutamontes com uma Bíblia! Mais um bom exemplo de quão divertidas as histórias de Aaron são, mesmo que fazendo uso de idéias provocadoras e pervertidas.

O Motoqueiro Fantasma, escrito por Jason Aaron, começou a ser publicado por aqui em Universo Marvel 46.

Na 5ª e última parte desta série comentarei um pouco sobre o Punho de Ferro, de Ed Brubaker e Matt Fraction. See ya!

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